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Cávado

Residência em Barcelos ajuda pacientes a tentar vencer a esquizofrenia

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A esquizofrenia trocou as voltas às suas vidas mas eles estão apostados em fintar a doença, potenciando competências e treinando a autonomia numa residência em Barcelos onde estão institucionalizados mas não asilados.

Eles são os utentes da Residência Angulo, uma unidade que agora completa 10 anos e que está integrada na Casa de Saúde de S. José, do Instituto de S. João de Deus.

“Recusamos ser uma instituição asilar. Não o somos, de todo. Os nossos utentes estão institucionalizados mas não asilados. A psiquiatria em Portugal é que está asilada, mas essa é outra conversa”, referiu Luís Daniel Fernandes, diretor daquela casa de saúde.

A Residência Angulo surgiu da necessidade de se criar uma resposta reabilitadora capaz de potenciar as competências dos utentes com maior preservação cognitiva e funcional e clinicamente estabilizados.

Visa, preferencialmente, o treino de atividades instrumentais de vida diária, com o intuito de autonomizar os utentes através do “empowerment” e da autodeterminação.

Atualmente a residência está lotada, sete utentes do sexo masculino, praticamente todos portadores de psicoses esquizofrénicas.

“Todos sabem que aqui têm mais liberdade, mas também todos sabem que aqui têm regras mais exigentes para respeitar”, acrescentou Luís Daniel, sublinhando que o objetivo é trabalhar a autonomia de cada um, para que um dia possam retomar a sua vida normal, “lá fora”.

Manuel Sá tem 62 anos, está naquela casa “há seis ou sete”, onde se assume quase como uma espécie de “governante”, e confessa que é na cozinha que se sente “como peixe na água”.

“Gosto muito de cozinhar”, atira, enquanto espreita o pão-de-ló que está no forno.

Naquela casa, todas as tarefas estão a cargo dos utentes, desde cozinhar até passar a ferro, fazer as camas, limpar o pó, ir às compras ou controlar a medicação de cada um.

Os utentes tratam ainda de uma horta, onde colhem muitos dos alimentos que utilizam para a sua alimentação.

O que sobra é doado a instituições de solidariedade social.

“Aqui encontrei o meu verdadeiro lar, aqui é que me sinto bem. Quando, no natal, por exemplo, vou a casa, ao fim de 4 ou 5 dias já sinto saudades disto”, refere Hélder Gonçalves, de 36 anos, que ali está institucionalizado há 5.

O diretor clínico da instituição, Luís Sá e Melo, explica que muitos dos utentes que ali vão parar foram “rejeitados” pela família, fruto de comportamentos “mais ou menos complicados”, mas vinca que a instituição não desiste de apostar na sua ressocialização e autonomização.

“São processos complicados e morosos? São, com certeza. Mas temos de ser persistentes e acreditar que, um dia, estes homens poderão voltar a fazer a sua vida em sociedade”, afirma.

Com 21 anos, Gustavo, o mais novo e mais recente utente da residência, recusa alimentar grandes expectativas em relação ao futuro.

“O meu futuro é hoje, é agora”, atira aquele que é o “criativo” da casa.

Mestre na arte de desenhar, Gustavo está atualmente a “escrever”, nos ateliês de atividades da residência, um livro em banda desenhada sobre S. João de Deus.

“Ainda faltam nove capítulos, mas também não há pressa”, diz, confessando que, mais do que a banda desenhada, as suas paixões são o graffiti, as tatuagens e a arte urbana.

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