A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) propôs classificar como Monumento de Interesse Público o posto de abastecimento de combustíveis de Covas, concelho de Guimarães, projetado pelo arquiteto Fernando Távora, indicou o Diário da República (DR) de hoje.
No anúncio publicado em DR e datado de 16 de março – ou seja, anterior à tomada de posse do novo Governo -, o diretor-geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos, indicou que iria propor à secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural a classificação como “Monumento de Interesse Público (MIP) do Posto Duplo de Abastecimento de Combustíveis de Covas, no lugar do Salgueiral, freguesias de Creixomil e Urgeses, concelho de Guimarães, distrito de Braga”.
O requerimento para a classificação do posto de combustível, construído entre 1964 e 1967, da autoria do arquiteto Fernando Távora, foi entregue em 05 de janeiro de 2014 pela Fundação Marques da Silva.
Em março de 2015, o então diretor-geral da DGPC determinou a abertura do procedimento da classificação por proposta da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), tendo recebido, no ano passado, parecer favorável da Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura. No dia 07 de março deste ano, o diretor-geral do Património Cultural publicou o despacho de concordância.
No documento, de 2015, a DRCN justifica que, “face à possibilidade de uma intervenção [por parte da proprietária – empresa Galp Energia] e perante a proposta da Fundação Marques da Silva”, propôs a abertura do procedimento de classificação do espaço como MIP.
A DRCN dizia, então, tratar-se de “um posto duplo de abastecimento de combustível instalado na estrada da cidade de Guimarães, à margem da Estrada Nacional 15”, designada de Rodovia de Covas.
“Este equipamento surgiu na sequência de uma ‘Proposta de localização de Postos de abastecimento na cidade do Porto’ que o arquiteto Fernando Távora desenvolveu para a SACOR, em 1957. No contexto desta proposta acabaria por se prever mais tarde a localização de 29 postos de abastecimento para a região a norte do Douro”, lê-se na proposta.
A DRCN concluiu tratar-se de “um exemplar de arquitetura, bem ilustrativo do processo conceptual e criativo do arquiteto Fernando Távora”.
“Nomeadamente de um momento em que a afirmação de modernidade e o seu posicionamento em relação aos valores da cultura e da arquitetura interacional dialogam com a necessidade de fundamentar e ancorar as suas intervenções na realidade, na especificidade dos locais, na consciência das suas condicionantes e do valor cultural e social decorrente da própria intervenção”, lê-se no texto da proposta de classificação da Fundação Marques da Silva, subscrito pela DRCN.
Esta entidade reconheceu no posto de combustível “um valor patrimonial digno de classificação”, evocando critérios de “valor estético, técnico e artístico da obra, o génio do respetivo criador e a conceção arquitetónica e a sua relevância no campo da história da arquitetura portuguesa”.
Fernando Távora (1923-2005) foi arquiteto, professor e ensaísta, sendo encarado como o “pai” da Escola do Porto.
Bolseiro da Gulbenkian e do Instituto para a Cultura nos Estados Unidos e no Japão, participou em múltiplos congressos e conferências internacionais na década de 1950, o que lhe permitiu conhecer o arquiteto suíço Le Corbusier.
Como recorda a biografia disponível na página da Universidade do Porto, projetos de Távora como o Mercado Municipal de Santa Maria da Feira (1953-59), o Pavilhão de Ténis da Quinta da Conceição, em Matosinhos (1956-1960), a Casa de Férias no Pinhal de Ofir, em Fão (1957-1958), a ampliação das instalações da Assembleia da República, em Lisboa (1994-1999) ou a Casa da Câmara/Casa dos 24, no Porto (1995-2002), “refletem um forte sentido de responsabilidade social na forma como associa a criatividade à criteriosa abordagem ao sítio, aos pormenores técnicos e à funcionalidade da obra”.
“Ficou a obra de um dos maiores vultos da Arquitetura Contemporânea Portuguesa, fundador e mestre da ‘escola do Porto’, que precocemente reconheceu talento no aluno Álvaro Siza e soube, como ninguém, fazer a síntese entre a arquitetura tradicional nacional, marcante na sua obra dos anos 50 e 60, e a arquitetura moderna internacional”, acrescenta o mesmo texto.