O primeiro-ministro refutou hoje a ideia de ter feito “um ultimato” aos partidos à esquerda do PS com vista à viabilização do Orçamento de Estado para 2021, ao admitir o cenário de “crise política” em entrevista ao Expresso no sábado.
“Ninguém fez nenhum ultimato. O que foi dito foi óbvio. É aliás o que todos nós partilhamos: o país está a enfrentar uma crise muito profunda do ponto de vista económico e social e, portanto, a última coisa de que precisa é de uma crise política”, frisou António Costa em declarações aos jornalistas, em Coimbra.
Para o líder do executivo, que falava à entrada para uma conferência do PS, de arranque do ano político, o que é necessário “é que todos se empenhem a trabalhar para que haja um acordo e que esse acordo seja um acordo com o horizonte de uma legislatura”.
Segundo o primeiro-ministro, as primeiras reuniões com os parceiros de esquerda e o PAN na semana passada mostram que há “excelentes condições para que isso aconteça”.
Ainda sobre a entrevista de António Costa ao Expresso, a coordenadora do BE descartou, também hoje, o cenário de eventual crise política, alegando que “é um problema inexistente, que não interessa a ninguém.
“Crise política é problema que não interessa a ninguém”, diz Catarina Martins
A dirigente bloquista declarou que “os ultimatos são inúteis e criam ruído, portanto são dispensáveis”.
“Não precisamos de ultimatos, precisamos é de saber com que meios é que o SNS e as escolas vão trabalhar”, disse.
No sábado, em reação às declarações do primeiro-ministro, o PCP considerou que os problemas “não se resolvem ameaçando com crises”, mas sim procurando soluções.
“Os problemas não se resolvem ameaçando com crises, mas sim encontrando soluções para responder a questões inadiáveis que atingem a vida de milhares de pessoas e com opções que abram caminho a uma política desamarrada das imposições da União Europeia e dos compromissos com o grande capital”, afirmou, em comunicado, o partido liderado por Jerónimo de Sousa.
Na entrevista, publicada na edição de sábado do Expresso, o primeiro-ministro avisou que se não houver acordo para a aprovação do Orçamento do Estado para 2021 haverá crise política e que, sem entendimento à esquerda, recusará negociar à direita a subsistência do Governo.
Orçamento de Estado: Costa avisa que se não houver acordo haverá crise política
António Costa assumiu estas posições numa entrevista que concedeu ao semanário Expresso no passado dia 21, depois de interrogado se haverá risco de austeridade caso o Governo não chegue a um acordo orçamental com o Bloco de Esquerda e com o PCP.
“Se não houver acordo, é simples: não há Orçamento e há uma crise política. Aí estaremos a discutir qual é a data em que o Presidente [da República] terá de fazer o inevitável”, respondeu.
Num recado sobretudo dirigido aos parceiros de esquerda do PS no parlamento, António Costa considera que “quem não quer assumir responsabilidades deve dedicar-se a outra atividade”, porque a atividade política requer “assunção de responsabilidades”.
António Costa profere na manhã de hoje uma conferência, como secretário-geral do PS, naquele que é o primeiro evento dos socialistas após as férias de verão, sob o lema “Recuperar Portugal”, em que falará sobre recuperação económica e combate à pandemia da covid-19.
Ainda antes da entrevistam o Presidente da República pediu diálogo para a viabilização do Orçamento do Estado para 2021, que considerou um instrumento fundamental para a aplicação dos fundos europeus, e avisou que não vai alinhar em crises políticas.