O presidente da comissão política concelhia do PS de Ponte de Lima, Jorge Silva, disse hoje que a detenção do presidente da Junta de Ribeira, naquele concelho, poderá conduzir à dissolução do executivo.
“Há bastante tempo que o presidente da Junta de Freguesia não participa nos atos da junta, falta sistematicamente às assembleias de freguesia. É o secretário que dirige ou representa a junta em maior parte dos atos. Nunca está para responder às questões que colocamos. Penso que mais dia menos dia a junta vai acabar por cair”, afirmou Jorge Silva, em declarações à Lusa.
A PJ anunciou hoje a detenção de quatro promotores bancários por burla qualificada poderão ter prejudicado cerca de 80 clientes, provocando um prejuízo de vários milhões de euros.
Segundo uma outra fonte ligada ao processo, um dos arguidos é o presidente da Junta de Freguesia da Ribeira, concelho de Ponte de Lima, e outro preside à direção da Associação Empresarial de Ponte de Lima.
O coordenador da PJ de Braga, António Gomes, escusou-se, no entanto, a confirmar estes cargos, sublinhando que não foi no exercício deles que os arguidos agiram e que, como tal, isso não é relevante para a investigação.
O líder da concelhia do PS de Ponte de Lima, contactado pela Lusa, referiu também que “há bastante tempo que a gestão da freguesia tem sido colocada em causa, devido à ausência frequente do presidente”.
A lista independente Rofen, encabeçada por Ricardo Nuno Pimenta, foi eleita nas autárquicas de 2017 com 61,19% dos votos, conquistando seis lugares no executivo de Ribeira, composto ainda por dois eleitos do PS e um do PSD.
O socialista Jorge Silva não se mostrou surpreendido com a detenção do presidente da Junta.
“Para nós não é novidade. É um caso que teve agora esta dimensão, com a detenção, mas há já bastante tempo que ouvíamos dizer que isso iria ocorrer”, disse o líder do PS.
O coordenador da PJ referiu que até ao momento já foram identificadas oito vítimas, ascendendo o prejuízo a mais de 1,6 milhões de euros.
“Mas o número de lesados pode atingir os 80”, referiu, aludindo à consequente “multiplicação” dos prejuízos.
Os arguidos atuavam no distrito de Viana do Castelo e angariavam clientes para o Deutsche Bank.
Prometiam-lhes investimentos seguros e de risco baixo ou nulo, com juros “muito elevados”, mas acabavam por investir o dinheiro em produtos financeiros de “elevadíssimo risco”.
Muitas vezes recebiam dos clientes “dinheiro vivo”, apesar de, como promotores bancários, estarem proibidos de o fazerem.
As vítimas eram, por norma, idosos e pessoas de baixa escolaridade, incluindo iletrados.
Os arguidos emitiam documentos com os logótipos do banco, em que faziam constar que o dinheiro estava investido no que havia sido acordado com os clientes.
A atividade criminosa decorreria desde 2008, mas, entretanto, alguns lesados apresentaram queixa no Ministério Público, originando uma investigação pela PJ que começou há oito meses.
Os arguidos foram detidos na quarta-feira, na sequência de 13 buscas e no cumprimento de mandados de detenção emitidos pelo Ministério Público de Viana do Castelo.
Nas buscas, foram apreendidas seis viaturas de gama alta, dinheiro e prova documental e digital.
Com idades compreendidas entre os 37 e os 55 anos, os arguidos são suspeitos de burla qualificada, associação criminosa, falsificação de documentos e abuso de confiança.
Vão hoje ser apresentados no Tribunal Judicial de Viana do Castelo, para primeiro interrogatório judicial e aplicação das respetivas medidas de coação.
A PJ prossegue, entretanto, com a investigação, nomeadamente para identificar o destino dado pelos arguidos ao dinheiro.