Empresários, funcionários, familiares e fornecedores da restauração e hotelaria de Guimarães voltaram a sair à rua este sábado, dia 21. Desde o Campo de São Mamede até ao largo do Toural os manifestantes marcharam empunhando cartazes com mensagens para António Costa.
“Quanto é que os deputados já perderam com a crise?” – Podia ler-se num dos cartazes. Erma inúmeras as mensagens dirigidas ao primeiro-ministro e ao Governo.
Os manifestantes queixam da “falta de medidas concretas para ajudar o setor”. O apoio proposta pelo Governo, assente em 20% da faturação deste ano, leva os ânimos ao rubro. “É ridículo, é nada e não tem expressão nenhuma no orçamento do Estado”, crítica Pedro Fernandes, empresário do setor da restauração. Um cartaz perguntava: “quanto é que os deputados já perderam com a crise?”.
Pedro Fernandes lembra o Governo que “se se pede aos empresários para não despedirem é preciso ajudá-los”. “Eu tenho dez empregados comigo, como é que lhes vou pagar se não faturo?”. O empresário confessa que no primeiro confinamento teve perdas que ultrapassaram os 30 mil euros. “Naquela altura aguentei, que remédio, o verão não foi famoso, foi para começar a trabalhar, mas com esta paragem é o fim. Há algumas empresas que recorreram ao crédito no primeiro confinamento, esses agora já não tem margem para mais nada, vão começar a fechar”, conclui.
Não estavam previstos discursos na chegada da marcha ao largo do Toural, mesmo assim, Nuno Freitas, administrador do ramo hoteleiro, improvisou um palanque a partir de um banco de jardim. “Queremos uma estratégia nacional para podermos definir uma estratégia local, queremos saber os que se vai passar nos próximos três meses”, reclamou. “Para que é que se está a fazer esta árvore se não a vamos poder ver? Para que é que estamos a fazer isto?” – Perguntou Nuno Freitas apontando para a grande árvore de Natal, a ser montada ali ao lado.
O administrador hoteleiro fala de uma redução da faturação, na sua empresa, para um quarto, “isto enquanto mantemos 40 funcionários”. Nuno Freitas queixa-se principalmente da incerteza. “Ou é para fechar ou é para abrir e não é com 20%, porque 20% da faturação deste ano só significa uma coisa, é cofres vazios”, afirmou. “Não estamos a pedir 20% nem a pedir esmola, estamos a pedir uma estratégia”, continuou. “Se não for assim, vamos outra vez para a terra cultivar”, terminou. A multidão recebeu o discurso improvisado com aplausos e o bater dos tachos, um símbolo do setor muito visto na manifestação.
Nuno Freitas deixou uma pergunta para Presidente da República: “Estamos dependentes do primeiro-ministro húngaro?”.
Muitos empresários presentes lembraram a importância que os setores da hotelaria e da restauração tiveram para o sucesso do turismo em Portugal. “Durante muito tempo andamos a pagar pesados impostos, é importante que esse dinheiro tenha sido bem gasto, para que agora nos possam ajudar”.
O presidente da Associação Vimaranense de Hotelaria, Ricardo Pinto da Silva, que organizou esta marcha, afirma que o que é importante é que o Governo os ouça e tome medidas de apoio efetivo aos setores da hotelaria e da restauração.
Relativamente à reunião que tiveram com a Câmara Municipal, o presidente da AVH, defende que as medidas tomadas pelo Município são “importantes para mitigar os efeitos desta crise”, mas há outras medidas que não dependem da Câmara que fazem parte do manifesto que a associação endereçou primeiro-ministro. Este manifesto continha oito propostas concretas:
- Isenção do pagamento da Taxa Social Única, por um período de 8 meses;
- Redução da taxa de IVA aplicável à restauração para o valor de 6% em todos os produtos até 2022;
- Isenção de 50% das rendas devidas pelos estabelecimentos de hotelaria e restauração no âmbito dos respetivos contratos de arrendamento. Este valor seria parcialmente comparticipado pelo Estado, por um lado, isentando o valor de retenção na fonte, quer através da isenção do pagamento da taxa liberatória pelos senhorios dos rendimentos prediais obtidos no âmbito destes contratos;
- Implementação de novas moratórias fiscais e contributivas, nomeadamente quanto ao pagamento de IRC;
- Majoração de 50% dos tetos máximos dos valores previstos para o apoio a fundo perdido do programa Apoiar.pt dirigidos quer ao sector da hotelaria, quer ao sector da restauração, à semelhança do que sucede com o sector da animação noturna (11.250€ para microempresas e 60.000€ para pequenas empresas);
- Apoio excecional e complementar para o sector da hotelaria correspondente a 20% da quebra de faturação nos períodos em que existam restrições à circulação, nos mesmos moldes previstos para o sector da restauração, para compensar a total paralisação da atividade que essas limitações originaram;
- Implementação imediata (e não até ao final de 2020) das regras que flexibilizam o acesso ao programa de Apoio à Retoma Progressiva para todas as empresas do sector da hotelaria e da restauração;
- Implementação imediata de incentivos mensais a fundo perdido, correspondentes a 20% da quebra de faturação em relação ao período homólogo do ano anterior.
Estas medidas dependem do Governo e, nessa medida, Ricardo Pinto da Silva apela à Câmara Municipal de Guimarães para mover a sua influência junto do executivo de António Costa.
O presidente da AVH menciona quebras superiores a 60% na restauração. Na hotelaria o cenário é catastrófico, com uma redução média da faturação, até outubro, de 90%, segundo o presidente da AVH. “A mensagem que nos é transmitida diariamente pelo Governo é de medo, incutir o medo na população e está a resultar”, crítica Ricardo Pinto Silva.
“A despesa que está a ser feita neste momento não é canalizada para os sítios certos”, comentou o presidente da AVH, relativamente à iluminação de Natal.
Uma das preocupações da organização foi manter-se apartidária, Pedro Fernandes fez depender dessa premissa a participação na manifestação nacional que está prevista para o dia 25 (o último dia para pagamento de impostos ao Estado).
Há margem da manifestação, já no final, Bruno Fernandes, líder do PSD de Guimarães, encontrou-se com alguns dos participantes. O líder social-democrata manifestou o seu apoio às reivindicações dos manifestantes e sustentou que “são necessárias medidas mais robustas para ajudar este setor, até para que possa manter os níveis de emprego”.