Variações, o António de Amares, morreu há 35 anos

António Joaquim Rodrigues Ribeiro nasceu em Fiscal, Amares, a 03 de dezembro de 1944. Morreu no dia 13 de junho de 1984, dia de Santo António, com 40 anos
António com a mãe, Deolinda de Jesus. Foto: DR

Nasceu em Fiscal de Amares, no Minho, a 3 de Dezembro de 1944. Morreu a 13 de Junho de 1984. António Variações, 35 anos depois continua a ser lembrado por todos. A mais recente homenagem é um filme inspirado na sua vida. Daqui a cinco anos, um museu nascerá na sua terra natal.

1956. Com apenas 12 anos, António Joaquim Rodrigues Ribeiro, um nome tão português, chegava a Lisboa para cumprir uma profunda determinação pessoal: deixar a vida rural, na freguesia de Fiscal, em Amares, onde vivia com os pais Deolinda de Jesus e Jaime Ribeiro para abraçar um mundo diferente.

O facto de a irmã Lurdes já viver na capital, ajudou o pequeno António a procurar o seu sonho, deixando, assim as deficientes condições de vida. Fez a quarta classe na terra Natal, começou a trabalhar cedo mas “sempre com a ideia firme de ir para Lisboa” como diz Manuela Gonzaga no seu livro ‘António Variações, Entre Braga e Nova Iorque’.

Foto: DR

Começou como marçano, estudava à noite. A biógrafa diz que “era culto. Gostava de arte popular e comprava coisas que muita gente considerava lixo, em sítios como a Feira da Ladra. Também ia ao teatro, ao D. Maria II, ver peças clássicas. O António fez-se a si próprio, em termos culturais”.

Viveu num quarto alugado e não perdia oportunidade de ir ao cinema, ao teatro, de ouvir concertos e de começar a criar os seus primeiros temas. Quem o visitou nessa altura recorda: “ele elevou o patamar do kitsch a uma forma de cultura a que nós não estávamos ainda habituados. As paredes de casa estavam pintadas de verde, tinha coleções de arte das Caldas da Rainha, numa altura em que a louça das Caldas não estava na moda como está hoje”, ainda segundo Manuela Gonzaga.

Foto: DR

O estilo irreverente começou muito antes da música, numa altura em que opta por ser cabeleireiro. Seria esse estilo que marcaria uma época e um cantor que todos consideravam “tímido e meigo”.

Com Luís Carlos Amaro formou os ‘Jovem Banda’ que veria um tema sair numa das compilações da Ama Romanta. O percurso musical começa a dar os primeiros passos, cantando em bares e clubes antes de se ligar à Valentim de Carvalho.

No serviço militar feito em Luanda chegou a ser vocalista de uma banda. Em Lisboa, participou em festivais amadores, chegando a ganhar algum deles. O 25 de Abril seria uma epifania para António, afirmando a sua irreverência e a sua veia musical.

Valentim de Carvalho

Conta a ‘lenda’ que teria sido a apresentadora de televisão, Maria Elisa, a apresentar António Ribeiro, seu cabeleireiro, ao responsável pela editora Valentim de Carvalho, de quem era amiga. A falta de reportório para o músico deixou as coisas, durante um ano, ‘em águas de bacalhau’, altura em que volta a aparecer na vida do responsável da editora, com quem assina contrato.

Ainda assim as coisas não seriam fáceis, com advogados à mistura, e os primeiros temas são gravados com ‘Voz Amália de Nós’ e ‘Deolinda de Jesus’ no lote. Mas o disco não saiu.

Foto: DR

A estreia aconteceria em 1982 com um single onde estavam os temas ‘Estou Além’ e ‘Povo que Lavas no Rio’. Aqui já com o nome de António Variações entretanto adotado.

Júlio Isidro

Júlio Isidro conheceu Variações no cabeleireiro onde cortava o cabelo. Pediu-lhe uma cassete e um contacto telefónico. Entrega-lhe uma cassete com o tema ‘O Comprimido’. O mais famoso apresentador de televisão dos anos 80 ouviu e telefonou-lhe imediatamente.

Vídeo: Júlio Isidro entrevistou António Variações em janeiro de 1984, ano da sua morte

Na reunião de produção apareceu com um traje de toureiro e na televisão umas calças aos quadrados pretos e amarelos e uma blusa enorme, tudo muito colorido e exótico. Levava os bolsos cheios de smarties que atirou no final da canção.

Antes de editar o que quer que fosse em disco, António impressionou meio mundo com a sua primeira aparição televisiva, no programa Passeio dos Alegres, onde interpretou os temas “Toma o Comprimido” e “Não Me Consumas” que nunca chegaram a fazer parte do alinhamento de nenhum dos seus discos.

Seria o princípio de uma carreira que se revelaria mais curta do que o desejado por todos.

Discos

O primeiro álbum de António Variações foi editado em 1983 e recebeu o título de ‘Anjo da Guarda’. Incluía canções como ‘É P’ra Amanhã’ e ‘O Corpo é que Paga’ e era dedicado a Amália Rodrigues, a sua maior musa.

No ano seguinte, com os Heróis do Mar, António Variações regista o seu último álbum, ‘Dar e Receber’, que incluía a enorme ‘Canção de Engate’.

Variações deixa-nos no dia de Santo António, em 1984, e nunca chega a perceber o alcance da sua obra, que tem atravessado gerações com a mesma força perene que a viu nascer.

Em 1987, os Delfins gravam a sua ‘Canção do Engate’ e Lena d’Água faz o mesmo com ‘Estou Além’. Em 1989, esta última dedica o álbum ‘Tu Aqui’ a Variações, e nele inclui cinco inéditos do músico.

Alguns deles viriam a integrar o projecto Humanos, que em 2004 dá corpo e voz a uma verdadeira homenagem ao músico minhoto.

Museu

São apenas 100 metros quadrados mas a freguesia de Fiscal já reservou o espaço para instalar um museu de homenagem a um filho da terra. António Variações, que já tem um busto em lugar de destaque, é “um nome incontornável da nossa freguesia” começa por dizer o presidente da junta, Augusto Macedo, a O MINHO.

“O projeto do museu é uma das nossas bandeiras que, por dificuldades financeiras, ainda não conseguimos concretizar. Mas a minha convicção é que nos próximos cinco anos, teremos um museu Variações em Fiscal”.

Até porque, segundo o autarca, “o projeto não é muito difícil de fazer. O edifício da antiga junta já tem um espaço reservado. Por isso, o que precisamos é reconvertê-lo em espaço museológico e teremos que fazer obras de adaptação”.

35 anos da sua morte

Uma série de homenagens estão programadas para o dia de hoje, lembrando os 35 anos da morte do cantor. Em Fiscal, há uma homenagem e uma surpresa no cemitério paroquial da freguesia, que decorre a partir das 18:45.

Foto: O MINHO

Rogério Braga, cantor e música da Vila de Prado, foi convidado pela Comissão Promotora da Homenagem a António Variações para interpretar a música “Quero é Viver”, com acompanhamento de um trio de cordas.

Haverá ainda a declamação de um poema inédito e a deposição de uma grinalda de rosas na campa do cantor.

 
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