Daniel Freitas transformou hoje o pesadelo da Rádio Popular-Boavista em sonho, fugindo para a primeira amarela dos ‘axadrezados’ em 15 anos, na quinta etapa da Volta a Portugal, ganha pelo ciclista britânico Mason Hollyman (Israel Cycling Academy).
A turbulenta jornada da Rádio-Popular começou com o afastamento das suas duas maiores figuras, João Benta e Tiago Machado, infetados com o novo coronavírus, e acabou com Daniel Freitas de amarelo, no pódio instalado no Santuário da Senhora da Assunção, em Santo Tirso, onde o jovem Hollyman, companheiro do ‘boavisteiro’ na fuga do dia, conquistou o seu primeiro triunfo como profissional.
Desde Manuel Cardoso, em 2006, que nenhum ciclista da equipa do ‘professor’ José Santos liderava a Volta a Portugal, um feito para o qual muito contribuiu o desfalcado Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel, que preferiu ‘entregar’ a liderança de Alejandro Marque a outro para ‘livrar-se’ da tarefa de controlar a corrida.
A quinta etapa começou sob a ameaça da ‘nuvem negra’ da covid-19: antes mesmo de começarem a ser percorridos os 171,3 quilómetros entre Águeda e Santo Tirso, já o galego tinha sofrido um duro revés, ao perder dois companheiros de equipa, Emanuel Duarte e David Livramento, devido ao positivo do primeiro nos testes de despistagem ao novo coronavírus.
Numa manhã tensa nos bastidores da 82.ª edição, além dos casos de infeção de João Benta e Tiago Machado, também a Euskaltel-Euskadi foi forçada a retirar-se da prova devido a dois positivos.
Talvez ‘atordoados’ pela partida agitada, os ciclistas demoraram a aventurar-se na fuga do dia, que se formou já depois dos 30 quilómetros, por iniciativa de Hollyman, Ricardo Mestre e Daniel Mestre (W52-FC Porto), Rafael Reis e Luís Mendonça (Efapel), César Fonte e Luís Gomes (Kelly-Simoldes-UDO), Daniel Freitas (Rádio Popular-Boavista), Tomas Contte (Louletano-Loulé Concelho), João Macedo (LA Alumínios-LA Sport), Juri Hollmann e Lluís Mas (Movistar), Kenny Molly (Bingoal Pauwels), Keegan Swirbul (Rally Cycling), Alex Peters (SwiftCarbon), Marti Marquéz e Juan Lopéz-Cozar (Kern Pharma).
O bom entendimento entre os 17 fugitivos valeu-lhes uma vantagem superior a 10 minutos, perante a perseguição suave movida pelo ‘estratega’ Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel, disposto a entregar a amarela a um dos fugitivos e, assim, preservar as forças para o que resta de Volta a Portugal.
Sem ninguém a tomar a iniciativa de ajudar os tavirenses, o triunfo na quinta tirada estava entregue aos homens da fuga, cuja harmonia foi diminuindo à medida que o ponto mais alto de Santo Tirso, escalado pela última vez em 2017, foi ficando mais próximo.
A 50 quilómetros da meta, a W52-FC Porto, a ver perigar a possível liderança de Amaro Antunes, entrou ao trabalho, demasiado tarde para evitar que Freitas chegasse à amarela – o ciclista ‘axadrezado’ lidera com 42 segundos de vantagem sobre o líder destronado e 47 sobre o algarvio.
Entre os fugitivos, Contte foi o primeiro a conseguir uma margem digna de registo, mas viria a ser alcançado e ultrapassado por Hollyman, que estreou o seu palmarés ao cortar a meta com o tempo de 04:11.48 horas, com Mestre a ser segundo, a 35 segundos, o ciclista do Louletano-Loulé Concelho a ficar-se pelo terceiro posto, a um minuto, e Freitas a ser sexto, a 01.09.
“Sinto-me tão bem. A equipa demonstrou tanta confiança em mim na última semana para a classificação geral. Tive alguma má sorte e essa oportunidade esvaneceu-se, mas todos confiaram tanto em mim na fuga de hoje e naquilo que eu poderia fazer nas subidas. Isto é para a equipa”, assumiu o jovem de 21 anos, vencedor logo na sua primeira época como profissional.
Os homens da geral evitaram grandes mexidas na subida de 6,6 quilómetros, catalogada como de segunda categoria, com Mauricio Moreira, aquele que, segundo o seu próprio diretor desportivo, Ruben Pereira, não é a aposta da Efapel, a ser o primeiro dos favoritos, depois de atacar para cortar a meta a 05.04 minutos do vencedor. Joni Brandão (W52-FC Porto) chegou três segundos depois do uruguaio, e três antes de Marque, Antunes e Frederico Figueiredo (Efapel), os ciclistas que seguem atrás de Freitas na geral.
“[A amarela] é para levarmos até onde pudermos. Agora, vamos dia a dia, não vamos marcar nenhum objetivo concreto”, disse o ciclista de 30 anos, sem esconder que a amarela é apenas um prémio de consolação por não ter conseguido o seu primeiro triunfo na Volta a Portugal.
Na quarta-feira, Freitas estreia a amarela na sexta etapa, uma ligação de 182,4 quilómetros entre Viana do Castelo e Fafe, que poderá proporcionar uma das raras chegadas ao ‘sprint’.