Viana do Castelo viu, em 30 anos, a construção naval no auge e o seu declínio, lançando centenas no desemprego, enquanto o Programa Polis, tentando demolir um prédio, revolucionava uma cidade que até esteve para ‘perder’ o seu castelo.
Na década de 1980, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) apresentaram os melhores resultados de sempre, fruto das encomendas da então União Soviética. Entregavam-se navios, em média, “de dois em dois meses” e a cidade “orgulhava-se do seu construtor naval”.
“Os ENVC faturavam, por ano, mais de 50 milhões de euros e animavam a economia local com mais de 10 milhões de euros em encargos sociais”, afirma Gonçalo Fagundes, antigo trabalhador e autor de vários trabalhos sobre a história da empresa.
Fundada a 04 de junho 1944, a empresa atingia, em 1989 o último ano com saldo positivo, 2,4 milhões de euros. Depois dessa data, as contas da empresa nunca mais saíram do vermelho e, em 2011, atingiam um passivo superior a 200 milhões de euros. Para trás ficam planos de reestruturação encetados pelo acionista Estado e a tentativa, falhada, de privatização.
No auge da construção, os ENVC empregavam 2.000 trabalhadores. Em 2014, quando foram subconcessionados à Martifer, tinham 600 trabalhadores.
“Foi uma perda significativa, mas com franca recuperação, considerando que a construção naval permaneceu na cidade”, considera o sindicalista Branco Viana.
Segundo o sindicalista, o grupo privado “já contratou duas centenas de ex-trabalhadores da empresa pública”. Dos restantes, “cerca de 200 encontraram trabalho em empresas no país e estrangeiro, os outros aguardam o acesso à reforma, e cerca de meia centena, quando terminar o subsídio de desemprego, não vão reunir condições para a aposentação”.
Atualmente, a Martifer tem em carteira encomendas de 100 milhões de euros, entre elas dois navios-patrulha oceânicos (NPO) para a Marinha portuguesa.
A resolução do contrato assinado em 2010 com a Venezuela para a construção de dois navios asfalteiros é um dos processos que impede a liquidação dos ENVC.
Mas nem tudo é estaleiros neste concelho e outros dramas se viveram nos últimos 30 anos por motivos bem menos materiais.
No início da década de 1990, o recém-eleito presidente da Câmara, Branco de Morais, anunciava a intenção de mudar o nome da cidade, retirando o Castelo a Viana.
“Orgulho-me de ter lançado essa discussão porque tinha e continuo a ter razão. Lamento não ter sido mais teimoso”, afirma.
Responsável pelo primeiro Plano Diretor Municipal do país, Branco de Morais destaca ainda os “cerca de quatro mil postos de trabalho” criados no seu único mandato e o início, com o congénere da Galiza, Fraga Iribarne, do estreitamento de relações com os municípios galegos.
A intenção de recorrer a financiamento comunitário para cortar o prédio Coutinho até ao sexto piso chegou a ser anunciada pelo antigo autarca independente eleito pelas listas do PSD, que hoje garante ter-se tratado “apenas de uma hipótese”.
“Não passou disso. Nunca mais pensei no assunto “, frisa.
Para o seu sucessor, o socialista Defensor Moura, que governou o município durante 16 anos (1993-2009), o programa Polis, que prevê a demolição do edifício de 13 andares “foi apenas um dos aspetos da requalificação urbana iniciada a partir de 2001”.
“O prédio Coutinho só teve importância mediática por ser exemplar. E vai ser exemplar”, sustenta.
Mais de 15 anos depois, a demolição do prédio, para dar lugar ao novo mercado municipal, continua por fazer, travada por processos judiciais movidos pelos moradores, que já custaram mais de 563 mil euros.
Independentemente do que aconteça ao prédio Coutinho, o Polis já deixou como herança uma nova relação da cidade com o rio, graças a uma frente ribeirinha totalmente recuperada, onde se encontram equipamentos públicos da autoria de nomes como Siza Vieira e Souto de Moura e que acolhem bibliotecas e outros equipamentos municipais.
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