Um grupo de mais de meia centena de peregrinos galegos percorreu, durante este fim de semana, a segunda etapa do Caminho da Geira e dos Arrieiros, e chegou ao concelho de Terras de Bouro. O Caminho de Santiago será cumprido integralmente entre Braga e Santiago de Compostela, num total de 240 quilómetros.
O percurso ímpar caraterizado, entre outros aspetos carregados de estórias milenares, tem entre outros aliciantes, o demandar a Geira Romana, ou a Via XVIII, que outrora ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica (Astorga), visível a partir de Amares.
Num momento histórico, entre Braga e Santiago de Compostela, geminadas recentemente, a Câmara Municipal de Braga está a apoiar todos os eventos que, de uma forma ou de outra, capitalizem as sinergias entre as duas cidades carregadas de história.
O Caminho da Geira e dos Arrieiros, para além da bimilenar Geira, obra prima da engenharia militar romana, que atravessa a Serra do Gerês por caminhos de meia encosta, isto é, com desníveis menos acentuados, está a ser redescoberta pelos peregrinos.
Da parte galega o grande animador do grupo de 55 peregrinos da Galiza foi Celestino Lores Rosal, presidente da Associação de Amigos e Amigas dos Caminhos de Santiago, com a sede e o albergue em Pontevedra, a par de António Devesa, de Braga.
A segunda etapa partiu de São Sebastião da Geira e terminou no centro da vila de Terras de Bouro, seguindo-se um almoço no restaurante Rio Homem, onde se conviveu e foram contadas as peripécias vividas durante as duas primeiras etapas do percurso.
A receção, já em Terras de Bouro, coube ao vereador do Turismo da Câmara Municipal de Terras de Bouro, António Cunha, a par do delegado local da Associação Espaço Jacobeus (AEJ), Vítor Cunha, sediada em Braga e presidida por António Devesa.
Por parte da autarquia bracarense o apoio tem sido prestado diretamente por António Barroso, adjunto do presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, que com António Devesa e o vice-presidente, Luís Miguel Sampaio, têm dinamizado ações.
Em declarações a O MINHO, Celestino Lores Rosal, que no Ano Santo de 1999, guiou pelos Caminhos de Santiago o atual Rei de Espanha, Filipe VI, disse, entre os caminhos portugueses, “faltava este, de beleza ímpar, da Geira e dos Arrieiros”.
“A ideia é cumprirmos este caminho, de lés a lés, não só, mas também, contribuindo para aumentar conhecimento e divulgação das potencialidades, que são imensas, permitindo uma introspeção que nos ajuda a viver melhor”, disse Celestino Lores Rosal.
Ao fim de 30 anos de atividade peregrina ininterrupta, galegos e minhotos pretendem também a oficialização do Caminho da Geira e dos Arrieiros, esperando-se só que os governos dos países ibéricos o formalizem, como já fez a Igreja Católica.
Já António Barroso, adjunto do presidente do Município de Braga, considera que “esta constitui mais uma peregrinação jacobeia à qual a autarquia se associa com muito gosto, porque além do mais é uma ligação ancestral que não se pode nem deve perder”.
“Com a Associação Espaço Jacobeus (AEJ), aqui sediada em Braga, estamos a criar as melhores condições para os peregrinos e sempre em conjunto, diligenciamos junto das entidades oficiais para a certificação deste caminho”, afirmou António Barroso.
O Caminho da Geira e dos Arrieiros começa na Sé Catedral de Braga e passa pelos municípios de Amares, Terras de Bouro e entra na Galiza, através de Lobios (Ourense), pela antiga fronteira da Portela do Homem, reentrando em Portugal por Melgaço.
Ao longo dos últimos seis anos já foi percorrido por mais de três mil peregrinos, um terço dos quais em 2022, principalmente de Portugal e Espanha, mas igualmente da Europa e da Austrália, Brasil, Japão, México, Azerbeijão, China, Belize ou Aruba.
O percurso tem 240 quilómetros e destaca-se por integrar aspetos peculiares, a Geira, Via XVIII ou Via Nova, que tem a maior concentração mundial de marcos miliários na sua Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, decretada pela UNESCO.
O Caminho da Geira e dos Arrieiros é um dos escassos cinco que ligam diretamente a Catedral de Braga à Catedral de Santiago de Compostela, tendo sido apresentado novamente, em 2017, em Ribadavia (Galiza) e Braga, reconhecido pela Igreja em 2019.
