Pedro, de Guimarães, quer mais qualidade de vida com a família, Lúcia, de Aveiro, traz um ramo de flores para o enterro da escola pública, Rita, do Porto, diz que não desiste de ser professora. São três histórias de professores na manifestação de hoje em Lisboa.
Pedro Sampaio segura uma das faixas com palavras de ordem e à Lusa conta que, apesar de ter a família em Guimarães, dá aulas em Odivelas, sendo professor há 15 anos.
“Enquanto professor entendo que só por esta via é possível fazer o Governo perceber que estamos completamente descontentes com todas as injustiças que têm acontecido ao longo dos anos”, defendeu, enquanto falava com a Lusa, à medida que a manifestação convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) fazia o seu caminho até à Assembleia da República.
Pedro explicou que dá aulas longe de casa e que quer ter “melhores condições” para si e para a sua família.
“Estamos cada vez mais fortes e não estou cansado, não tenho que estar, olhando para esta multidão toda”, afirmou.
A multidão de que Pedro fala está a chegar às imediações da Assembleia da República, onde vão decorrer, por um lado, o enterro da educação e da escola pública e, por outro, uma vigília, que terá pessoas em permanência até terça-feira, dia 28 de fevereiro.
Pelo caminho, feito a partir do Palácio da Justiça, no topo de Parque Eduardo VII, houve vários momentos de palavras de ordem, música, canções, mas também paragens, em que todos se puseram de joelhos e, ao som da marcha fúnebre, fizeram o luto pela escola pública
“A escola pública está a morrer”
Lúcia é professora há cerca de 40 anos, vem de Ílhavo e traz um ramo de flores brancas que, explica, são para o “enterro da educação”, porque é a isso que o país está a assistir.
“A escola pública está a morrer, mas não é por culpa dos professores, mas por causa dos nossos governantes que não têm a mínima consideração por nós”, criticou,
Esta é já a quarta manifestação organizada pelo Stop desde dezembro de 2022, mas à Lusa Lúcia deixou uma garantia: “Vamos continuar a manifestar-nos até nos ouvirem”.
“Pagava para trabalhar”
Mais à frente segue Rita Romba, professora há cinco anos, que vem do Porto, mas dá aulas em Gondomar, a cerca de 400 quilómetros de onde vive a família e de onde gostaria de dar aulas e constituir família.
Das quatro manifestações organizadas, Rita falhou a primeira, em dezembro do ano passado, mas diz estar disposta a continuar a lutar pelo simples motivo de querer ser professora.
“No meu primeiro ano tive um horário com 10 horas, pagava para trabalhar. As coisas estão melhor, mas também porque eu fiz por isso e porque tenho o apoio da minha família, se não era impossível”, diz, emocionada.
“Escola na rua, governo a culpa é tua”, “É para ser contado o tempo congelado”, “A luta continua, na escola e na rua” ou “A escola é para aprender, não é para entreter” são algumas das frases gritadas pelas várias centenas de professores e não docentes que se juntaram a esta manifestação, com grupos vindos de vários pontos do país.