De volta aos grandes palcos em formato de competição. João Silva, violinista profissional natural de Freixo, Ponte de Lima, é um dos semi-finalistas do Seifert Competition, o mais importante concurso mundial para violinistas de jazz, que iniciou esta quarta-feira com a primeira meia-final, na Polónia.
Terceiro a subir ao palco na quinta-feira, o limiano toca por volta das 19:00, com transmissão em ‘live streaming’ – direto no YouTube (pode ver aqui). Se passar, volta a atuar na sexta-feira, na final. Para além do prémio do júri, os concorrentes vão ser laureados pelo público, que irá votar através da internet (pode votar antecipadamente aqui).
Em 2020, João Silva tinha sido o primeiro português a atingir as semi-finais deste conceituado concurso, que conta com dezenas de participantes de todo o mundo e almeja distinguir o melhor violinista de jazz. Este ano, espera passar à final, mas o foco está sempre na música.
“Claro que seria maravilhoso levar um prémio para casa, mas o meu foco principal é fazer música, divertir-me e aprender”, sublinhou, em declarações a O MINHO, lembrando que o motivo que o leva àquele palco “e a qualquer palco” é a música: “E isso é o que eu quero fazer, música”.
“Espero poder passar à final, mas chegar até aqui, para mim, já é uma alegria e uma honra enorme, estar aqui na Polónia a partilhar música e grandes momentos com estes artistas incríveis é algo fantástico”, elogiou.
Na meia-final, João Silva interpreta duas composições da própria autoria e, uma outra, obrigatória, por se tratar da autoria do homenageado do prémio, o violinista Zbigniew Seifert.
A O MINHO, João adianta que a primeira composição intitula-se “Kiev”, uma obra dedicada à cidade de Kiev na Ucrânia, onde tocou duas vezes há sete anos.
A segunda intitula-se “Mate”, uma composição escrita em parceria com o pianista argentino Mariano Camarasa integrante no terceiro álbum em conjunto da dupla.
Por fim, “City of Spring” será a obra de Zbigniew Seifert a subir ao palco graça ao violino e ao arco de João Silva.
A viver em Barcelona há 10 anos, onde integra vários projetos relacionados com diferentes estilos, o músico de 31 anos decidiu participar pela primeira vez neste concurso quando a covid-19 interrompeu os concertos que dava no Palácio Del Flamenco, na Praça de Catalunha, um dos locais turísticos mais visitados na Europa, em 2020.O conceituado concurso conta com nomeados de todo o mundo, selecionados através de um júri internacional, e almeja distinguir o melhor violinista de jazz.
João Silva disputará o acesso ao ‘violino de ouro’ com Serge Hirsch (França), Benjamin Sutin (EUA), Wojciech Barteczek (Polónia), Kacper Malisz (Polónia), Guilherme Pimenta (Brasil), Eduardo Bortolotti (Mexico/Polónia), Amalia Obrębowska (Polónia), Lucy Southern (EUA) e Gabriel Vieira (Brasil).
Venceu o maior concurso europeu de World Music
Em maio de 2021, João Silva conquistou o Prémio Andrea Parodi, considerado o maior concurso europeu de World Music (músicas do mundo), com a música “Tempo”, cantada em português pela italiana Margherita Abita, com quem formava, então, o duo inspirado no Jazz e na World Music, “Still Life”
Sem qualquer expectativa que a música interpretada como solo vocal e violino chegasse sequer a ser selecionada para a final daquele que é o prémio de World Music com maior adesão a nível europeu, por entre 350 projetos a concurso, ainda maior foi a surpresa quando a dupla percebeu que tinha conquistado não só o principal prémio – o de melhor música – como outros três distintos.
Por se tratar de uma competição que reúne músicos de vários pontos da Europa, muito ligado a festivais de música, foi destaque na imprensa de vários países, como França, Itália, República Checa, Suíça e Polónia.
A dupla recebeu, graças a essa vitória, 2.500 euros de bolsa de estudo, 10 mil para investir em agenciamento, e teve participação garantida nos principais festivais de World Music e Jazz em Itália, assim como divulgação nos órgãos de comunicação da especialidade.
Porquê o jazz?
Em Portugal, começou no Racho Infantil e Juvenil de Freixo, passou pela Escola Profissional de Música em Viana do Castelo, onde explorou uma vertente mais clássica da música com o violino. Estudou três anos no Hot Club de Portugal, em Lisboa, onde desenvolveu a paixão pelo jazz e pelo improviso.
João recordou a O MINHO que já ouvia jazz em Ponte de Lima, mas não de uma forma aprofundada: “Quando acabei de estudar em Viana fui para Lisboa estudar ‘clássicas’ quando tive contacto com músicos de jazz, comecei a ver que o improviso era uma forma de composição instantânea e percebi que era o caminho para poder tocar a minha música e expressar-me de uma forma mais livre”.
Atualmente toca em clubes de jazz, bares musicais, mas a maior parte dos concertos são dados em salas, clubes e festivais. Viaja também pela Europa em digressão pelos maiores festivais de jazz e grava em estúdio.
No final do concurso na Polónia regressará a Portugal, onde se irá estabelecer em Lisboa, continuando, no entanto, a viajar pela Europa e a marcar presença em Barcelona.
Encher praças por essa Europa fora
Ao longo do mês de julho, João Silva esteve em digressão pela Europa com diferentes projetos, arrebatando o público durante concertos como o de Estugarda, na Alemanha durante o Forum Der Kulturen.
Nesse palco, o intérprete português acompanhou a cantora Nihan Devecioğlu, uma das grandes atrações do evento que conjuga música tradicional turca com influências ocidentais, como é o caso do free jazz.
No dia anterior tinha voltado a brilhar, também em Estugarda, durante o Jazz Open, desta vez a acompanhar a banda e cordas da cantora brasileira com ascendência germânica Bê Ignacio.
Uns dias antes, a acompanhar a mesma banda, voltou a encher um recinto em Allensbach, Alemanha, no festival Kultur am SEE.
A digressão teve início ainda no final de junho, com um concerto no Story, em Barcelona (Espanha), cidade bem familiar para João Silva, pois já lá atuou diversas vezes. Na primeira quinzena de julho foi a vez da Alemanha, com concertos em Allensbach, Friburgo e Estugarda, esta em dose dupla. No dia 23 regressou ao berço, em Ponte de Lima, com concerto no Festival Percursos de Música em pleno centro histórico.
A digressão concluiu-se no mês de agosto, primeiro com concertos em Tui, Area e Saragoça, em Espanha, e em Salento, na Itália.