O campo de tiro de Fervença, em Barcelos, está a ser palco da XVI edição do Campeonato Europeu de Armas Históricas, o primeiro realizado em Portugal, depois do Mundial de 2010.
Vindos de 19 países, os atiradores competem, desde segunda-feira, em mais de 20 disciplinas de tiro com armas históricas, que variam entre arcabuzes, mosquetes, revólveres ou espingardas de caça e guerra, típicas de épocas que vão do século XVI ao XIX.
Cada atirador dispõe de meia hora para realizar 13 tiros em cada alvo, três dos quais para calibrar a pontaria e precisão, os restantes 10 para pontuar um máximo de 100 pontos, algo “habitual”, segundo Ramón Selles, secretário-geral da Federação Mundial de Armas Históricas, porque “participam sempre os melhores atiradores do mundo”.
“Atirar com estas armas exige muita paciência e preparação”, frisou Ramón Selles, explicando que “há que fundir as munições de chumbo, fazer as cargas e carregar as armas com varetas”, algo que em relação às armas modernas, “em que é só carregar e disparar”, distingue-se pela perícia técnica requerida antes do fogo.
As diversas categorias de competição variam entre tiros de equipa e individuais, com alvos às distâncias de 25, 50 e 100 metros, para além de tiro aos pratos, tarefas “fáceis com armas modernas”, explicou Gudrum Wittman, atiradora alemã de 41 anos que pratica entre “40 a 42 sábados por ano” e foi vice-campeã mundial em 2014.
Para a natural de Munique, “no tiro moderno é tudo demasiado perfeito, das armas às munições, e a técnica individual não é tão importante”, pelo que optou pelo tiro com armas antigas por haver “muito mais variáveis” que influem na competição.
No caso de João Faria, atirador de 49 anos, o fascínio pelas armas de outros tempos foi espoletado pelo papel que desempenharam na história portuguesa, mas também pela “museologia, o colecionismo e toda a técnica envolvida no fabrico e preparação de armas e munições”.
“Disparo com armas que correspondem às que os portugueses introduziram no Japão a partir de 1543 e que aparecem descritas na Peregrinação, de Fernando Mendes Pinto”, conta, considerando que a maior dificuldade na competição europeia reside no próprio atirador.
“O principal obstáculo somos nós. Temos bom material e só é preciso que tenhamos serenidade no momento [do disparo], para não nos deixarmos levar pela emoção e pela ansiedade. O tiro é um desporto que se pratica contra nós próprios”, explicou.
Natural da Finlândia e residente em Málaga, Espanha, há 40 anos, Timo Näätänen ainda compete pelo seu país de origem, onde “o tiro – ainda que sem armas antigas – é um dos principais desportos”.
“O mais difícil é manter a concentração. É uma luta contra nós mesmos. Uma luta para nos superarmos”, considerou.
A XVI edição do Campeonato Europeu de Armas Históricas de corre em Barcelos até 31 de agosto, com atribuições diárias de prémios às mais de duas centenas de competidores.