Artigo de Vânia Mesquita Machado
Pediatra e escritora. Autora do livro Microcosmos Humanos. Mãe de 3. De Braga.
A propósito da entrevista do novo Bastonário da Ordem dos Médicos na RTP2 a 24 janeiro “A Saúde continua em estado de sítio, precisa de ser reformada”.
É urgente que a população portuguesa compreenda os reais motivos do caos instalado na Saúde.
Nenhum país progride sem gozar de uma saúde férrea.
Para uma economia singrar em velocidade de cruzeiro, gerando estabilidade e progresso, é essencial garantir o bem estar-físico, mental e social dos seus cidadāos, tanto dos que contribuem ativamente para o crescimento económico ( os “elementos produtivos”),como dos que ainda não o fazem porque estudam mas são a garantia do futuro, e sem esquecer os aposentados, os que já deram o seu contributo para o país, e cuja morbilidade nos afeta a todos, tanto por questões familiares como enorme gasto de recursos, cada vez maior como é caraterístico de um país em franco envelhecimento, situação em que se enquadra Portugal demograficamente.
Investir na Saúde só pode ser considerado como uma mais-valia, tanto nos cuidados preventivos como no tratamento atempado das patologias.
Mesmo com orçamentos restritos, medidas que passem por outro tipo de incentivos a quem se dedica a zelar pela saúde dos outros podem ser muito eficazes porque aumentam a motivação, tal como sublinhou o Dr. Miguel Guimarães na entrevista dada ao Jornal 2, dia 24 de janeiro.
Obrigada ao jornalista João Fernando Ramos, que como é habitual assumiu uma postura de jornalismo sério, dando tempo de antena aos médicos, tão enxovalhados noutros noticiários de cariz mais sensacionalista.
Obrigada ao novo Bastonário da Ordem dos Médicos, Dr.José Miguel Guimarães, pois logo após ser eleito veio a público expõr com clareza as dificuldades a nível do SNS, fundamentalmente relacionadas com a subvalorização do capital humano, e disfarçadas com pseudo-medidas pouco eficazes. ( “cosméticas”, citando o Bastonário).
“Estado de sítio” é a perfeita definição com que o Dr.José Miguel Guimarães carateriza a nossa Saúde, sabendo perfeitamente como por debaixo do pano os jogos de influências de seguradoras e dos grupos que controlam a grande fatia do sistema privado asfixiam a utopia da Saúde para todos, não apenas aproveitando as carências do sistema público e o desespero de quem está doente mas ainda pode pagar, mas também explorando literalmente os profissionais também a nível privado, pagando valores irrisórios pelos atos médicos, e contribuindo para uma medicina em série ( perdoem o termo que odeio mas “à peça”, com catadupas de doentes para ver e pouco tempo para o fazer), porque é assim agora na maioria dos grandes hospitais privados, e não só no sistema público.
Prioritários são os indicadores de produtividade ou as pessoas?
É possível com isenção aferir a qualidade da Medicina ?
… A Medicina que coloca sempre em primeiro lugar o interesse do doente está em risco tanto no SNS como no sistema privado monopolizado, e é bom que as pessoas entendam que a culpa da nossa Saúde correr sérios riscos de entrar em estado terminal não é dos profissionais.
Médicos, e todos os profissionais da área da saúde encontram-se no limite das suas forças, em alto grau de desgaste físico e emocional, e muitos dão o máximo por amor à camisola e por terem consciência de que lidam com os seres humanos quando estão mais vulneráveis, não porque profissionalmente se sintam realizados…
Esta é a realidade, e não vale a pena tapar o sol com a peneira.
Está na altura também de ilibar os “suspeitos do costume”, os médicos.
Existem sempre ovelhas negras nos rebanhos, mas estas não são a regra, são a exceção.