Uma exposição inédita com mais de uma centena de peças criadas pela barcelense Rosa Ramalho (1888-1977), uma das mais conhecidas ceramistas portuguesas do século XX, vai ser inaugurada no sábado, no Palácio da Cidadela de Cascais.
Sob o título “Rosa Ramalho: As Escolhas de um Colecionador”, a mostra, com peças propriedade dos herdeiros do colecionador Tito Iglésias (1933-2014), vai estar patente ao público de domingo a 02 de abril de 2023, na galeria de exposições do palácio.
Com curadoria de Isabel Maria Fernandes, a exposição é organizada pela Fundação D. Luís I e a Câmara Municipal de Cascais, e acontece no âmbito da programação do Bairro dos Museus.
“Rosa Ramalho: As Escolhas de Um Colecionador” dá a conhecer o vasto trabalho da bonecreira barcelense, através das escolhas do gestor hoteleiro Tito Iglésias, “evidenciando os aspetos em que a artista explora a imitação de peças que aprendeu a fazer ainda em menina, no final do século XIX”, indica um comunicado da organização.
Também revela as peças “em que é notória a sua reconhecida criatividade figurativa através da qual evoca o surrealismo, o real e o fantástico”, acrescenta.
O percurso pelas várias salas da exposição apresenta ainda as técnicas utilizadas pela escultora, ceramista e oleira na produção de figurado e o modo como tratava temas como a vida quotidiana, a festa e os divertimentos, a religião, a fauna e o bestiário.
Tito Iglésias foi gestor hoteleiro e promotor turístico, tendo sido nesse contexto profissional que conheceu Rosa Ramalho, tornando-se um dos grandes admiradores do trabalho da bonecreira, tal como outras personalidades daquela época, deixando-se encantar pela sua obra.
A partir desse momento começa a visitá-la e a encomendar-lhe peças, reunindo uma enorme coleção, que manteve em reserva, sem deixar que a maioria dos exemplares pudesse ser exposta na sua residência.
Muitas das peças ficaram guardadas durante mais de 50 anos pela filha e pela neta do colecionador, e foram retiradas do local onde se encontravam, com o objetivo de mostrar, emprestar e conservar este património.
Nascida a 14 de agosto de 1888, em Galegos São Martinho, Barcelos, Rosa Barbosa Lopes criou muito cedo uma ligação com o barro, numa terra onde os artífices da cerâmica abundavam.
Ainda menina, aos sete anos de idade, aprendeu esta arte com uma vizinha e começou a fazer pequenas cestas e figurinhas de barro figurado, que se vendiam em Barcelos e pelas feiras, festas e romarias do norte de Portugal.
Não frequentou a escola, e acabou por não aprender a ler ou a escrever, e aos 20 anos casou com António da Mota, moleiro de profissão.
Durante os quase 50 anos em que foi casada, dedicou-se a ajudar o marido nas diversas tarefas da vida de moleiro, bem como a cuidar dos filhos e da casa, sem nunca parar de fazer as figuras em barro.
Morreu a 24 de setembro de 1977, em casa, em Galegos São Martinho, Barcelos.
A título póstumo, a 09 de abril de 1981, foi agraciada com o grau de dama da Ordem Militar Sant’Iago da Espada e, a 31 de agosto de 2022, recebeu a medalha de Honra de Ouro da cidade de Barcelos, no distrito de Braga.