Na sequência da subida de preços das rendas das casas dos últimos anos, um jovem casal de Braga procurou uma solução alternativa. No final do contrato de dois anos num apartamento, feitas as contas, a saída foi comprar uma autocaravana. E agora contam a experiência na rede social Instagram, onde, juntos, somam quase 60 mil seguidores.
“A casa é pequena, mas o jardim é imenso”, conta Joel Silva, em entrevista a O MINHO.
Antes, o casal. Danielle Campos, de 25 anos, é brasileira, nascida em Brasília, chegou a Braga em 2021, e estuda fotografia no Porto. Joel Silva, que diz que parou de contar a sua idade aos 28 anos, tirou um curso de Engenharia e chegou a trabalhar na área. Mas não gostou e foi para o Brasil estudar Marketing durante um mês, mas ficou um ano e, depois, regressou a Portugal.
Dani, como é conhecida nas redes sociais, já tem algumas experiências internacionais. Aos 15 anos foi para os Estados Unidos fazer um intercâmbio, onde ficou fluente em inglês.
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Depois de se licenciar em Secretariado Executivo em Brasília, fez uma viagem de um ano, onde conheceu Portugal, passou por outros países da Europa, foi até o Egipto e foi novamente para os EUA, onde passou a pandemia.
Ao regressar ao Brasil, decidiu ir morar em Braga sob a influência de uma amiga, que ia fazer o mesmo caminho e foi viver com uma prima. Antes, ainda ficou um mês no México a fazer trabalho voluntário, onde teve contato mais próximo com a fotografia.
Quando regressou do Brasil, Joel foi trabalhar na área do Marketing em Lisboa, mas no contexto da pandemia regressou a Braga e começou a dedicar-se 100% a fotografia.
Nesta altura, Joel arrendou um apartamento, em janeiro do ano passado conheceu Danielle através do a aplicação de encontros Tinder, e foram viver juntos em dezembro. Em fevereiro, veio a grande decisão.
“A nossa renda ia subir, acabou o contrato, ou pagávamos o dobro, ou íamos embora. Fizemos as contas, pensamos que podíamos comprar uma autocaravana, que era uma vontade em comum”, explica Joel.
“Começamos a pensar e será que compensava?”, diz Danielle. “Quando começamos a viver juntos, víamos pessoas no YouTube e começamos a entrar neste mundo das autocaravanas. Vimos como era em Portugal os custos, como funcionava e acabamos por aceitar o desafio”.
O casal, que ainda conta com a companhia da cadela Zoe, até explica os números. Antes, as despesas mensais chegavam aos mil euros, com todas as despesas incluídas. Agora, para estarem tranquilos, gastam cerca de 600 euros por mês, “e a andar muito de carro”, explica Joel, que aprecia a vida sem pressa.
“Não andamos em portagens, vamos sempre em estradas nacionais, organizamos para não termos pressa. Estávamos em Lisboa, regressamos para cá com dois dias de antecedência e paramos a casa onde queremos, com um jardim grande, ficamos a trabalhar no local o tempo que queremos”, diz.
O que ajudou a motivar o casal foi justamente o trabalho. Ambos trabalham com Marketing e conseguem exercer a profissão de forma online na maior parte do tempo. Ou seja, não faz muita diferença estarem em Braga, Lisboa, Madrid ou Istambul.
“Ultimamente estamos sempre mais perto do Porto, pois ainda tenho ainda o curso. Quando o curso acabar, vai ser de Braga para o mundo, vamos sair daqui e percorrer a Europa inteira, este é o projeto”, sonha Danielle.
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A autocaravana é do ano de 1989 e foi comprada em fevereiro. O casal teve apenas alguns dias para deixá-la pronta para morar, e foram eles que fizeram praticamente tudo.
“Era tudo escuro, tudo triste. Uma coisa de 1989, precisava mesmo de ser reformulada. Compramos os materiais todos, lixamos, pintamos… Só não fizemos as instalações dos painéis solares”, explica Joel.
E por falar em painéis solares, o veículo tem eficiência energética. Toda a energia dos equipamentos da casa é gerada através do sol. O aquecimento, bem como o fogão e o frigorífico, funcionam através do gás propano.
Quando o carro está em andamento, o gás precisa de ser desligado por questões de segurança e então o próprio veículo alimenta os equipamentos.
No entanto, o casal lembra que foi complicado até perceber tudo.
“Fizemos muita coisa errada, tivemos uma infiltração. Tudo era novidade e achávamos que era fácil, só pintar. Nós compramos isto sem saber como se ligava o frigorífico. Descobrimos como ligava o aquecimento uma semana depois”, diz o profissional de Marketing.
A família teve opiniões diferentes. Lá do Brasil, a mãe de Danielle gostou, mas os pais de Joel não perceberam no início.
“A minha mãe foi o oposto, disse que somos loucos, não é possível. O meu pai disse a mesma coisa, que é pequeno, não é seguro, ele foi muito na questão de segurança”, lembra Joel, que garante que basta um dos dois não se sentir totalmente seguro num local para pernoitar, que buscam outro.
Passados alguns meses a viver na autocaravana, Danielle e Joel sentem-se adaptados e já pensam no futuro. Depois da volta à Europa, o plano é trocar de autocaravana e procurar uma mais recente. Até lá, vão avaliar as diferentes possibilidades. E tudo vai ser acompanhado pelo Instagram. Eles fazem questão de mostrar as suas vidas novas e talvez inspirar as pessoas.
“Nós gostamos de mostrar isso porque é fora da caixa, fora da bolha, mas é uma bolha possível e incrível”, conclui Joel.