As minúsculas bolas de plástico que invadiram as praias da Galiza já foram identificadas em Caminha e Viana do Castelo.
O Capitão do Porto e Comandante-local da Polícia Marítima de Viana do Castelo, Serrano da Paz, adiantou a O MINHO que foram encontradas cerca de 150 destas esferas, ao longo de 20 quilómetros de costa, nas praias de Vila Praia de Âncora, Caminha, Afife, Paçô, Praia Norte, Cabedelo e Amorosa.
O responsável acrescenta que os microplásticos foram encontrados “muito espalhados” e “sem concentração”, ou seja uma situação muito diferente do que acontece na Galiza.
Serrano da Paz nota ainda que muitas das bolas encontradas estão já “descoloridas”, indicando que já estavam há bastante tempo nas praias.
Em Afife, por exemplo, foram encontradas 20 e em Paçô 70.
“É uma quantidade ínfima”, assinala o comandante-local da Polícia Marítima, salientando que os microplásticos se “não estão concentrados”, mas sim “espalhados”.
O material está “descolorido e desgastado”, tendo sido encontrados de diferentes cores, como “branco, transparente, amarelo, sinal que era material que já andava na praia”, aponta.
Serrano da Paz considera que “é natural” que alguns dos microplásticos encontrados sejam dos contentores perdidos ao largo de Viana do Castelo. “Já foi há algum tempo, houve alteração de correntes e o material à superfície dispersa-se”, analisa.
Serrano da Paz vinca ainda que, “esta manhã, saiu a lancha da Estação Salva Vida, a “Atento”, e está a fazer uma patrulha junto à costa. Foi até à fronteira e não encontrou esse material na água. Agora está a afastar-se da costa e a continuar a fazer essa patrulha”.
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Segundo informações fornecidas pelo Ministério do Ambiente de Espanha aos meios de comunicação locais, um cargueiro com bandeira da Libéria perdeu seis dos contentores que transportava em 08 de dezembro em águas portuguesas, a 80 quilómetros de Viana do Castelo.
Um desses contentores, segundo o Governo espanhol, que cita o armador do barco, levava mil sacos dessas pequenas bolas brancas usadas na fabricação de plásticos.
Os primeiros sacos – com cerca de 15 quilos cada, segundo as informações das autoridades locais citadas por meios de comunicação social espanhóis – foram identificados em praias da Galiza em 13 de dezembro, tendo até agora sido recolhidos perto de 60.
No entanto, foi no final da semana passada que começaram a chegar à costa, em quantidade, as bolas de plástico dispersas, fora de sacos, com as organizações ambientais e os jornais locais a falarem em “invasão dos areais” por este material e em “areais pintados de branco”.
Ativado Plano Territorial de Contingências por Contaminação Marinha
O governo regional da Galiza ativou na sexta-feira o nível 1 (o menos grave) do Plano Territorial de Contingências por Contaminação Marinha da Galiza, que prevê tarefas de vigilância e limpeza.
A conselheira do governo regional com a pasta do Ambiente (equivalente a ministra num executivo central), Ángeles Vázquez, disse hoje que já foram feitas análises e as pequenas bolas “não são tóxicas nem perigosas”.
“Mas é plástico e é preciso retirá-lo dos areais”, afirmou.
Segundo a associação ecologista galega Noia Limpa, que cita dados do EU Monitor, estas bolas de plástico têm menos de 5 milímetros de diâmetro, são usadas na indústria de plásticos e estima-se que só no ano de 2019 se perderam no meio ambiente entre 52.140 e 184.290 toneladas.
“Pelo seu pequeno tamanho e peso leve, é quase impossível limpá-las depois de se espalharem pelas praias”, além de serem “esponjas tóxicas, que atraem toxinas químicas e outros contaminantes para as suas superfícies”, diz a Noia Limpa.
Não sendo biodegradáveis, estas pequenas bolas, com os anos, fragmentam-se em nanopartículas, microplásticos que entram na cadeia alimentar marinha.
“Casos anteriores demonstram que a limpeza dos ‘pellets’ [as bolas de plástico] pode levar meses, incluindo anos, sem que ainda assim se consigam recuperar na sua totalidade”, explica a Noia Limpa.
Segundo um mapa que esta associação disponibilizou na sua página na Internet, feito com base em testemunhos e informações oficiais, já foram identificadas estas bolas de plástico em praias ao longo de quase toda a costa da Galiza, desde Vigo, no sudoeste da região, até ao lado norte.
As autoridades da região vizinha das Astúrias disseram hoje que também foi identificado material deste em praias asturianas e foi igualmente ativado o plano local de contingência por contaminação marinha.
Durante o fim de semana passado, associações ecologistas e outras entidades organizaram e apelaram a voluntários para limparem as praias da Galiza, levando centenas de pessoas aos areais com coadores e redes para recolherem as pequenas bolas de plástico.
Apesar da dimensão do ocorrido, e coincidindo com declarações que recuperaram a memória do desastre ecológico de 2002 com o designado “caso Prestige”, a Federação Ecologista Galega disse no domingo, num comunicado, que a situação não é similar com nenhuma outra que envolve derrames de produtos petrolíferos.
No entanto, a federação realçou que não se deve “retirar importância ao perigo” deste acidente, por se desconhecer para já “como evoluirá e como afetará o ambiente e os seres vivos”.
Plano de contingência
A Autoridade Marítima Nacional (AMN) anunciou ontem que estava a preparar um plano de contingência antecipando a chegada do material à costa portuguesa.
“A Autoridade Marítima, em colaboração com o Instituto Hidrográfico da Marinha, está a monitorizar a situação dos plásticos que deram à costa na Galiza e a fazer cálculos de deriva para, com base no vento, ondulação e correntes, tentar saber com a maior antecedência possível a probabilidade de chegarem a Portugal”, explicou à Lusa o porta-voz da AMN e da Marinha.
Por outro lado, a AMN está a “preparar um plano de contingência, no âmbito do plano Mar Limpo, para remover as partículas de plástico caso cheguem à costa portuguesa”.
Esta ação está a ser desenvolvida “com outras entidades, como autarquias e órgãos da Proteção Civil”, acrescentou o porta-voz.
O porta-voz referiu também que a AMN “não tem a confirmação” de que os ‘pellets’ de plástico que estão a aparecer nas praias do Norte de Espanha sejam do barco que, a 08 de dezembro, perdeu carga “a 40 milhas [cerca de 75 quilómetros] de Viana do Castelo”.
“Quando o barco perdeu a carga, não soubemos o que transportava, apenas que caíram seis contentores. Também não temos a confirmação de que o material que apareceu em Espanha seja do mesmo navio”, observou.
Quando os contentores caíram ao mar, a ANM emitiu avisos, nomeadamente à navegação.
“Quando um contentor cai na água, 90% fica abaixo da linha de água e é difícil de ver, tanto visualmente como por radar”, afirmou.
Depois, a AMN deu “indicações à Capitania de Viana do Castelo para deslocar uma embarcação salva vidas ao local, mas não, os contentores não foram vistos”.