Os dois suspeitos do homicídio do português Carlos do Órfão, então com 37 anos, natural de Viana do Castelo, mas emigrado na Galiza, ficaram em prisão preventiva.
A decisão foi tomada já este fim de semana pela juíza de instrução criminal da Comarca de O Porriño, na sequência de uma investigação do Comando de Pontevedra da Guarda Civil, incluindo-se escutas telefónicas aos suspeitos.
Ambos de nacionalidade espanhola, os dois homens estão fortemente indiciados pelo assassínio de Carlos Alberto Videira do Órfão, que teria hoje 41 anos, morto à pancada e atirado para o fundo de um poço, em O Cerquido, nos arredores de O Porriño, crime que poderá ter a sua origem remota em dívidas relacionadas com os seus negócios de compra e venda de carros usados.
As informações já recolhidas pelo Grupo de Investigação de Delitos Contra as Pessoas, unidade da Polícia Judicial da Guarda Civil, apontam para uma cilada, durante a qual ambos os suspeitos se terão feito passar por polícias, usando crachás e algemas, que terão coagido um terceiro homem, também espanhol, também detido esta semana, mas libertado após prestar declarações.
Para atraírem a vítima à emboscada, os dois agora presos preventivos terão usado um terceiro homem, que supostamente nunca desconfiou serem falsos polícias, quando o contactaram na sua oficina, na Rua Severino Covas, de Vigo, à procura de Carlos Alberto Videira do Órfão, cuja família comunicou o seu desaparecimento há precisamente quatro anos, em dezembro de 2018.
Este terceiro homem foi inicialmente detido, mas libertado provisoriamente, no Juízo de Instrução Criminal 3, de O Porriño.
Por ter explicado essa versão aos investigadores criminais da Guarda Civil e revelando ainda quem eram os dois falsos polícias, os dois homens que foram agora detidos e ficaram em prisão preventiva, por fortes de indícios e autoria do crime.
Para já, o grau de eventual cumplicidade deste suspeito ainda está a ser apurado, assim como o de um casal de familiares seus, acerca dos quais há suspeitas de possível encobrimento, não tendo este casal sido apresentado à juíza de instrução criminal do Julgado de O Porriño, na Galiza, centrando-se agora as principais atenções nos dois homens que ficaram em prisão preventiva.
Grupo de WhatsApp para chegar à vítima
Nesta fase final das investigações criminais, tudo indica que o móbil do crime terá sido a tentativa de receber uma alegada dívida da vítima, uma espécie de “cobrança difícil”, suspeitando-se que os presumíveis autores do assassínio trabalhariam já para credores de Carlos do Órfão, que na altura enfrentava dificuldades financeiras nos negócios de compra e venda de carros.
A vítima dedicava-se à compra e venda de automóveis usados, em Pontevedra, na Galiza, tendo deixado de cumprir com alguns credores, que a dada altura criaram um grupo de WhatsApp, para recolher informações sobre o paradeiro de Carlos Alberto Videira do Órfão, parte dos quais dizendo-se “enganados” pelo português, andavam há já algum tempo no seu encalço.
Segundo as autoridades policiais espanholas, os problemas agudizaram-se a partir de 2018, período durante o qual foi cometido o assassínio, mas a autópsia e exames complementares não conseguiram apurar a data aproximada do chamado “Crime do Poço”, cujo cadáver só seria encontrado em fevereiro de 2020, quando um grupo de operários abriu o poço para limpar aquele espaço.
A causa provável da morte foi uma pancada com objeto contundente no crânio, lançando-o a um poço de uma antiga fábrica de transformação de mármore de campas funerárias próxima do rio Louro, na zona industrial de O Cerquido, em O Porriño, situada a poucos quilómetros da Ponte da Amizade, uma via internacional que separa o Minho (Portugal) da Galiza (Espanha).
A identidade da vítima, que permaneceu incógnita durante quase dois anos, só foi possível graças a um retrato-robot inovador, uma nova técnica multidisciplinar para reconhecimento facial, que foi o primeiro, não só em Espanha, como em toda a Europa, podendo a partir de agora ser novamente utilizado em casos análogos, para identificar as vítimas e assim chegar aos criminosos.
Um antropólogo forense, Fernando Serrulla Rech, com uma estudante de Belas Artes, Alba Sanín Rodríguez, através do rosto da vítima, fizeram um retrato-robot tão fidedigno, que os familiares reconheceram Carlos do Órfão, pelas imagens difundidas nos jornais espanhóis e portugueses, a pedido do Gabinete de Imprensa e Protocolo do Tribunal Superior de Justiça da Galiza.