A Arquidiocese de Braga pediu hoje “perdão” pelos alegados abusos sexuais imputados ao cónego Manuel Fernando Sousa e Silva em Joane, Famalicão, adiantando que em julho de 2022 foram impostas “medidas disciplinares” ao sacerdote.
Em comunicado publicado no seu portal oficial, aquela arquidiocese especifica que as medidas passaram pela “necessidade de o suspeito se abster de exercer publicamente o seu ministério sacerdotal e, de modo particular, a celebração pública dos Sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, devendo recolher-se num clima de oração, reflexão e penitência”.
“É com dor e sofrimento que a Arquidiocese de Braga tem vindo a acompanhar, nestes últimos dias, através da comunicação social, o relato de homens e mulheres vítimas de abusos por parte do Cónego Manuel Fernando Sousa e Silva”, refere o comunicado.
O jornal Nascer do Sol publicou em 17 de setembro uma reportagem sobre “os abusos sexuais de menores praticados em Joane durante décadas por um sacerdote, o cónego Fernando Sousa e Silva”.
Na sexta-feira, o jornal i dá conta de relatos de abusos sexuais por parte de Fernando Sousa e Silva, em Joane, alegadamente cometidos ao longo de décadas, sobretudo no confessionário.
“Muitas vítimas pontapearam o fantasma denunciando-o nas redes sociais”, e “não se escondem atrás de nomes falsos e dão o rosto”, lê-se no matutino.
Na noite de sexta-feira, a RTP1 passou igualmente uma reportagem sobre o assunto, que hoje regressou às páginas dos jornais.
A arquidiocese pede perdão a todas as vítimas, “feridas física, emocional e espiritualmente pelos abusos sofridos”, um pedido que estende às famílias das vítimas e a todos os agentes pastorais da Paróquia de Joane e a toda a comunidade cristã.
“A comunidade paroquial tem sido sujeita a uma forte exposição mediática que reaviva memórias dolorosas, mas que contribui para trazer à luz factos que nunca deveriam ter acontecido. Reconhecemos que, neste caso, a Igreja falhou no seu dever de proteger os mais frágeis e vulneráveis”, acrescenta.
Refere que, em 21 de novembro de 2019, chegou à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAV) uma denúncia por parte de uma vítima, relatando ter sofrido abuso sexual por parte do referido sacerdote.
Esta vítima mencionou a existência de outras vítimas.
“Dentro dos limites das suas competências, a Comissão diligenciou no sentido de identificar estas e outras possíveis vítimas, mas sem sucesso”, lê-se ainda no comunicado.
Dois anos mais tarde, chegou à Comissão mais uma denúncia.
“Tendo a CPMAV enviado os relatórios relativos às duas denúncias à autoridade eclesiástica competente, o então arcebispo de Braga [Jorge Ortiga] criou, em janeiro de 2022, uma Comissão de Investigação Prévia, em conformidade com as normativas eclesiásticas à data em vigor. Em maio de 2022, o atual arcebispo de Braga [José Cordeiro] enviou todos os elementos recolhidos para o Dicastério para a Doutrina da Fé”, sublinha o comunicado.
Em julho de 2022, e “em sintonia com o mesmo Dicastério”, foram impostas as referidas medidas disciplinares ao sacerdote em causa.
“Reconhecemos que não conseguimos ser mais céleres no tratamento do caso e mais eficazes no acompanhamento das vítimas, o que lamentamos”, admite a arquidiocese.
Vinca que a CPMAV “disponibilizará de imediato, no âmbito das suas competências, um serviço de escuta destinado a todos quantos desejem partilhar as suas dolorosas experiências”.
O serviço estará disponível na paróquia de Joane de forma presencial, sendo ainda possível recorrer ao mesmo por via telefónica ou por correio eletrónico.
Os novos testemunhos que, entretanto, possam chegar à Arquidiocese “poderão permitir uma leitura mais completa do caso e possivelmente justificar novos procedimentos”.
A arquidiocese apela a todos os que possam ter sido vítimas de qualquer espécie de abuso sexual em alguma paróquia ou instituição para contactarem a CPMAV.
“Confiamos que a nossa Igreja saberá abrir-se a um novo futuro, marcado pelo reconhecimento humilde e transparente dos seus erros e pecados, pelo acolhimento das vítimas e pela prioridade de criação de uma cultura de prevenção e cuidado”, remata o comunicado.