Uma utente do lar Asilo de São José, em Braga, morreu, esta quarta-feira, infetada com o novo coronavírus, que causa a Covid-19, disseram a O MINHO fontes hospitalar, do lar e da família. De acordo com as informações conhecidas, este é o terceiro utente de um lar de Braga que morre face à nova doença, depois de dois óbitos no lar Resisénior.
Hannelor Fischer Cruz, 78 anos, professora de origem austríaca bastante conhecida na sociedade civil de Braga, não resistiu aos sintomas provocados pela infeção, acabando por morrer no Hospital de Braga durante a madrugada desta quarta-feira.
A docente de música terá começado a sentir os primeiros sintomas na passada segunda-feira da outra semana, mas apenas no sábado foi transportada para a urgência hospitalar, por suspeitas do novo vírus.
Miguel Fischer Cruz, neto da falecida, mostra-se revoltado pela demora nos serviços daquela instituição para idosos em chamar os serviços do INEM, uma vez que, segundo diz, esta apresentava sintomas e queixas desde há três dias, antes de ser internada.
Já havia um utente infetado, mas lar diz que contraiu no hospital
Recorde-se que há um utente daquele lar internado no Hospital de Braga há mais de uma semana, por, alegadamente, ter contraído a infeção fora da instituição, ou pelo menos assim asseguram os responsáveis, apontando até que o vírus deverá ter sido contraído durante os tratamentos de hemodiálise realizados no hospital bracarense.
A O MINHO, o familiar admite que não se sabe se o óbito ocorreria na mesma, caso a avó fosse transportada logo na quinta-feira, mas acusa o lar de “negligência” por ter ignorado os alertas da utente e do próprio neto.
“Ela começou a dizer-me que se sentia mal no passado dia 16 e eu contactei os serviços médicos do lar, mas disseram-me que não havia motivo para alarme e que todos os idosos estavam em isolamento desde o passado dia 06 de março, desde que foi decretado pelo Governo a proibição de visitas a estas instituições”, refere. A última vez que Hannelore saiu do lar foi no dia 05 de março, para ir a um cabeleireiro.
Os sintomas começaram com febre e tosse seca. No dia seguinte, terça-feira, a febre permaneceu e começou com dificuldades respiratórias, o mesmo se verificando na quarta-feira.
“Na quinta-feira ela ligou-me desesperada, como nunca tinha feito antes, a pedir-me para ligar aos enfermeiros porque tinha a certeza que estava com o vírus”, conta o neto.
Miguel terá ligado para o lar de seguida, mas, segundo o próprio, terão dito que “o antibiótico para a febre ainda não tinha tido efeito”, algo que inquietou o neto por saber que, caso fosse Covid, aquele remédio não surte efeito.
Internada de urgência na ala dos infetados com Covid-19
No sábado, Miguel recebeu um contacto do lar, informando que a avó ia ser encaminhada para o Hospital de Braga via INEM e que iriam tentar fazer “o melhor possível”. Ainda não tinha sido feito o teste de despistagem, mas a equipa médica avançou que havia uma probabilidade forte de ela ter contraído Covid-19.
“Ainda no sábado, colocaram logo a minha avó na unidade de infetados, embora o lar diga que ela não tinha acusado positivo”, diz Miguel.
No Hospital de Braga, uma enfermeira terá dito que os níveis de toxicidade do corpo de Hannelore estavam “acima do normal”, pelo que deveria ter sido hospitalizada anteriormente.
A partir daí, Miguel nunca mais soube nada da avó, até esta quarta-feira, quando lhe ligaram do hospital a dizer que tinha falecido, infetada com o novo coronavírus.
Confirmados mais três utentes infetados no Asilo S. José em Braga
Não tinha quaisquer problemas de saúde, afirma o neto
“A minha avó tinha plena saúde, não tinha problemas respiratórios, tinha alguns problemas de azia no estômago, só tomava umas capas protetoras. Fazia análises de dois em dois meses e estava sempre tudo bem”, assegura o neto.
“Agora não posso fazer um funeral, porque agora sai do hospital e vai para o crematório, é cremada as 3:30 da tarde, amanhã, em Braga, e nem posso estar lá dentro, sequer, tenho de esperar na rua”, lamenta.
Miguel mostra-se indignado com as sucessivas declarações de responsáveis do lar desde o passado domingo, quando O MINHO noticiou em primeira mão que existiam vários utentes com sintomas de Covid-19 dentro do lar, e que uma utente tinha sido hospitalizada por, ao que tudo indicava (e agora confirmado), estar infetada com o vírus.
Cerca de 50 utentes de lar em Braga com “febres altas”. Há já um caso positivo de Covid-19
O lar mandou-me f****
“Ignoraram os meus alertas, desmentiram o que os jornais escreviam, e agora ligam a dizer que ela morreu, para tratar do funeral. Já tenho aqui a certidão de óbito e depois hei-de receber um pote com as cinzas”, diz Miguel, visivelmente revoltado.
Lar de Braga confirma utente infetado mas diz que “contraiu no hospital há oito dias”
“A minha avó não era lorpa, era uma professora catedrática, foi mulher de médico de clinica geral durante 40 anos, percebe de medicina e dizia-me que estava infetada com Covid e o lar mandou-me f****, desculpando a expressão. E agora a minha avó morreu”.
O MINHO contactou a diretora-técnica do Asilo São José, que confirmou o óbito por Covid, mas não quis prestar declarações nesta altura.
O MINHO também confirmou junto de fonte hospitalar credível que Hannelore está sinalizada como vítima mortal de Covid-19.
Figura acarinhada na sociedade civil bracarense
Hannelore, até pelo seu nome peculiar, era uma figura conhecida na sociedade bracarense. Nascida em Viena de Áustria, em 1943, mudou-se ainda em criança para Braga, onde concluiu o Curso Geral de Piano e Superior de Canto no Conservatório Calouste Gulbenkian. Enveredou pelo ensino de Música.
Panis Angelicus (Cesar Frank), Interpretado pela Soprano Hannelore Fischer Cruz e pelo Grupo Coral da Associação Cultural e Recreativa de Dume – Braga, no Concerto de Páscoa em 17 de Abril de 2010
Lecionou Educação Musical no segundo ciclo da EB 2 e 3 André Soares, Canto na Academia de Guimarães e na Academia de Barcelos e foi professora de Técnica Vocal na Universidade do Minho.
Cerca de 3 mil infetados em Portugal
O número de casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus, que causa a doença Covid-19, subiu para 2.995 casos em Portugal, mais 633 do que ontem, anunciou esta quarta-feira a Direção-Geral da Saúde (DGS).
1.517 casos são no Norte do país, 992 na Grande Lisboa e 365 no Centro. Algarve tem 62 casos confirmados, Açores 17 e Madeira 16. O Alentejo regista doze casos. Há ainda 14 portugueses no estrangeiro com confirmação de infeção.
Há 1.591 casos suspeitos que aguardam resultado laboratorial e 22 pacientes dados como curados.
A nível nacional existem 276 casos internados, 61 em estado grave/crítico.
Foram confirmados 43 óbitos, mais 10 do que ontem.