O Instituto da Soldadura e Qualidade (ISQ), o Laboratório da Paisagem, em Guimarães e o Centro de Valorização de Resíduos (CVR) deram as mãos para desenvolverem o E-tijolo. A ideia é incorporar pontas de cigarros em estruturas construtivas, nomeadamente tijolos mas também cerâmicas.
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As também conhecidas como ‘beatas’ são dos elementos mais poluentes: “uma ponta de cigarro num litro de água é equivalente a esgoto doméstico”, revela Nuno Silva, do Laboratório da Paisagem.
Depois de vencer um concurso que passava pela constituição de uma bolsa de ideias com o intuito de transformar ideias inovadoras em iniciativas empresariais, a equipa do ISQ encontrou o projeto ‘EcoPontas e ‘papa-chicletes’ desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem de Guimarães a que se viria a associar o Centro de Valorização de Resíduos.
“Definimos um esquema para incorporar o produto resultante do tratamento das pontas de cigarros em estruturas construtivas”, começou por explicar a O MINHO, Juan Henriques, do ISQ. As beatas são desinfectadas, trituradas e depois transformadas numa substância que se mistura na argila.
“Recolhemos as beatas e depois o Centro de Valorização de Resíduos, que tem muita experiência nesta área, reconverte-as numa substância. Nós agora estamos na fase de construir protótipos de tijolos que cumpram as normativas europeias”, revelou ainda.
O ISQ é o responsável pela fabricação dos protótipos e já há interessados no produto final: “temos duas empresas do sector cerâmico atentas ao nosso trabalho”.
Segundo o responsável do ISQ, os primeiros 15 quilos de pontas de cigarros recolhidos e, depois de transformados, não chegaram para criar os primeiros 30 protótipos.
Juan Henriques explica que o e-tijolo tem duas vantagens: “consegue dar uma segunda vida a resíduos, neste caso beatas, que são uma componente altamente poluidora e depois consegue reduzir as necessidades energéticas na altura do fabrico. Estamos a falar de uma redução à volta dos 60%”.
A intenção da equipa do ISQ é construir uma parede num dos edifícios actualmente em reabilitação na cidade vimaranense. “Esperamos ter os primeiros e-tijolos prontos ainda este ano, com os testes concluídos e dentro das normas europeias”.
Ecopontas
O projecto “Ecopontas e papa-chicletes” é desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem, em Guimarães, tem três anos e já ganhou um prémio nacional em 2016 da Sociedade Ponto Verde. Nuno Silva explicou a O MINHO que o ‘Ecopontas’ já vendeu 100 estruturas para todo o país e que “o nosso contributo para o ‘E-Tijolo’ passa por fornecer a matéria prima para depois ser valorizada pelo CVR”.
Por mês são recolhidas em média 35 mil pontas de cigarro nas sete estruturas espalhadas pela cidade de Guimarães. “Tem sido um sucesso porque, desde o início, quisemos fazer algo diferente. Apostamos num design diferente e com perguntas provocatórias, no bom sentido”.
Isto é, nas estruturas estão inscritas perguntas, “normalmente com respostas de sim e não”, e as pessoas colocam a ponta do cigarro respondendo à questão. “Como as estruturas são transparentes, as pessoas conseguem ver a resposta mais escolhida”.
“As pessoas têm aderido muito bem a esta iniciativa”, reconhece Nuno Silva que lembra: “ este é um problema ambiental enorme para a cidade e as pessoas não têm noção dos malefícios que uma simples ponta de cigarro tem para o ambiente”.
Se é verdade que há mais ‘beatas’ recolhidas na Primavera/Verão do que no Inverno porque “as pessoas saem mais de casa”, Nuno Silva revela que “vimaranenses já vão tendo mais conhecimento da existência destas estruturas, sobretudo nas áreas onde estão implementadas”.
UMinho, centro histórico e zona do estádio são os principais locais da sua implantação mas, segundo Nuno Silva, “há intenção da Câmara em colocar estes pontos de recolha em mais espaços públicos”.
Cascais, Funchal, Celorico de Basto e Viseu são, por exemplo, municípios que já aderiram a este projecto comprando estruturas para colocar em pontos estratégicos.