Neste Artigo
- Fogo veio de Guimarães
- Empresa e oficina destruídas
- Ordem religiosa evacuada
- Plano Municipal de Emergência
- Redes sociais responsáveis
- Presidente da República solidário
- O que foi feito para evitar nova tragédia?
- Margens de 10 metros no cursos de água
- Alguns proprietários não querem a limpeza
- Reforço de vigilância com meios municipais e contratação de serviços
- Sapadores gerem floresta todo o ano
- Exército na vigilância
- Incêndios atingiram todo o Minho
Como disse o vice-presidente da Câmara de Braga na altura, foi “um dia mau de mais para ser verdade”. 15 de outubro ficará para sempre na memória de todos os bracarenses devido ao grande incêndio que atingiu quase toda a vasta área florestal dos sacromontes, desde o Bom Jesus ao Sameiro, passando pela Falperra, as chamas andaram um pouco por todo o lado e provocaram momentos de pânico que começaram ao início da noite do dia 15 e só terminaram durante a madrugada de 16, com um total de 850 hectares ardidos só no concelho de Braga.
Aliás, as condições favoráveis à ocorrência de incêndios eram bem notadas desde o início do dia 15, levando a que a na altura adjunta da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) afirmasse que aquele dia “foi o pior dia do ano em matéria de incêndios”, tendo sido ultrapassados os 300 fogos florestais. E Patrícia Gaspar disse isso às 17:30, num ‘briefing’ aos jornalistas, quando ainda não tinham começado os grandes incêndios de Braga. Segundo a Proteção Civil, só no distrito de Braga ocorreram 38 incêndios no dia 15 de outubro de 2017.
Fogo veio de Guimarães
Depois de uma tarde atarefada a combater um grande incêndio na Serra da Carvalha, entre Braga e Póvoa de Lanhoso, várias corporações do distrito foram mobilizadas, ao final da tarde, para um incêndio que se aproximava das matas dos sacromontes, proveniente das encostas do lado de Guimarães. Quando os bombeiros chegaram e perceberam a intensidade das chamas, logo perceberam que iam ser várias horas de trabalho muito difícil pela frente.
Pouco antes das 23:00 horas, o vereador com o pelouro da Proteção Civil em Braga afirmou que existiam motivos para preocupação, e que duas estradas municipais que servem o Santuário do Sameiro estavam já cortadas ao trânsito. Estavam também a ser dadas instruções aos moradores para se afastarem daquela zona e se deslocarem para os centros urbanos.
“Está a ser um dia terrível e há, de facto, muitas habitações polarizadas pelos locais onde o incêndio se está a propagar, mas temos meios de proteção às habitações instalados nos locais mais problemáticos”, afirmou na altura Firmino Marques.
A ‘luta’ dos bombeiros prolongou-se durante toda a noite e madrugada, com a dificuldade acrescida de, em simultâneo, existirem outros grandes incêndios na região do Minho, como em Vila Verde e Monção, o que dificultava o reforço de mais meios.
Empresa e oficina destruídas
Apesar de não existirem feridos, houve estruturas danificadas, como foi o caso de uma empresa de acabamento de metais, com 17 funcionários, e uma oficina mecânica que tinha lá dentro oito viaturas para reparação. Ambas as empresas ficaram destruídas, assim como o material que lá dentro se encontrava. Também uma casa em Fraião, onde residiam pai e filho, ficou totalmente destruída pelas chamas, com estes a serem realojados pela Proteção Civil de Braga.
Ordem religiosa evacuada
Já a ordem religiosa do Projeto Homem, com cerca de 50 utentes, teve de ser evacuada, bem como uma unidade hoteleira no acesso à Falperra. Foram consideradas “evacuações cautelares”. Também se chegou a equacionar a hipótese de evacuar um hospital privado, mas tal não foi necessário.
Plano Municipal de Emergência
A Câmara ativou o Plano Municipal de Emergência devido ao prolongamento, por mais algum tempo, de “condições favoráveis à ocorrência de incêndios florestais”, mas também por causa da perspetiva de enxurradas após anunciadas chuvas.
Redes sociais responsáveis
Nas redes sociais, foi criado um sistema que permitia aos utilizadores assinalarem-se como estando em segurança, contribuindo também com bens que fossem necessários, sobretudo água para os bombeiros.
“Durante a noite houve recolha e distribuição de alimentos e de água, organizada de forma voluntária pela própria população. Isto demonstra o caráter solidário dos bracarenses, a sua postura humanista”, disse na altura Firmino Marques, que tinha o pelouro da Proteção Civil.
Cerca das 23:00 horas, o então Arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, recorreu à rede social Twitter para exigir responsabilidades e criticar os “discursos e boas intenções”. “Portugal está a arder”, escreveu.
Presidente da República solidário
Pouco depois da meia-noite, o Presidente da República, manifestou “solidariedade” às populações e aos autarcas dos concelhos afetados pelos incêndios .
“O Presidente da República manifesta a sua solidariedade às populações e aos autarcas por todo o continente, agradece o seu sacrifício, bem como dos Bombeiros e demais estruturas da Proteção Civil no combate aos fogos e exprime o seu profundo pesar aos familiares das vítimas”, podia ler-se numa mensagem publicada no ‘site’ oficial da Presidência da República, com o título “Presidente da República acompanha evolução dos incêndios”.
