O regresso do urso-pardo (Ursus arctos) a território português era bem visto pela sociedade portuguesa, aponta um estudo publicado em dezembro pela revista Conservation Science and Practice.
O último urso a viver em território nacional terá sido morto em 1843, na zona da serra do Gerês.
O estudo ouviu académicos, investigadores, autarquias, organizações não governamentais de ambiente, gestores cinegéticos e da área do turismo, representantes de associações pecuárias e do setor florestal, entre outros agentes do território.
Os inquiridos foram positivos quanto ao regresso dos ursos pardos a Portugal. Consideraram que, em geral, os ursos pardos “não são perigosos”.
Nos resultados do estudo, consultados por O MINHO, os inquiridos consideram que a sua presença não os faria “sentir-se inseguros e estão preparados para lidar com encontros com ursos”.
“O regresso dos ursos a Portugal é mais uma oportunidade do que uma ameaça”, lê-se nas conclusões do estudo “Perceptions and attitudes of stakeholders on the return of brown bears (Ursus arctos): Contributions from a workshop held in northern Portugal“.
“Os entrevistados consideram que estão dispostos a ajustar as suas atividades para partilhar a paisagem com os ursos ou mesmo assumir os custos envolvidos em viver com os ursos”, nota.
Os autores consideraram que esta opinião favorável se deve à composição da amostra, mas também à ausência de ursos e de conflitos na região durante quase 180 anos. As mudanças sociais e culturais nas áreas rurais desde então também podem estar por trás deste resultado.
O urso-pardo extinguiu-se em Portugal no século XIX, mas foi avistado, em 2019, na zona do Parque Nacional Peneda-Gerês. O avistamento foi confirmado oficialmente pelas autoridades portuguesas.
Mais ursos podem chegar em breve
De acordo com o estudo publicado na Conservation Science and Practice, é “provável que mais ursos cheguem a Portugal em breve”.
“O Norte de Portugal está próximo da ameaçada população de ursos pardos da Cantábria (cerca de 100 km em linha reta), que tem crescido rapidamente nos últimos anos, particularmente no lado ocidental da sua área de distribuição permanente. Esta situação aumenta as chances de a dispersão dos ursos chegar ao Norte de Portugal, um habitat adequado para a recolonização do urso pardo”, nota.
O urso-pardo habita a Península Ibérica, estando-se a registar um aumento da população na zona da Cantábria (Norte de Espanha). O animal poderá chegar aos 2,80 metros e alimenta-se de frutos secos, formigas, ervas, bagas e mel.