A Embaixadora da Ucrânia na República Portuguesa, Inna Ohnivets, diz, em entrevista a O MINHO, que “a morte do cidadão ucraniano por factos ocorridos no espaço equiparado a Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, a 12 de março de 2020, é uma tragédia para a família do falecido cidadão ucraniano e para todos nós”.
“O caso está a ser investigado judicialmente, as pessoas envolvidas estão a ser processadas (o Ministério Público já acusou formalmente os três inspetores pela prática de um crime de homicídio qualificado e de um crime de detenção de arma proibida, 12 elementos do SEF estão sob alçada disciplinar na sequência deste caso)”, salienta. Neste contexto, a Embaixada da Ucrânia “congratula-se com o facto de, no dia 10 de dezembro, o Conselho de Ministros ter decidido assumir, em nome do Estado, a responsabilidade pelo pagamento de uma indemnização pela morte do cidadão ucraniano”.
A Embaixada “apela a que o processo na justiça seja justo e realizado imparcialmente” e “tem esperança de que o processo de indemnização à família do falecido Ihor Homeniuk (alegadamente assassinado em março no aeroporto de Lisboa pelo SEF- Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), conduzido pela Provedora de Justiça, Maria Lúcia Amaral, seja concluído com a maior celeridade”.
Carta para a viúva
Sublinha que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, entregou sexta-feira, no dia 11 de dezembro, uma carta para a viúva, Oksana Homeniuk, onde dá conhecimento da decisão do Governo de pagar uma indemnização à família do imigrante ucraniano e reforça as condolências. A Embaixada no dia 11 de dezembro informou Oksana Homeniuk sobre a carta e a decisão do Governo; a carta e a Resolução do Conselho de Ministros foram traduzidas pela Embaixada e no dia 12 de dezembro foram recebidas pela viúva.
A Embaixadora destacou que no dia 30 de março aconteceu a conversa telefónica com o ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva. O ministro Silva expressou sinceras condolências à família do falecido cidadão ucraniano, que foram transmitidas pela Embaixada da Ucrânia à viúva do Ihor Homeniuk por telefone.
Adicionou também que no dia 8 de abril tive uma reunião com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, durante qual o ministro transmitiu sinceras condolências à família do Ihor Homeiuk. Essa mensagem de condolências foi enviada pela Embaixada à Oksana Homeniuk por telefone.
Relações de amizade
A Embaixadora Inna Ohnivets diz estar “convencida de que este caso não prejudicará o nível de relações de amizade entre nossos países, dado que a parte portuguesa está empenhada em promover a investigação e punição imparcial dos responsáveis por este crime”.
“Temos um alto nível de relações bilaterais na esfera política. A Ucrânia agradece que Portugal sempre tenha apoiado a integridade territorial e a soberania do nosso Estado, bem como a política de sanções da UE contra a Rússia”.
E acrescenta: “A prova do desenvolvimento do diálogo político foi a visita oficial do ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, a Portugal, em setembro do ano corrente. Durante a visita, o ministro ucraniano manteve reuniões com o seu homólogo português ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, tendo sido assinado o Roteiro entre Ucrânia e a República Portuguesa para o período 2020-2022. Os ministros também tocaram no assunto da morte do cidadão ucraniano; o ministro Dmytro Kuleba apelou a que se fizesse justiça, baseada nos resultados da investigação, e disse esperar que o tribunal aplicará uma pena adequada a quem praticou este crime.”
Cooperação em alta
“Também estamos satisfeitos com o alto nível de cooperação na esfera comercial e económica. Neste contexto, consideramos como muito importante a celebração da terceira reunião da Comissão Mista Ucraniano-Portuguesa para a Cooperação Económica, prevista para o primeiro semestre de 2021.”
Sobre a comunidade do país a residir em Portugal, salienta que se distribui por todo o país, tanto nas zonas urbanas, como nas zonas rurais, com uma forte concentração nos principais centros industriais e grandes cidades. Os ucranianos em Portugal estabeleceram-se como uma nação trabalhadora, a qual foi bem recebida na sociedade portuguesa.
De acordo com os dados do SEF, nos últimos anos, verificou-se um aumento no número de estrangeiros que receberam visto de residência em Portugal. Os cidadãos da Ucrânia ocupam o 5º lugar em termos das pessoas legalizadas.