O relatório climático do mês de dezembro do Centro de Estudos Climáticos do MeteoFreixo, com sede em Ponte de Lima, traz boas notícias em relação ao armazenamento de água, uma vez que o último mês de 2023 foi “ligeiramente mais chuvoso” (13%) que o habitual. A situação contrasta com a que se vive no sul do país, com o Algarve a atravessar a “pior seca de sempre”.
Na exposição do clube, assinada por José Luís Fernandes, Gonçalo Sousa e Sofia Araújo, sob orientação do professor Sérgio Bastos, é no entanto salientado que, embora com um ligeiro aumento, os valores são normais para a época, “com um valor acumulado de 220 mm”.
“Estas condições normais de pluviosidade são um sinal positivo para as reservas hídricas das barragens do Lima, Cávado e Ave ao manterem enchimentos acima dos 80%, e prever um bom ano hidrológico de produção energética”, revelam os elementos do clube de meteorologia e estudos climáticos.
Pluviograma
“Se analisarmos ao pormenor a precipitação caída em dezembro, verificamos que a primeira quinzena foi bastante chuvosa, acompanhando a sequência pluviosa do mês anterior. De salientar os dias 12 e 18, tendo sido muitos pluviosos com valores próximos de 40 mm, mas o dia mais pluvioso foi o dia 7 com um registo acima de 60 mm e que provocou alguns estragos materiais, devido às inundações rápidas e deslizamentos. Entre a segunda e terceira semana, foi praticamente seca embora com alguns dias nublados e humidade elevada”, refere o relatório.
Anomalia termopluviométrica de 2023 e de dezembro (Região Minho)
Em relação ao desvio relativo de temperatura e precipitação, o clube salienta que “dezembro foi o mês de 2023 mais próximo da normal com desvios muito ligeiros de apenas 0,1ºC de temperatura acima da média e 13 % mais chuvoso”.
“Finalizado o ano 2023, podemos verificar a tendência de um ano quente, atendendo à concentração de meses com desvio acima da média com exceção de julho. Relativamente à precipitação houve uma dispersão entre meses secos com destaque na estação da primavera, também alguns meses normais de pluviosidade e uma ligeira maior expressão de meses muito chuvosos, principalmente na estação de outono”, constatam os autores do relatório.
Temperatura normal
Em análise de pormenor da temperatura, o MeteoFreixo salienta “a segunda semana bastante amena com temperaturas médias acima de 15ºC e que contrapôs a primeira e terceira semanas com temperaturas médias bem mais frias, inferiores as 10ºC. Os dias 18 e 19 foram bastante frios com temperaturas médias as rondar os 6ºC, enquanto a sequência dos dias 9, 10 e 11 foram anormalmente amenas”.
“Apesar destas variações, a temperatura média mensal foi de 12,3ºC, dentro do normal para a época”, conclui o centro de estudos climáticos sediado em Freixo, Ponte de Lima.
Termograma
Seca no Algarve
A reabilitação de furos e o recurso a “pequenas dessalinizadoras móveis” podem ser medidas a adotar em termos agrícolas no Algarve, para minimizar a situação de seca, admitiu hoje a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes.
À margem de uma cerimónia na barragem do Alqueva, no Alentejo, a governante foi questionada pelos jornalistas sobre a situação crítica que se vive no Algarve no que respeita à falta de água, tendo revelado que a Comissão da Seca vai reunir-se na próxima semana, sem, no entanto, indicar o dia.
Fonte do Ministério da Agricultura e da Alimentação revelou posteriormente à Lusa que a reunião se realiza no dia 17 às 14:30.
Plano de Contingência para “maior seca desde que há registo”
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) espera apresentar ainda este mês um plano de contingência com novas regras de consumo de água no Algarve, que está a atravessar a maior seca desde que há registo.
O vice-presidente da APA, José Pimenta Machado, admitiu na segunda-feira à agência Lusa que o plano de contingência vai penalizar mais a agricultura, mas disse que as quotas ainda não estavam definidas e serão articuladas com os atores locais.
Já o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, António Miguel Pina, revelou à Lusa, também na segunda-feira, que a APA deverá propor regras para reduzir o consumo de água no Algarve em 70% para o setor agrícola e em 15% para os consumidores urbanos.
Questionada hoje pela Lusa sobre esta fasquia de menos 70% do consumo de água no setor agrícola, a ministra escusou-se a abordar o assunto antes da reunião da Comissão da Seca.
“Tudo o que disser pode ser extemporâneo e não faz sentido sem primeiro reunirmos a comissão interministerial da seca. Há muito trabalho que está a ser feito, hoje mesmo estão a decorrer reuniões técnicas para se encontrarem soluções para minimizar o impacto que tudo isto vai ter na vida dos cidadãos, seja para consumo humano, seja para outros fins, como industriais, turismo e mesmo para a agricultura”, disse.
Segundo a governante, as medidas que vierem a ser decididas e adotadas em termos da agricultura vão ser trabalhadas “para que, no início da próxima campanha de rega, possam ser implementadas”.
Maria do Céu Antunes disse ainda, no domínio da agricultura, que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tem “17 milhões de euros de obras em curso para criar maior resiliência” do território algarvio às alterações climáticas e seca.
Com Lusa.