Os candidatos presidenciais Ana Gomes e André Ventura estiveram esta noite num frente a frente na TVI, com o líder do Chega a invocar o passado da diplomata enquanto que a candidata acusou Ventura de ser “vil”.
Ana Gomes abriu o debate, desafiada pelo jornalista, a afirmar que já enfrentou “muitos diabos” ao longo da vida e “sempre soube que era preciso para lidar com eles”: “E os diabos que quero lidar no meu país são os que querem impor ditaduras”.
André Ventura devolveu afirmando que ficar à frente de Ana Gomes é uma questão política, “para derrubar esta esquerda que leva à corrupção”, e não uma questão pessoal.
A socialista demarcou-se do possível empate que as sondagens têm vindo a mostrar, e disse que o seu adversário principal é Marcelo Rebelo de Sousa.
“Os portugueses viram o que aconteceu no Capitólio. É exatamente isso que eu quero que não se passe no nosso país, mas é isso que certas forças, como a representada pelo senhor deputado, querem”, afirmou, apontando a André Ventura.
Ventura, questionado pelo jornalista, admitiu não apoiar o que aconteceu nos Estados Unidos: “Nenhum candidato democrático pode apoiar ações dessas contra as instituições”.
MRPP
“Ana Gomes afirma que representa a democracia mas quer ilegalizar o meu partido e relembro que militou no MRPP, que pedia morte aos traidores”, disse Ventura.
“O MRPP destruiu fábricas, deram cabo de famílias e Ana Gomes não se demarca do passado e eu é que sou o anti-democrático. Não há como fugir do seu passado, defendeu sair do Euro, da UE e foi de um partido que proclama morte aos traidores”, acrescentou.
Em resposta, Ana Gomes revelou que ainda tem uma cicatriz de uma “vergastada de um PIDE”: “Saí do MRPP em janeiro de 76 onde era soldado raso, o líder era Durão Barroso, do PSD. Este senhor diz que é pela ditadura das pessoas de bem, mas pessoas de bem, nenhuma é por ditadura”.
Ventura respondeu que a ditadura de pessoas de bem é o “contrário de ter metade do país a trabalhar para o outro”. “Eu quero mudar isso, quero mudar a constituição, não gosto dela”.
“Eu sou pela defesa da constituição, é uma questão de civilização, de não voltar à idade média, daqui a pouco pedem que se corte as mãos a ladrões”, disse Ana Gomes. “A alguns não fazia mal”, retorquiu Ventura.
Ana Gomes acusa André Ventura de falta de coerência por “ter trabalhado na autoridade tributária” e depois ter ido “ajudar ricos a pôr dinheiro em offshores”. “Não esperava isto da doutora Ana Gomes”, respondeu o líder do Chega.
André Ventura voltou a afirmar que a “maioria dos países da UE” têm pena perpétua no sistema judicial. “Não podemos ter bandidagem cá fora sem pagar pelo que fez. Só estes candidatos do século passado não querem prisão perpétua”, disse.
Paulo Pedroso
“Quero dizer uma coisa. Tem um diretor de campanha que é Paulo Pedroso. Acho que é uma vergonha uma candidata apresentar-se a eleição com um nome que moveu influência no caso [Casa Pia] e impedir que justiça fosse feita. Foi a associação sindical dos juízes portugueses e o STJ que disseram isso”, acusou.
O jornalista relembrou que Paulo Pedroso foi absolvido e até indemnizado pelo Estado, ao que André Ventura garantiu ter havido “tentativas de condicionar”.
Ana Gomes mostrou-se indignada e afirmou que o deputado “tem truques para arrastar para a lama quem debate com ele”. “Mas não será o meu caso. Sou mãe, avó de sete netos e repudio qualquer tentativa de insinuação deste senhor em me associar com quaisquer práticas criminosas”, respondeu, afirmando que Ventura “ajudou o patrão de Sócrates, Lalanda e Castro, a não pagar um milhão de euros em impostos.
André Ventura disse que era mentira e que foi apenas inspetor da autoridade tributária. Ana Gomes retorquiu: “Confio inteiramente em quem trabalha comigo e não aceito os insultos vis”. “Não são meus, são do STJ”, respondeu Ventura.
Ilegalizar o partido
André Ventura voltou a exibir fotografias no debate. Depois de exibir uma onde Ana Gomes aparecia associada ao MRPP, o líder do Chega mostrou uma fotografia onde Ana Gomes aparece abraçada a José Sócrates, durante uma campanha eleitoral.
“Falou aí do Sócrates mas não fui eu que andei aos abraços com ele. Gosto da moralidade desta senhora de falar do patrão deste e daquele quando andava aos beijinhos há uns anos. Sócrates deve-se estar a rir a ver isto”, constatou Ventura.
Ana Gomes, questionada pelo jornalista, admitiu que irá pedir a repreciacao da constitucionalidade do partido Chega. “Não podemos ignorar, é ler o programa deste partido que foi legalizado com assinaturas falsas, incluíndo pessoas já falecidas”.
André Ventura respondeu: “Mas está legalizado”. “É inacreditável que a investigação no Ministério Público ainda não tenha conclusões”, desabafou a ex-eurodeputada.
O debate abordou ainda as questões da saúde, do adiamento das Presidenciais e uma suposta publicação de um dirigente do PAN, partido que apoia Ana Gomes, onde era incitada a violência contra polícias.
Nas perguntas finais, Ana Gomes disse que Marcelo desvendou um estilo mais “coelhinho” de André Ventura nas reuniões privadas, mas que no debate parecia um “gatarrão”. “Qual o registo que utilizou com Marine Le Pen?”, perguntou.
Ventura disse que ficou mal ao atual Presidente da República ter revelado “conversas privadas de Belém”, e não respondeu a Ana Gomes. Perguntou-lhe, no entanto, se iria manter Paulo Pedroso na campanha, ao que a diplomata respondeu afirmativamente.