A estátua de D. Afonso Henriques que hoje podemos ver no monte Latito, junto ao Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, resultou de uma iniciativa cívica, lançada em 1882, pelo vimaranense, emigrado no Brasil, João Alves Pereira Guimarães, numa carta endereçada à Câmara Municipal.
“Guimarães, o berço da Monarquia Portuguesa, deve dívida sagrada de gratidão, de reconhecimento e patriotismo, ao primeiro rei e fundador da Monarquia Lusitana D. Afonso Henriques”, lia-se na abertura da carta, datada de 17 de julho de 1882. A missiva instava a Câmara a criar uma comissão central, em Portugal, para a construção do monumento, e a instituição de comissões parciais pelo reino, África e Brasil. “Só do Brasil pode obter-se a importância em donativos para a compra do Monumento em bronze fundido”, assegurava João Alves Pereira Guimarães.
A obra foi encomendada ao escultor Soares dos Reis, figura maior das belas-artes portuguesas da segunda metade do século XIX. Por altura do sétimo centenário da morte do primeiro rei português, a 06 de dezembro de 1885, discutia-se ainda onde seria colocada a estátua.
Acabou por se decidir que seria colocada no campo de São Francisco. A estátua foi inaugurada a 20 de outubro de 1887, com a presença da família real. D Luís I e D. Amélia vieram a Guimarães e, na mesma oportunidade, o rei inaugurou a estátua e lançou a primeira pedra da Escola Industrial Francisco de Holanda.
Retirando a bandeira de Portugal que cobria a obra, com a ajuda do presidente da Câmara, o conde de Margaride, o rei disse: “A ereção da estátua ao homem que fez Portugal é o saldo honroso de uma dívida paga, embora tardiamente, depois de sete séculos, por um povo brioso”. O povo, menos dado a estas solenidades, rapidamente apelidou a estátua de “Rei Preto”, aludindo provavelmente ao contraste da cor escura da estátua de bronze, com o pedestal original de mármore branco.
Durou 24 anos o primeiro poiso da imagem que Soares dos Reis imaginou do primeiro rei de Portugal. Em 1911, por altura do oitavo centenário do nascimento de D. Afonso Henriques, que naquela época de situava em 1111, a estátua foi movida para o largo do Toural. O pedestal de mármore branco foi com a estátua. A República dava os primeiros passos e pretendia, através de atos simbólicos dizer ao que vinha. O jardim no centro do largo do Toural perdeu as grades, era agora um espaço aberto à fruição por todos. O largo passava a chamar-se praça do Fundador de Portugal e, logo depois, praça do Libertador de Portugal e, pouco mais de um mês passado, passou a praça D. Afonso Henriques.
A estátua de Soares dos Reis foi amplamente usada pela propaganda do Estado Novo. É neste enquadramento que, a 21 de maio de 1940, a estátua é movida do largo do Toural, para a sua atual localização, no monte Latito (a colina Sagrada), junto do Castelo Medieval, da igreja românica de S. Miguel (onde terá sido batizado D. Afonso Henriques) e do Paço dos Duques de Bragança. Nesta segunda mudança, a estátua perdeu o pedestal em mármore, que também era obra de Soares do Reis, e passou a estar assente no pedestal de granito onde hoje a podemos apreciar.
Ainda neste espírito de aproveitamento da imagem do primeiro rei pelo regime salazarista, em 1947, foi colocada uma réplica da estátua vimaranense, no castelo de S. Jorge, em Lisboa, evocando os 800 anos da tomada da cidade aos mouros. Ao que parece existem mais duas cópias, no Regimento do Artilharia de Vila Nova de Gaia. Em 1999, foi inaugurada, em Santarém, uma estátua com base numa destas cópias em gesso, presumivelmente feitas pelo próprio Soares dos Reis.
Estátua de D. Afonso Henriques em Guimarães fica sem espada devido a “ato de vandalismo”
Desde 1940, D. Afonso Henriques tem estado, de espada em riste, no sopé do monte Latito. Vítima, por vezes, da sua notoriedade, uns por devoção extrema outros por vandalismo, penduram-se na imagem do rei e causam estragos. Frequentemente, como agora, é a espada que aparece partida.