O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, admitiu hoje, em Pedrógão Grande, que houve “picos de congestionamento” nas chamadas mas recusou que o SIRESP tenha falhado nos incêndios de Leiria.
“A rede SIRESP não falhou. Convém sermos muito claros. Houve picos de congestionamento. Significa que naquele período houve mais de meio milhão de chamadas e a média do tempo de espera em relação a esse pico foi de 3,20 segundos. Aquela que demorou mais tempo, pouco passou de um minuto. A rede não falhou, estamos a falar de um congestionamento nas chamadas que foram feitas ao mesmo tempo e chamadas, sobretudo, a demorarem muito tempo e, por isso, bloquearam outras na entrada no sistema”, a explicação foi avançada pelo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro.
O governante socialista falava à margem do 75.º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, salientando que, à semelhança das declarações da secretária de Estado da Proteção Civil, as suas afirmações baseiam-se na “informação que lhe prestaram as autoridades técnicas”, pois são elas “que podem validar as matérias de natureza técnica”.
“O poder político não se pode pronunciar sem o suporte técnico. É com base num suporte técnico que a senhora secretária de Estado se pronunciou e eu próprio me estou a pronunciar”, reforçou.
Confrontado com o facto da informação técnica ser dada por uma das “partes interessada”, José Luís Carneiro referiu que “há um registo de todas as chamadas e há prova desse registo”.
O governante disse ainda que no momento do “congestionamento”, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil tomou a decisão de “mobilizar duas unidades de comunicações móveis, uma que ficou na Freixianda [Ourém] e outra nos Bombeiros de Ansião”, para haver redundância capaz de garantir “que todas as comunicações estavam em sistema de funcionamento”.
“Foram mobilizados os meios para garantir a redundância elétrica, de forma a que se algo pudesse acontecer também estivesse salvaguardada a redundância de funcionamento de energia”, acrescentou.
O ministro adiantou ainda que “por vezes, nem sempre o uso [SIRESP] é feito nos termos em que deve ser”.
Por isso, “deve ainda continuar a ser feita formação aos diferentes utilizadores do SIRESP”.
“A mim ninguém me contou. Estive no teatro de operações em Ansião. Estive a acompanhar comandantes no terreno e várias vezes tentaram a comunicação através do SIRESP e não conseguiram. A forma de reportar os pontos de situação foi via telemóvel”, disse o presidente da Federação dos Bombeiros de Leiria, Rui Rocha.
Segundo relatou, o comandante dos Bombeiros de Alvaiázere “registou na fita do tempo a dificuldade ou a impossibilidade de utilizar esse sistema de comunicações”.
“O que foi dito pela secretária de Estado e pelo senhor ministro não me tranquiliza. Aquilo que esperamos de um sistema como o SIRESP, que é um sistema para estar disponível em prontidão, em emergência e em carga forte, é que funcione em muitas comunicações”, frisou.
Rui Rocha discordou que haja “falta formação” de quem “utiliza o SIRESP”. “Isso é um pouco arrojado”.
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) esclareceu que a rede de comunicações SIRESP teve “constrangimentos pontuais” durante os incêndios em Leiria este mês, que foram “colmatados” rapidamente.
“No período temporal em que ocorreram três incêndios de grande dimensão no distrito de Leiria, foram reportados à ANEPC constrangimentos pontuais na rede SIRESP, motivados por uma sobrecarga da rede devido a uma deficiente utilização da mesma, e não associados a qualquer problema da estrutura da rede”, diz a ANEPC numa informação enviada à Agência Lusa.