Uma situação que acontece algumas vezes na cidade de Braga: um imigrante ou turista brasileiro, na maior parte das vezes do estado de São Paulo, vai à cidade e tem como um atrativo procurar e comer o “autêntico arroz de Braga”. E não o encontra ou só com extrema dificuldade lá acha qualquer coisa. Mas afinal, que prato é este do “arroz de Braga”, e de onde vem este nome e esta história?
Primeiramente, a receita: à base de arroz, frango, repolho, tomate, pimentos, diversos enchidos e temperos. Pode ser mais molhado, mais seco, e há outras formas de o apresentar.
No Brasil, quem conhece o prato, muito comum em cidades como São Paulo e Santos, principalmente no século passado, garante que é da culinária tradicional portuguesa. Até já foi confecionado na edição daquele país do Masterchef, e numa prova que era para preparar uma receita típica portuguesa sem utilizar bacalhau. A concorrente acabou por perder contra um polvo à lagareiro com batata a murro.
A andar pelas ruas do centro de Braga, a reportagem de O MINHO encontrou apenas um restaurante que tem o prato na sua ementa. A maioria dos funcionários do local são brasileiros e garantem que é uma receita portuguesa.
Nos outros restaurantes, com gerência, cozinheiros e proprietários portugueses, uns já ouviram falar, e outros nem conhecem e questionam se não será, porventura, o Bacalhau à Braga. Os que sabem do que se trata até recomendam o concorrente, mas garantem que não faz parte da culinária bracarense. Ainda assim, não afastam a possibilidade de incluir na sua própria ementa.
“O prato não é daqui e eu não conhecia até há pouco tempo. Mas é bom e pode ser que entre na nossa carta no futuro”, disse o dono de um restaurante na Rua do Souto a O MINHO.
O facto é que, de acordo com historiadores e jornalistas de São Paulo, é mesmo um prato brasileiro. A origem mais aceite é de um restaurante da cidade de Santos, a mesma do clube que revelou jogadores como Pelé e Neymar.
De acordo com o relato do antigo jornalista Olao Carmo Rodrigues, do Almanaque de Santos, um grupo de pessoas foi a um restaurante perto do seu encerramento, e o cozinheiro alertou que já não havia muita coisa. Como era tarde e a fome era grande, eles aceitaram que o chef improvisasse um prato com os ingredientes que restavam. Os cliente gostaram e até regressaram para pedir o mesmo.
Porém, o tal cozinheiro era conhecido como “sr. Braga”, e como a base do prato era arroz, veio o então “arroz do Braga”. O chef resolveu apostar na receita, fez sucesso, outros restaurantes copiaram, e logo se popularizou em São Paulo, cidade em pleno crescimento na época.
A meio do século passado, era comum os restaurantes paulistanos terem “o prato do dia”, e a receita do “arroz do Braga” passou a ser “arroz de Braga”, a escolhida para as quintas-feiras, levando a que o prato começasse a ser associado à cidade de Braga e não ao cozinheiro original e o seu restaurante. que acabaram esquecidos.
Nesta mesma altura, e emigração era grande, e muitos portugueses chegavam ao Brasil e também à capital paulista. Por ser um prato com ingredientes simples e baratos, e com algumas semelhanças com pratos familiares, tais como o arroz de pica no chão, o arroz à lavrador, o arroz de pato e até o arroz à valenciana, os emigrantes portugueses aceitaram o nome e “adotaram” como sendo um prato tipicamente português.
Com o tempo, além de ser um prato para comer nos restaurantes, tornou-se numa receita típica caseira e confortável, que passa de mãe e de avó, podendo até mudar ingredientes. Há quem troque o frango pelo bacalhau, muito à português.
Agora, chega ao local de onde involuntariamente ganhou a fama e pode até entrar em cardápios dos restaurantes de Braga.