Começaram a organizar festas para amigos e agora animam a noite de milhares em Barcelos

Fotos cedidas a O MINHO

Tudo começou com festas em casa de amigos, sem publicidade e só para gente conhecida. Para assinalar o 11.º aniversário da We Love Party, juntaram 3.500 pessoas numa festa com um popular cantor brasileiro no espaço de uma antiga fábrica, em Barcelos. Na última edição do Festival de Juventude, juntaram 30 mil pessoas na frente ribeirinha da cidade e, desde 2022, reativaram a mítica discoteca Vaticano. Esta é uma história de sucesso liderada por Tiago Vilela e João Moreira que é construída passo a passo. Ou festa a festa.

Ser presidente da associação de estudantes da Escola Secundária Alcaides de Faria abriu uma nova janela para Tiago Vilela. “Havia muita gente que gostava de festas e queria que nós organizássemos coisas”, lembra. Começou em pequena escala com festas “mais privadas, em casas de colegas”.

Os primeiros eventos juntaram 200 a 300 pessoas, sem publicidade, só no “passa palavra. “Era muito o amigo do amigo, só gente conhecida”, descreve.

Depois, como era presidente da associação de estudantes, tiveram a iniciativa de organizar um festa pré-viagem de finalistas, que se tornou uma tradição até hoje.

3.500 pessoas numa antiga fábrica

De “uma brincadeira”, passou a “algo mais profissional”, já que a última festa que promoveram por altura da viagem de finalistas contou com 3.500 pessoas. Reuniu o artista funk brasileiro MC Livinho com DJs locais numa antiga fábrica de papel e o resultado foi explosivo.

Só tinham “quatro paredes” naquele espaço industrial desativado, na freguesia de Barcelinhos. Obrigou a um “investimento altíssimo”, já que o armazém teve de ser todo equipado de raiz. “Foi uma loucura”, conta Tiago Vilela a O MINHO.

O organizador considera que foi um “sucesso”, mas que não foi “nada fácil”. As maiores dificuldades que surgiram nos últimos anos estão relacionadas as “exigências” dos artistas brasileiros, bastante populares e com exigências que obrigam a uma pesada logística.

“Enquanto um português não se importa de ficar num hotel de três estrelas, estes artistas já não. Tem de ser quatro estrelas, superior, com spa. Depois dizem-me que são 12 viagens, mas duas delas em executiva. Têm de ser duas carrinhas, o artista anda sozinho numa carrinha e a banda anda noutra. No dia, pedem comida especial, espelho, vestuário. Pedem efeitos e só nisso são mais 1.000 euros, por exemplo. Se não fizermos isto, podem mesmo não atuar, fazem birras, então tem de ser mesmo tudo direitinho como eles querem, sem facilitar em nada”, explica o empresário, que já promoveu espetáculos de vários artistas de nacionalidade brasileira entre o funk e o trap.

A “crise” continua

Atuar entre os artistas nacionais já mais simples, “facilitam mais”, porque conhecem a realidade, como “isto anda”. “O mercado não está fácil, tanto para produtores, como para os artistas e clientes. Há um bocado de crise”, nota. Os preços aumentaram e a “diversão” ficou “mais para plano secundário”.

“As pessoas saem, mas saem muito menos. Por isso, mais vale fazer menos noites, mas estratégicas. Muito menos, mas com qualidade, porque essas noites são caras, os artistas são caros e os preços de entrada têm de ser mais caros. Há uns anos, as pessoas saíam muito facilmente todos os fins de semana e os preços eram mais baratos”, diz Tiago Vilela.

Agora, o público tem de “fazer uma seleção”, por isso só avançam para noites em “grande e com qualidade”.

É por isso que, na discoteca Vaticano, apenas fazem festas uma vez por mês. “Mais vale fazer poucas, mas boas”, refere. E sempre que abrem as portas da mítica discoteca barcelense têm uma média de 1.500 pessoas por noite.

Vaticano? “Falou-se que tinha sido vendido aos chineses”, mas não

A Vaticano, que chegou a ser um dos principais clubs nacionais, fechou portas em janeiro de 2020. Muito se especulou sobre o futuro daquele espaço carismático da noite inaugurado em 1999 junto ao Parque da Cidade.

Foi um “local de culto”, muito conhecido entre os notívagos da região Norte, nomeadamente pela presença de grandes DJs nacionais e internacionais – como, por exemplo, DJ Vibe.

“Falou-se que tinha sido vendido aos chineses, que tinha fechado por causa dos vizinhos. Quando falamos com o senhorio, não foi nada disso”, conta. Afinal, existia uma dívida de seis meses em rendas e, por isso, o antigo inquilino teve de abandonar. “Nós falamos com o senhorio e ele disse que estava aberto, desde que respeitássemos tudo, porque ele não quer problemas com os vizinhos e nós também não”, acrescenta.

Foi assim que, em outubro de 2022, após vários confinamentos, o Vaticano reabriu. Agora, com atenções redobradas para garantir o bem-estar da vizinhança, já que, durante anos, o ruído no exterior do espaço e o lixo foram as principais críticas dos moradores.

