A esmagadora maioria dos agentes das forças de segurança (PSP e GNR) que marcaram presença na concentração, esta sexta-feira, no Hospital de Braga eram do Norte do país mas havia quem tivesse vindo de Lisboa e Setúbal de propósito para se juntar ao Movimento Zero. “Os verdadeiros coletes amarelos de Portugal” como lhe chamou um popular que aderiu à manifestação.
O movimento não tem um rosto, tem vários rostos de todos aqueles que se quiseram juntar à concentração que chamou a atenção para as condições cada vez mais precárias dos agentes da autoridade. A força do movimento é o silêncio: não prestam declarações públicas e apenas comunicam através das redes sociais.
“O tempo da carolice acabou!” foi das poucas frases ouvidas em surdina e demonstra a vontade do Movimento em fazer ouvir a sua voz. Hoje, o pretexto foram as recentes tentativas de suicídio ocorridas em diferentes contextos, no futuro, a luta poderá abarcar outros aspectos do seu dia a-dia.
“É lamentável o contínuo silêncio da parte de quem nos tutela, sobre o flagelo das tentativas de suicídio nas forças de segurança que, infelizmente, muitas vezes acabam em morte”, lamentava o Movimento Zero no manifesto que publicou nas redes sociais, a propósito desta concentração, e onde lançavam a pergunta : “como é alguém capaz de vir a público e afirmar que está tudo bem? Não, não está tudo bem!”
Esta sexta-feira ao final da tarde, o momento mais emotivo da concentração aconteceu quando o filho do oficial que, recentemente, tentou por fim à vida numa esquadra em Braga, se dirigiu às centenas de participantes para dar conta do estado do pai.
“Tem melhoras visíveis. Já saiu dos cuidados intensivos para os cuidados intermédios e o seu estado está a evoluir favoravelmente”. Depois agradeceu a presença de todos e uma prolongada salva de palmas homenageou o polícia, dando por terminada, mais de uma hora depois, a concentração. No ar ficou a promessa de novas acções de luta.
Foi transportado para o hospital – depois de, segundo O MINHO apurou, ter sido assistido por uma equipa do INEM, na qual se encontrava o seu filho de serviço – sendo o prognóstico, segundo Peixoto Rodrigues, “muito complicado”.
No mesmo dia, presidente adjunto da Federação Nacional dos Sindicatos de Polícia, Peixoto Rodrigues, disse que ia pedir à Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar os casos de suicídio registados este ano na PSP.
Em declarações à Lusa, a propósito da alegada tentativa de suicídio do comissário da PSP de Braga, Peixoto Rodrigues acusou ainda o Estado de contribuir para a instabilidade psicológica dos profissionais de polícia e instou-o a criar “melhores condições de trabalho e de carreira”.
“Vamos pedir à PGR que investigue os suicídios e tentativas de suicídio que este ano aconteceram na polícia. Isto não pode ficar só pela rama. É preciso que o Ministério Público investigue em concreto para perceber o que está em causa e para, se for caso disso, apurar responsabilidades”, referiu.
“Este ano, e além do caso de hoje [terça-feira], já se suicidaram três polícias. É preciso perceber o que se está a passar e é isso que vamos pedir à PGR”, frisou o dirigente sindical.
Peixoto Rodrigues disse que “há muitos polícias que estão ao serviço com problemas complicados” do foro psicológico e psiquiátrico e criticou a falta de acompanhamento médico especializado.
“Os gabinetes de psicologia não funcionam”, indicou, defendendo que o Estado “tem obrigação de criar melhores condições” aos profissionais da segurança pública e de “respeitar” os contratos que com eles celebrou, nomeadamente no que respeita à aposentação.
Agentes da PSP de Braga queixam-se de maus cheiros e baratas nos vestiários
“O Estado só tem dificultado a vida aos polícias. Os sucessivos governos têm alterado sistematicamente as regras do jogo, sempre penalizando mais e mais as suas condições laborais. Este comissário que hoje [terça-feira] tentou pôr termo à vida já devia estar na pré-reforma, mais vai-se protelando ao máximo a saída. O contrato que ele fez com a PSP não foi este”, acusou Peixoto Rodrigues.
* c/ Lusa