Um dos cinco arguidos do processo das guerras dos bairros de Braga, que são potenciadas pelo domínio do território e pela supremacia entre os grupos rivais, Gilberto Martins (“Gil Ranger”), saiu em liberdade, esta quarta-feira, com o termo de identidade e residência, tal como Fábio Lemos, outro suspeito conotado como elemento do “Grupo das Enguardas”.
Os dois arguidos, defendidos pelo advogado João Ferreira Araújo, de Braga, não foram sequer interrogados pelo juiz Pedro Miguel Vieira, que presidiu às buscas, na terça-feira, faltando agora só conhecer as medidas de coação dos outros três arguidos, Samuel Pinto Monteiro (“Samaritano”), Rui Pereira de Carvalho (“Fire”) e Sandro Joel Garcia Pinto, que segundo a Polícia Judiciária de Braga, são dos Grupos das “Enguardas” e do “Picoto”.
O interrogatório destes três arguidos prolongou-se para a noite, não sendo por isso ainda conhecidas as respetivas medidas de coação, relacionadas com os conflito resolvido a tiro entre os rivais “Grupo do Fujacal” versus “Grupo das Enguardas”, este sempre auxiliado pelo “Grupo do Picoto”, de que fará parte, ainda, Samuel Pinto Monteiro (“Samaritano”).
Numa operação auxiliada pela PSP de Braga, inspetores da Brigada de Homicídios da PJ de Braga detiveram, às primeiras horas da manhã de ontem, cinco jovens, residentes nos bairros camarários das Enguardas e do Picoto, alargando-se as buscas e detenções a zonas periféricas, como às Fontainhas e a Montélios, urbanizações também da cidade de Braga.
Em causa estão os ataques a tiro desferidos contra três rivais, estes do “Grupo do Fujacal”, que ficaram feridos, mas depois foram também detidos, encontrando-se todos em prisão preventiva ou em prisão domiciliária, Davide Chilombo Portela, Rilker Richard Almeida e Henrique Lima Marquês, pois são também suspeitos de terem baleado os agora detidos.
Em causa estão sucessivos tiroteios, ao longo dos últimos dez meses, na cidade de Braga, em que algumas divergências relacionadas com negócios ilícitos foram extrapoladas com um “caso de saias”, pois o facto da ex-mulher de um elemento do “Grupo das Enguardas” ter passado a privar já com um membro do “Grupo do Fujacal” acicatou mais os ânimos.
Além dos cinco detidos de terça-feira, com idades entre 31 e 19 anos, a Polícia Judiciária “prossegue com diligências, com vista a identificar todos os intervenientes, nas diferentes situações ocorridas”, segundo refere o comunicado emitido pela Direção Nacional da PJ.
Para o Ministério Público, estas situações têm vindo a ocorrer numa “tentativa de controlo territorial” e de “afirmação da hegemonia” de um grupo em relação ao seu rival, o que se iniciou nas redes sociai, mas rapidamente passou para a rua, com tiros de armas de calibre de guerra, que “só por acaso não terminaram numa tragédia” entre os contendores e ainda transeuntes, inclusivamente crianças, que brincavam na rua, aquando do primeiro ataque.
O primeiro caso foi cometido na noite de 5 de setembro de 2020, quando jovens dentro de um carro, atingiram na Praça dos Arsenalistas, o “coração” do Bairro do Fujacal, três rivais, Henrique Lima Marquês, Ricardo Jorge Queiroz Rodrigues e Nélson Jorge Castro Rocha Macedo, o primeiro com um tiro, já o segundo dois disparos e o terceiro três tiros.
Em 18 de março deste ano, após uma alegada provocação do Grupo do Fujacal no Bairro das Enguardas, elementos deste último, que terão sido ameaçados com armas de fogo, em seguida foram à Rua Garcia da Orta, na freguesia de Nogueira, onde crivaram de projéteis de espingarda caçadeira a residência dos pais e de um dos membros do Grupo do Fujacal.
A última situação verificou-se já na madrugada de 28 para 29 de maio, na zona dos bares académicos de Braga, ferindo um jovem de ascendência africana, Elton Mapiche, que foi baleado numa perna, num braço e na anca, sendo a quarta vítima entre os elementos do “Grupo do Fujacal”, cujas autoridades policiais atribuem a autoria deste ataque, tal como o de 5 de setembro do ano passado, aos dois rivais Grupos, o das Enguardas e o do Picoto.