Trabalhadores de tinturaria em Barcelos ficam em casa à sexta para poupar no gás

Fatura do gás aumentou de 60 mil para 400 mil euros

Cerca de 110 trabalhadores da Tinamar, em Barcelos, não estão a trabalhar à sexta-feira para que a empresa possa reduzir os gastos com a energia, sobretudo em relação ao gás natural, que sofreu um aumento brutal desde o início do ano.

Manuel Pinheiro, administrador daquela tinturaria sediada em Mariz, explicou a O MINHO que a fatura do gás natural passou de uma média de 60 mil euros, em 2021, para 400 mil euros, já nos meses deste ano, algo que, classifica, é um aumento “incomportável” para qualquer empresa que queira trabalhar a bom ritmo.

Foi, por isso, necessário encontrar soluções no curto prazo (e também no longo) para atenuar estes custos, sendo que uma delas foi a redução de horas de trabalho para reduzir também o consumo de gás e eletricidade.

” Estamos à procura de alternativas para minimizar [os gastos], uma delas mais imediata é tentar reduzir a laboração, mantendo o compromisso com os clientes e com os colaboradores de mantermos a empresa em funcionamento, mas tentando minimizar esses prejuízos trabalhando o mínimo de horas possível”, adiantou.

Por isso, esclarece, os colaboradores da empresa ficam em casa à sexta-feira, dia em que a produção fica parada, contando assim com menos quatro a cinco dias por mês no bolo final da fatura da energia que, em em termos globais, sofreu um aumento, segundo a empresa, de 550% em relação a 2021.

Manuel Pinheiro já só concebe o futuro da empresa com recurso a alternativas ao gás natural e à eletricidade, para que possa sustentar-se, uma vez que, por exemplo, se a fatura de um mês é de 400 mil euros, e o apoio anual que o Governo pretende atribuir é do mesmo valor, pouco resta para cobrir outras despesas que também inflacionaram, como é o caso das matérias-primas e até dos custos com os trabalhadores.

“Nós estamos a tentar encontrar alternativas que sejam mais económicas e que permitam a viabilidade da empresa, porque com estes cutsos de energia, aos quais se associam os aumentos de todas as matérias-primas, produtos químicos, do pessoal, ou seja, tudo contribuiu para um aumento brutal”, referenciou.

A curto prazo, Manuel Pinheiro decidiu investir na energia a fuelóleo, um destilado do petróleo, que fica mais barato, mas é também mais poluente que os recursos utilizados anteriormente. Mas a administração, para já, não consegue encontrar outra solução.

A longo prazo, no entanto, a empresa vai laborar com apoio de uma caldeira de biomassa, que deverá funcionar com recurso à queima de pellets. “Mas é um investimento bastante elevado e demora a ser instalado – cerca de nove meses – por isso ainda vamos ter de esperar muito tempo até conseguirmos usufruir dessa alternativa”, confidenciou o empresário.

Sobre o apoio do Governo, de cerca de 400 mil euros anuais para as empresas, Manuel Pinheiro não mostrou grande otimismo. Conforme já assinalado nesta peça, o “apoio de 400 mil euros por empresa, no nosso caso, mal chega para pagar a fatura do mês do gás natural”.

Questionado sobre o aumento do preço dos combustíveis, embora admita que também é “um problema”, no caso da Tinamar “não é muito relevante”, porque só tem “dois ou três camiões” na distribuição aos clientes.

“Uma coisa é termos fatura de gasóleo de 500 euros e passar a ter de 1.000: é um aumento alto. Mas a do gás passa de 60 mil para 400 mil euros. Isso sim, é alarmante”, concluiu.

 
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