Freguesia de Viana quer reunião com Câmara e Agência Portuguesa do Ambiente por poluição em ribeiro

São Romão de Neiva
Foto: Ilustrativa / Arquivo

O autarca de São Romão de Neiva, Viana do Castelo, pediu uma reunião ao presidente da Câmara, com a presença da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para resolver através “do diálogo” as constantes descargas poluentes no ribeiro de Radivau.

Em conferência de imprensa, realizada na sede da Junta de Freguesia de São Romão do Neiva, ladeado pelos autarcas de Castelo de Neiva, também no concelho de Viana do Castelo e, de Antas, no concelho de Esposende, distrito de Braga, Manuel Salgueiro disse “numa primeira fase” será dada prioridade à “via do diálogo”, mas garantiu que não estão descartadas formas de luta.

“Se nada for feito, as populações irão ser chamadas a pronunciar-se”, avisou, garantindo que primeiro tem lugar a “via do diálogo”, sendo que as ações de luta ocorrerão “numa situação extrema, se nada for feito”.

As descargas poluentes acontecem, recorrentemente, desde janeiro de 2022 no ribeiro de Radivau, junto à segunda fase da zona industrial do Neiva.

Só esta semana foram detetadas duas descargas ilegais, uma na segunda-feira de “uma massa pastosa azul e branca” e, outra na quarta-feira, “de óleo e gasóleo”.

O ribeiro de Radivau desagua no rio Neiva, que passa por Castelo do Neiva e São Romão do Neiva, em Viana do Castelo, até Antas, no concelho de Esposende, distrito de Braga. No verão, este curso de água é muito frequentado para a prática balnear.

Segundo Manuel Salgueiro, o presidente da Câmara de Viana do Castelo “está solidário com as freguesias e preocupado com o que está a acontecer”.

“A Junta de São Romão do Neiva está a sofrer uma opressão enorme da população. Certamente que os colegas se já não estão, irão sofrer pressão para que se faça alguma coisa. O problema tem de ser resolvido, nem que para isso tenha de se mobilizar os fregueses das três freguesias para fazer um levantamento, numa ação será concertada”, afirmou Manuel Salgueiro.

No encontro com os jornalistas, que ocorreu após uma reunião entre os três autarcas e a Associação Rio Neiva, Manuel Salgueiro, disse que os empresários instalados na segunda fase da zona industrial de Neiva “não podem ser metidos todos no mesmo saco”, mas sublinhou que “há três ou quatro ovelhas negras que estão a prejudicar o parque empresarial” e manifestou-se “apreensivo com a atuação da APA”.

Construída há cerca de 40 anos, a zona industrial de Neiva tem cerca de meia centena de empresas de vários setores de atividade.

“As freguesias não podem continuar a suportar esta poluição. Fico revoltado com o descaramento de algumas pessoas, neste caso alguns empresários, que continuam a poluir. Nós gostamos muito da nossa zona industrial, mas queremos uma zona industrial com qualidade. Essas empresas podem ir embora já amanhã. Não fazem falta absolutamente nenhuma. Os prevaricadores que não pensam que vão ficar impunes. Quando forem descobertos não têm hipóteses. Vão ser coimas bastante elevadas”, garantiu.

Além da “contaminação” dos campos agrícolas na envolvente da zona industrial, em São Romão do Neiva, as descargas poluentes preocupam também o autarca da freguesia vizinha, Castelo de Neiva.

Paulo Torres lembrou que as descargas afetam o rio Neiva e, “consequentemente o mar”.

“Em Castelo de Neiva temos uma praia de Bandeira Azul e não queremos perder a bandeira por causa de descargas ilegais. Temos algumas situações com descargas de Estações de Tratamento de Águas residuais (ETAR) e de estações elevatórias que por vezes sofrem uma avaria. Estamos preocupados com essas mas não conseguimos ter mais este problema, que há primeira vista, parecem ser produtos químicos”.

O autarca destacou que o rio Neiva é “exemplar” e que em alguns locais “a fauna e flora estão intocáveis”.

“Temos lontras. A sua existência pode atestar o grau de pureza das águas do rio Neiva. Queremos manter isto e não vamos compactuar com estas situações. Por isso não vamos deixar o colega [são Romão do Neiva] a lutar sozinho”, frisou Paulo Torres.

O autarca de Antas, José Viana, expressou a mesma “solidariedade” e garantiu que as autarquias não podem deixar que “os prevaricadores estraguem um rio lindíssimo”.

“Na década de 80 do século passado passamos por uma situação de mobilização das populações para irem destruir uma conduta que estava a ser construída na segunda fase da zona industrial. Não era nada bom que voltássemos a ter essa ação”, alertou José Viana.

Contactada pela Lusa, na segunda feira, após a primeira descarga poluente, fonte do município de Viana do Castelo respondeu: “a vereadora do ambiente informa que os serviços estão já a acompanhar a situação para verificar a origem da descarga, num trabalho conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e com o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR”.

Em dezembro de 2022, a APA informou que os “problemas de poluição” no ribeiro de Radivau “resultam de ligações indevidas à rede de águas pluviais, no troço em que a mesma se encontra entubada”.

Na ocasião, em resposta escrita a um pedido de esclarecimentos enviado pela Lusa, a APA adiantou que, pelo facto de as descargas ocorrerem no troço da rede de águas pluviais que está entubada, é “difícil identificar a origem de todas as descargas”.

Sobre a descarga de segunda-feira, a agência Lusa contactou também a APA e aguarda resposta aos esclarecimentos pedidos.

 
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