A festa do traje, uma “lição de história” sobre “as tradições ligadas ao traje à Vianesa”, vai comemorar, no domingo, 100 anos desde a criação, em 1919, então com a designação de Certame Regional de Danças e Descantes Populares.
Em declarações à agência Lusa, Gil Viana, da comissão executiva da Romaria D’Agonia, explicou hoje que o evento sofreu “alguns interregnos e teve diversas designações”, mas, a partir de 1943, passou a ser denominada como Festa do Traje e a integrar o programa da romaria.
A Festa do Traje vai decorrer a partir das 22:00, no centro cultural da cidade.
A edição 2019 da Festa do Traje, dedicada à etnografia e ao folclore, vai “percorrer os 100 anos de história do evento, assente no bem trajar e ourar das gentes do concelho”.
“Vamos recordar, com pequenos apontamentos, os prémios que, no início, ofereciam às mulheres das aldeias para as convencer a participar. Ofereciam umas peças em ouro”, disse Gil Viana, adiantando que será ainda abordada a “componente distrital” que a festa assumiu, apresentando um traje de Castro Laboreiro, no concelho de Melgaço, e da Serra do Soajo, que abrande os concelhos de Arcos de Valdevez, Melgaço e Monção.
Em 1919, o jornal local Aurora do Lima dava conta da participação naquele número “de gentes das freguesias de Areosa, Santa Marta e Ponte de Lima”, embora, “de acordo com Abel Viana, um dos impulsionadores do evento, também entraram grupos de gentes das freguesias da Meadela, Perre e Carreço”.
O programa inclui uma homenagem a Francisco Sampaio, antigo presidente da Região de Turismo do Alto Minho, professor, etnógrafo e impulsionador das tradições, costumes e gastronomia da região.
“Os nossos registos indicam que o primeiro guião da Festa do Traje feito por Francisco Sampaio data de 1984 e o último de 2014. São três décadas a assumir por completo a Festa do Traje”, destacou.
Francisco Sampaio, que em junho completou 82 anos, foi presidente da comissão de festas d’Agonia durante vários anos e exerceu, entre outras funções, a de técnico superior do Centro de Saúde Mental de Viana do Castelo, professor do Instituto Politécnico de Viana do Castelo e presidente da Comissão Regional de Turismo do Alto-Minho, desde 1980 até se reformar, tendo sido ainda fundador da Confraria dos Gastrónomos do Minho.
É autor de dezenas de títulos sobre temas de caráter histórico, arqueológico, turístico, etnográfico e gastronómico, tendo sido também colaborador de várias publicações do Alto Minho.
Francisco Sampaio é apontado, ainda, como um dos maiores conhecedores das tradições da Romaria d’Agonia, tendo até redigido a Declaração de Interesse para o Turismo da Romaria d’Agonia, entretanto aprovada.
No livro “Romaria d’Agonia”, publicado pela VianaFestas, a Festa do Traje é designada como “um espaço onde são vividas e explicadas as mais importantes tradições ligadas ao traje à Vianesa”.
“Junta a beleza e a riqueza de todos os detalhes do traje típico de Viana do Castelo ao rigor de uma cuidadosa explicação pelos maiores conhecedores do assunto. As tradições das freguesias são representadas e comentadas durante todo o espetáculo até ao mais delicado pormenor. É interpretada a arte de bem trajar e ourar pela autêntica moça de Viana, com destaque para a filigrana”, lê-se na publicação editada em 2016.
Segundo aquele livro, “o traje em linho, com várias cores características e formas, é um símbolo da região que a mulher de Viana envergou até aos finais do século XIX, consoante a ocasião, momento da vida e o seu estatuto”, sendo que “o uso do ouro manifestava a riqueza da família, mas sobretudo o orgulho da mulher”.