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A designada “Guerra dos Bairros”, que opõe os grupos rivais dos bairros de Fujacal e das Enguardas, na cidade de Braga, está ao rubro, com uma “Lista de Morte” a circular em grupos restritos das redes sociais e já na posse das autoridades. Na madrugada de sábado, foi baleado o quarto elemento daquela listagem, que visa cerca de uma dezena de jovens de Braga.
Tal como O MINHO noticiou, um membro do Grupo do Fujacal foi baleado com três tiros disparados à queima-roupa, alegadamente por um elemento do Grupo das Enguardas, cerca da uma hora da madrugada, na zona dos bares académicos, em Braga, na sequência da guerra sem quartel que há mais de meio ano é protagonizada pelos jovens rivais.
Elton Mapiche, de ascendência africana, conotado com o chamado Grupo do Fujacal, baleado numa perna, num braço e na anca, foi operado de urgência na Sala de Emergência do Hospital de Braga, não correndo perigo de vida, mas pelo menos para já continua a ter alojados dois dos três projéteis com os quais foi atacado.
A vítima terá sido surpreendida quando por volta da uma hora da madrugada de sexta-feira para sábado se dirigia a um restaurante, na Rua dos Peões, nas imediações do Campus de Gualtar da Universidade do Minho, para comprar comida e levar consigo.
Segundo fontes policiais, elementos do rival Grupo das Enguardas, também da cidade de Braga, terão apanhado o jovem desprevenido, realizando pelo menos sete disparos em direção a Elton Mapiche, atingido com três tiros.
A PSP de Braga, enquanto dava apoio às forças de socorro, desencadeou uma autêntica caça ao homem (o principal suspeito já está desde então identificado), mas não foi detido nem o alegado autor dos disparos, nem nenhum dos outros suspeitos que o acompanhavam e também estariam na posse de armas de fogo, segundo testemunhas oculares.
O piquete da Polícia Judiciária de Braga foi alertado pela PSP, tendo enviado logo para o local peritos da equipa de cenas de crimes e inspetores da sua Brigada de Homicídios, que está já a investigar aquele que é o terceiro ataque a tiro na via pública em menos de oito meses, na cidade de Braga.
Na origem destes sucessivos incidentes que continuam a causar algum receio, em Braga, estarão atos recíprocos de afirmação social, pois ambos os grupos pretenderão ter a supremacia um em relação ao outro.
A eventual luta pelo território – há suspeitos com antecedentes de tráfico de droga de ambos os lados da barricada – será uma questão secundária e o agravamento dos conflitos terá começado há menos de um ano, quando uma mulher deixou de namorar com um dos elementos de um grupo e passou a manter uma relação amorosa com um membro do grupo rival.
“Lista de Morte”
Elton Mapiche foi o quarto de um grupo de alvos constantes de uma denominada “Lista de Morte”, cujas fotografias circulam em circuitos restritos, visando alegadamente cerca de uma dezena de jovens conotados com o Grupo do Fujacal, sendo que as autoridades policiais já estão na posse da lista.
Os dois primeiros ataques
Este é o terceiro ataque a tiro entre os rivais, sendo que este último, conotado com jovens de etnia cigana, é alegadamente apoiado por um terceiro núcleo, o Grupo do Picoto, apesar de ter vários elementos em prisão preventiva por outros crimes.
O primeiro e mais grave tiroteio ocorreu na noite de 05 para 06 de setembro de 2020, na Praça dos Arsenalistas, na Urbanização do Fujacal, quando três jovens do Grupo do Fujacal foram atingidos a tiro por um grupo que seguia num carro sempre em andamento.
Dos incidentes resultaram três feridos a tiro, dois dos quais continuam a ser seguidos no Hospital de Braga.
O segundo caso, apesar de muito aparatoso, não teve feridos, tendo ocorrido na noite de 18 de março de 2021, quando a casa de um jovem, ligado ao Grupo do Fujacal, mas ultimamente a residir em Nogueira, também em Braga, foi crivada de tiros de espingarda caçadeira, na sequência de pichagens que terão sido feitas nas Enguardas. Nesse mesmo dia, no Bairro das Enguardas, foram disparados tiros, alegadamente por membros do Grupo do Fujacal, que não feriram os alvos, todos de etnia cigana.
Três presos preventivos
Pelo segundo ataque entre os grupos rivais dos dois bairros sociais de Braga, cometido em 18 de marco deste ano, ficaram nessa ocasião três suspeitos presos preventivamente, um dos quais, o mais novo, um estudante de 21 anos, que se encontra em prisão domiciliária com pulseira electrónica, isto é, com obrigação de permanência na habitação, em Nogueira, Braga, vigiado por controlo remoto.
Suspeitos violentos e alguns detidos
Os principais suspeitos do ataque da madrugada de ontem junto dos bares académicos de Braga são tidos pelas autoridades policiais como violentos, “constituindo um perigo iminente”, apesar de parte do grupo já estar presa.
O principal problema? Terem acesso a armas com calibre de guerra, que têm vindo ultimamente a utilizar contra as vítimas, com disparos sucessivos que somente por “milagre” ainda não causaram mortes. Se todos os suspeitos estivessem em liberdade, o cenário poderia ainda ser muito pior.
É que os ataques – pelo menos três são conhecidos da PSP e da PJ, em cerca de oito meses – têm sido todos cometidos com “intenção de matar”, segundo ambas as forças policiais, porque a proximidade dos disparos em relação às vítimas, o tipo de armamento e a forma “desinibida” como tem sido usada, pressupõem, sempre nos três referidos casos, que a intenção de ambos os grupos contendores nunca terá sido de “aviso”, isto é, “não só para assustar”.
As autoridades policiais, que não escondem as preocupações com esta guerra entre os dois grupos rivais de Braga, destacaram ainda haver entre os suspeitos gente já com experiência em unidades especiais do Exército Português.
Os suspeitos atualmente presos, alegadamente, estarão a enviar “ameaças cá para fora”, pelo que se forem brevemente libertados, como é admitido nos meios policiais, dada a proximidade da conclusão das suas penas de prisão, as situações podem inclusivamente “piorar”.