Também por volta da meia-noite, a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) ativou a linha telefónica 800 246 246 para responder aos pedidos de informação das populações sobre as operações de socorro dos incêndios que lavram em todo o país.
Às primeiras horas da manhã, já com o incêndio em rescaldo, foi possível perceber o rasto de destruição causado ao maior pulmão da cidade de Braga.
O que foi feito para evitar nova tragédia?
Por altura do quinto aniversário desta efeméride, em 2022, O MINHO foi saber, junto de Altino Bessa, o que foi feito para tentar evitar que nova situação se repita e, sempre o mais importante, o que falta fazer. O vereador não mostra qualquer dificuldade em recordar os passos dados, lembrando que, logo após o incêndio, Braga “foi o primeiro município a apresentar na Agência Portuguesa do Ambiente um pedido de financiamento de 200 mil euros em fundo ambiental e mais 130 mil euros para estabilização de linhas de água e limpeza de aquedutos afetados com os incêndios”.
Temia-se a chegada das chuvas e o desenvolvimento de possíveis ‘enxurradas’ potenciadas por obstáculos caídos nos pequenos ribeiros e riachos. Desbloquear as linhas foi necessariamente prioridade, uma vez que o calendário apontava o meio de outubro e o inverno já se mostrava, com a tempestade Ofélia a passar pelo Atlântico rumo às ilhas britânicas.
A candidatura, elucida Altino Bessa, foi aprovada, e para além da desobstrução, foi feita uma intervenção ao longo de 18 quilómetros nas linhas de água, “com a plantação de cerca 30 mil árvores nativas, adequadas ao terreno, para servirem como efeito tampão para futuros incêndios”.
Margens de 10 metros no cursos de água
O vereador explica que foi criada uma margem “de 10 metros para cada lado” dos cursos de água, onde toda a vegetação que tinha ardido foi limpa. “Ou seja, agora temos 18 quilómetros de linha de água com árvores mais resilientes ao fogo”, precisa.
No entanto, diz o vereador, “era preciso que houvesse manutenção”, até porque “na altura, o custo da intervenção foi de 330 mil euros”, um preço alto. E relembra que os terrenos são privados [ver aqui] e que seria necessário um edital para que se pudesse voltar a realizar uma intervenção semelhante, afirmando que a Câmara fez “diligências” junto do executivo de António Costa para que haja manutenção, mas tem que ser “o Governo a disponibilizar a verba”.
Alguns proprietários não querem a limpeza
Apesar do sucesso da intervenção que se seguiu aos incêndios, Bessa relembra que alguns proprietários não estavam favoráveis, e causaram alguns problemas: “Foi uma boa operação, mas para manter limpos esses 10 metros para cada lado, é preciso financiamento, porque não são as Câmaras que têm de arcar com isto, são terrenos privados e estamos a falar da necessidade de incluir instrumentos legais, como houve na altura, porque até tivemos um ou outro problema com proprietários que contestaram a intervenção, e só com a prova do edital é que os conseguimos convencer”.
Reforço de vigilância com meios municipais e contratação de serviços
Outra das medidas implementadas pela Câmara de Braga na sequência do devastador incêndio de 2017 passa pela inclusão de duas moto-quatro para integrar o dispositivo de vigilância na floresta durante os dias de alerta. Atualmente, estão ao serviço dos Bombeiros Sapadores. A vigilância ‘interna’ integra ainda duas carrinhas da Proteção Civil municipal.
Sapadores gerem floresta todo o ano
A nível externo, a Câmara contrata os serviços da Associação Florestal do Cávado para fazer a gestão da floresta contra incêndios, ao longo de todo o ano. “Custam-nos 100 mil por ano, 50 mil cada uma, e não havia nenhuma equipa quando aqui chegamos [em 2013 a coligação PSD/CDS assumiu a Câmara]”, salientou. A autarquia financia ainda duas equipas permanentes (EIP) nos Bombeiros Voluntários de Braga, com 70 mil euros por ano, “e até já tem pedido para uma terceira”. Estes também fazem vigilância durante todo o ano.
Exército na vigilância
Há ainda uma parceria com o Regimento de Cavalaria N.º 6, de Braga, para fazer vigilância na floresta durante o verão, “mas até essa parceria é paga”, lamenta o vereador, considerando que por se tratar do Exército português deveria prestar o serviço gratuitamente. Para alem dos demais, “também a Polícia Municipal colabora através de ações de vigilância”, sublinha, bem como “a PSP e a GNR”, com esta última a ter a gestão de postos fixos, como o situado na Santa Marta das Cortiças.
Incêndios atingiram todo o Minho
Na mesma noite, um pouco por todo o Minho, também ocorreram vários incêndios, à semelhança do país. Em Monção, também se viveram momentos de pânico, com fogo descontrolado e risco permanente para as habitações. Pelo menos onze freguesias foram afetadas pelo fogo e um lar de idosos em Merufe foi evacuado durante a madrugada.