“Queixas mais frequentes eram do lixo e ruído do pessoal cá fora a beber. Da discoteca não sai ruído nenhum. Tentamos sensibilizar os clientes para que não façam isso, porque se querem ser respeitados, também têm de respeitar as pessoas que moram ali. Se toda a gente se der bem, corre tudo bem”, nota.

Mesmo assim, a organização promove um ronda pela zona ao final da noite para fazer uma “limpeza geral”. “Era muito mau os vizinhos estarem a sair de manhã com as crianças e terem lá garrafas partidas. É o mínimo e as pessoas já se sentem mais confortáveis. Temos falado com os moradores e eles agradecem o gesto. Não somos obrigados, mas é preciso ter civismo”, refere.

De acordo com o empresário, deixaram de existir queixas e o Vaticano voltou a receber eventos, apesar de já não ser apenas uma discoteca, mas sim um espaço de eventos, que pode albergar jantares e espetáculos de vários estilos.

“Se na nossa cidade temos público, porque deixamos sair as pessoas?”

Foi também após a pandemia que a empresa liderada por Tiago Vilela e João Moreira abrir uma solução de verão. Há dois anos, abriu o Instant Open Air, junto ao cemitério de Barcelinhos. Mas que foi relocalizado, no ano passado, para a antiga fábrica de papel, no lugar de Medros, na mesma freguesia, devido à construção de uns novos prédios da DST na zona.

“É uma zona ainda mais longe de vizinhos, podemos fazer barulho mais à vontade”, explica.

Abrir uma opção de verão foi a resposta a uma necessidade do concelho. “Trabalhei muitos anos em Ofir, tanto no Biba Ofir como no Pacha, o pessoal ia todo para lá. Se na nossa cidade temos público, porque deixamos sair as pessoas? A noite mexe com muita coisa, com hotéis, cafés, restaurantes e se tivermos a nossa cidade com isso tudo a trabalhar é muito melhor. As pessoas consomem aqui e não têm de ir para outras cidades”, diz.

Mas também são atraídos para os eventos da We Love Party muitos jovens de todo o Minho e arredores – Viana do Castelo, Valença, Braga, Esposende, Póvoa de Varzim ou Trofa. Um fenómeno que é fomentado pelos caminhos de ferro. Segundo o organizador, “muitos deles vêm de comboio, o que facilita”.

Maior viagem de finalistas do país

Após a festa do 11.º aniversário, em 30 de março, com MC Livinho, seguiu-se a maior de viagem de finalistas do país. A We Love Party, juntamente com outras duas promotoras, reuniram 11 mil finalistas em Punta Umbría, em Huelva, sul de Espanha. Uma viagem “muito grande”, que envolve “uma grande estrutura”, que envolve Cruz Vermelha, coordenadores, polícia espanhola e autarquia local.

“Viagem de finalistas não é fácil, muitos dos jovens saem de casa pela primeira vez, juntam-se com os amigos e não é nada fácil controlá-los. Por isso é que temos uma estrutura muito grande, mas também já são muitos anos e conseguimos antecipar o que vão fazer. Muitos deles nunca beberam um bocado de álcool e conseguimos antecipar. Foi um sucesso, não houve nenhum imprevisto”, conta Tiago Vilela, de 32 anos.

Agora, os dois empresários já apontam baterias para o verão. Se o Instant Open Air será aposta, o Festival da Juventude é um desejo. A We Love Party organizou o evento nos últimos dois anos, em parceria com a Casa da Juventude de Barcelos, mas a decisão do concurso público ainda não é conhecida para este ano. Em 2024, a Frente Ribeirinha de Barcelos recebeu mais de 30 mil jovens num dia, com várias atividades e concertos de Dillaz, Bispo ou Força Suprema.

Foto:DR

Tiago Vilela, também conhecido como “Mega”, lembra o festival “Good Waves” que organizou no mesmo local, em 2013. “Não foi um grande sucesso, mas tentou-se”, conta. Uma década depois desse festival que contou com nomes fortes como Richie Campbell ou Dealema, o sucesso chegou com o Festival da Juventude.

“Se o setor da têxtil estiver em crise vai afetar o setor da noite”

Os planos para o futuro são feitos “um dia de cada vez”, apesar de sonharem com “palcos maiores”. “Depois da Covid-19, temos de viver um dia de cada vez, não pensar no ano a seguir, porque nunca se sabe. Antes, fazíamos planos para dois ou três anos, mas não dá. Tem de se ir ano a ano, tendo sucesso ano após ano”, alerta.

Vilela sabe que a noite não vive numa bolha, reconhece que o sucesso depende de um clima favorável. “Se o setor da têxtil estiver em crise vai afetar o setor da noite, os restaurantes, cafés. Então, é importante que os setores estejam todos bons”, conclui. E atira: “Se as pessoas ficarem cá [em Barcelos], ganhamos todos”.

Total
0
Partilhas
Artigo Anterior

União Europeia esgota hoje recursos de 2024

Próximo Artigo

Diretor da PJ diz que detenção de menor associado a ataques no Brasil evitou outros crimes

Artigos Relacionados
x