Faz hoje 22 anos que a montanha matou em Arcos de Valdevez

Tragédia de Frades tirou a vida a quatro pessoas e destruiu cinco casas

Foi a 07 de dezembro do ano de 2000 que a pitoresca aldeia de Frades, em Arcos de Valdevez, viveu uma das maiores tragédias em solo minhoto das últimas décadas. Uma tromba d´água provocou deslizamento de terra, lama e pedras, levando cinco casas e quatro pessoas pelo caminho, que não sobreviveram.

Relatos de então apontam para um ‘inferno’ na terra. Helena Barbosa, moradora de Frades, estava na horta, num dia chuvoso que parecia normal. Mas não foi. No alto da encosta de Frades, onde se situa o imponente penedo Beiro, uma rocha suspensa no alto da montanha que assustava populares com medo que o mesmo caísse.

Lugar de Frades, em Arcos de Valdevez. Foto: DR

No entanto, não foi o penedo. A forte chuvada que se abateu sobre o Minho conjugada com a falta de condições geomorfológicas do solo, levou ao desastre. Uma autêntica ‘onda do mar’, só que de lama, terra e pedras, contou a moradora ao jornal Público.

Explica que a tromba de lama descia vertiginosamente aquela encosta, com um declive de 34º, e fazia ondas com vários metros caso embatesse em algo, como o fez em cinco habitações daquele povoado.

Então, foram muitas as teorias sobre o que poderia ter acontecido. O penedo gigante não foi, pois encontrava-se no mesmo sítio. Também não tinha sido um ‘tremor de terra’, pois os sismógrafos nada detetaram. Também não foi “uma mina” que rebentou, como diziam alguns habitantes, citados pelo jornal Notícias dos Arcos.

Foto: DR

Carlos Bateiras, professor do Instituto de Geografia da Faculdade de Letras do Porto, explicou então que se tratava de um deslizamento com fluxo de detritos face à chuva intensa e prolongada que permitiu a acumulação de água entre rocha e a terra, levando ao faturamento dos solos.

No local onde iniciou o deslizamento, a proteção civil encontrou uma cratera com 15 metros de largura e cinco de altura, gerando um canal pela encosta abaixo. Tudo provocado por causas naturais. E poderia ter sido pior, uma vez que a tromba de lama embateu num esporão rochoso, que acabou por desviar o percurso que seguia a caminho de toda a aldeia.

A 20 de dezembro de 2019, o mau tempo voltou a preocupar naquela aldeia, levando à evacuação das casas por temer-se novo deslizamento de terras, algo que acabou por não suceder.

28 pessoas evacuadas em Arcos de Valdevez face ao perigo de deslizamento de terras

Não foi a primeira vez que um fenómeno destes ocorreu no Minho. Também em dezembro, mas no dia 27 do ano de 1981, um deslizamento semelhante provocou a morte de 15 pessoas na freguesia de Cavez, em Cabeceiras de Basto. Nesse caso, as rochas acabaram por encaminhar e facilitar o deslizamento, provocando um dano muito mais amplo do que em Arcos de Valdevez.

Recuando quase dois séculos, em 1841, situação semelhante ocorreu em Melgaço, a 17 de novembro, na freguesia de Fiães. Na altura, morreram 14 pessoas, 15 casas ficaram destruídas, assim como seis pontes, cinco moinhos e terras de lavradia que nunca mais voltaram a dar pão. Desapareceram mais de 200 cabeças de gado. A própria aldeia, situada no lugar de S. João, nunca foi reconstruída.

 
Total
0
Partilhas
Artigos Relacionados
x