Duas associações ambientalistas exigiram à Câmara de Guimarães a suspensão dos procedimentos adjudicatórios relativos ao projeto de execução da via de acesso ao AvePark e a realização de um estudo por uma entidade “imparcial”.
Em comunicado, a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza e a Associação Vimaranense para a Ecologia (AVE) defendem que o estudo, destinado a fundamentar a necessidade da construção ou não da nova via, deve ser feito por uma entidade “sem relação de interesses” com o município de Guimarães ou com o AvePark – Parque de Ciência e Tecnologia.
Sublinham que o estudo que existe foi desenvolvido pela Universidade do Minho (UMinho), “entidade que, não obstante o seu reconhecido mérito científico e o seu papel relevante no desenvolvimento tecnológico regional, mantém uma relação de interesse” com o processo.
“Com efeito, a UMinho detém uma participação no capital social da AvePark, atualmente em liquidação devido à extinção da sociedade, e o responsável pela elaboração do estudo exercia, à data de adjudicação, o cargo de presidente do conselho de administração da sociedade AvePark”, referem.
Acrescentam que o estudo considera que a construção do novo acesso trará, “na melhor das hipóteses”, uma economia de tempo de cerca de 10 minutos, num trajeto entre o AvePark e o aeroporto Francisco Sá Carneiro, que atualmente demora 50 minutos.
“Contudo, não foi ainda realizado um diagnóstico das necessidades de mobilidade dos utilizadores do AvePark, nem uma caracterização dos fluxos de tráfego de e para o AvePark, quer atuais, quer em diferentes cenários de evolução”, esgrimem.
Para aquelas duas associações, o estudo “limitou-se a validar uma opção de traçado tomada previamente pela Câmara de Guimarães, a qual afeta consideravelmente áreas de Reserva Agrícola Nacional e de Reserva Ecológica Nacional, com efeitos drásticos na coesão do território rural e nas atividades agrícolas nele desenvolvidas”.
Dizem ainda que o traçado implica uma nova travessia do rio Ave, a montante da principal área de captação de água de consumo dos concelhos de Guimarães e Vizela.
A Quercus e a AVE exigem, assim, a suspensão dos procedimentos concursais que se encontram a decorrer, considerando “essencial repor a devida equidistância e imparcialidade nos estudos e na análise das várias possibilidades de traçado”.
Consideram igualmente necessário aprofundar o estudo do traçado alternativo entre o AvePark e o troço da A11 entre Guimarães e Braga, “dado ser esta a única opção que não implica a construção de uma nova ponte sobre o rio Ave”.
“Além de servir o AvePark e as unidades industriais da sua periferia, esta ligação poderá contribuir para reduzir o tráfego na EN101, especialmente de veículos pesados”, dizem, salientando que esta opção serviria igualmente a vila das Caldas das Taipas.
As associações subscritoras defendem que a decisão de construção da nova via “não deverá resultar de uma visão de curto prazo, tomada apenas em função da eventual oportunidade de financiamento comunitário”.
“Um investimento desta envergadura terá sempre impactos irreversíveis no território, pelo que é necessário ponderar devidamente a sua sustentabilidade económica e ambiental, evitando reproduzir os erros de investimento rodoviário que têm retalhado a paisagem portuguesa nas últimas décadas”, rematam.
A Câmara de Guimarães reservou para mais tarde eventuais declarações sobre o assunto.