No ano em que celebra 90 anos, a Sanjo, a mais antiga marca de sapatilhas portuguesa que foi comprada em 2019 por dois empresários de Braga, abriu a sua primeira loja física, no coração do Bairro Alto, em Lisboa.
A loja tem 42 metros quadrados, tudo em tons de azul, e nasceu da colaboração com a Sky Walker (SKWR), loja multimarca de estilo urbano.
Esta ligação teve início em 2019 e foi evoluindo de forma natural, originando agora um espaço próprio para a marca nacional, cujo conceito resultou da colaboração entre as duas insígnias.
“A decisão foi fácil. Assim que começámos com a Sanjo, rapidamente percebemos que se houvesse uma marca portuguesa que queríamos representar, essa marca seria a Sanjo”, explica John Borrego, fundador e proprietário da Sky Walker, citado em comunicado.
“Baseámo-nos no diálogo permanente entre o azul do céu e as ruas carregadas de personalidade do Bairro Alto. Quisemos manter a linguagem industrial e fresca que nos caracteriza e que temos vindo a transportar para as pop-ups store’s onde já marcamos presença”, refere Vítor Costa, diretor criativo da Sanjo, igualmente citado no comunicado.
A loja está aberta, de segunda-feira a sábado, entre as 11:00 e as 19:00, no nº16, da rua do Norte.
Nova vida em Braga
Como O MINHO noticiou numa reportagem em 2020, a Sanjo foi comprada por dois empresários de Braga, José do Egipto e Hélder Pinto, apostados em dar uma nova vida à mais antiga e emblemática marca de sapatilhas portuguesa.
Com 90 anos de história, a Sanjo já enfrentou altos e baixos, mas os seus modelos K100 e K200 são icónicos e a marca continua presente no imaginário dos portugueses.
Os novos proprietários apostam na qualidade e conforto dos artigos – daí a produção ter passado a ser 100% nacional – e chegar às gerações mais novas, pois serão elas a garantir o futuro da marca, que agora tem a sua sede na capital do Minho.
Quando propuseram a José do Egipto comprar a Sanjo, inicialmente, o empresário, com historial ligado aos transportes e à medicina do trabalho, descartou essa possibilidade, apesar de a marca lhe dizer muito, porque “quando era miúdo” trabalhou numa loja de desporto que vendia a marca. “E usei Sanjo muitos anos, mas não estava no meu horizonte meter-me no mundo da moda”, contava a O MINHO.
Porém, após insistência, falou do negócio ao sócio Hélder Pinto, com quem havia constituído uma empresa vocacionada para equipamentos de proteção individual e fardamento de trabalho.
Com passado empresarial ligado à moda e ao comércio, Hélder Pinto “ficou empolgado” e o seu entusiasmo contagiou José do Egipto, que confessa: “Ele é que mais me incentivou a comprarmos a marca”.
Tomada a decisão de avançar, começaram as negociações e a compra foi efetivada em janeiro de 2019.
Sanjo, uma longa história
A história da Sanjo remonta a 1933, quando em São João da Madeira, na Companhia Industrial de Chapelaria, começa a ser construída a primeira marca de sapatilhas portuguesa batizada de Sanjo, em honra àquela cidade, ficando estabelecida em 1936.
Só em 1944 é que a fábrica da Sanjo é finalmente construída, tornando-se autónoma e permitindo uma produção de calçado mais séria e dedicada. Em pleno Estado Novo, com leis protecionistas e a propaganda do regime exacerbando a identidade nacional também através do design, a Sanjo torna-se, segundo a história da marca, “o calçado oficial de um país – uma marca que moldou a identidade e o design português”.
Os anos 50, 60 e 70 do século passado foram a época de ouro da marca, que se afirma então como a principal marca de calçado desportivo em Portugal.
Contudo, após o 25 de Abril de 1974 e com a abertura do país ao mercado global, a Sanjo não consegue competir com as marcas desportivas internacionais. A Companhia Industrial de Chapelaria fecha em 1996 e, no processo de encerramento, é perdido o molde das sapatilhas Sanjo.
A marca é comprada em 1997 e, sob nova administração, começa a sua segunda vida, com muito trabalho de pesquisa e investigação para reproduzir o molde perdido. Em 2010, a Sanjo regressa ao mercado com os dois modelos clássicos, K100 e K200.
Por impossibilidade de produzir solas vulcanizadas por questões ambientais em Portugal, a produção passa a ser feita na China. O objetivo era manter as sapatilhas o mais semelhantes possível ao que eram na sua época de ouro, com a sola vulcanizada e a parte de cima de lona. Graças a uma onda de revivalismo nacional, a marca começa a surgir de novo na memória dos portugueses.
Por fim, em 2019, a Sanjo é adquirida pelos empresários José do Egipto e Hélder Pinto, que tomaram logo a decisão de tornar a produção totalmente nacional. Perdeu-se a sola vulcanizada, introduzindo-se uma sola colada com maior consciência ambiental, mas mantendo a típica borracha e a lona tão marcantes da Sanjo.
“Chegámos à conclusão de que sendo a Sanjo um produto tão icónico português não fazia sentido estar a produzir na China”, conclui José do Egipto.