A comissão de festas de São Bartolomeu, em Ponte da Barca, quer criar um museu digital para guardar as memórias da romaria e, dentro de três anos, abrir um espaço físico para mostrar todo espólio, disse hoje Pedro Bragança.
Em declarações à Lusa, a propósito da apresentação, na quarta-feira, do programa da romaria “que não vai ser vivida nas ruas, mas sentida através do digital”, devido à pandemia de covid-19, o presidente da comissão de festas daquele concelho, Pedro Bragança, adiantou que o “pontapé de saída” naquele projeto vai ser dado na edição deste ano.
“A exposição sobre a romaria que vamos lançar, este ano, através da página oficial da romaria na Internet, é o pontapé de saída do futuro museu digital que, eu espero venha a estar concluído em 2021 e que, dentro de três anos, venha a dar lugar a um espaço físico para reunir todo o espólio reunido”, afirmou.
A exposição que vai ser inaugurada este ano “reúne fotografias, textos e testemunhos dos barquenses e de visitantes sobre os números mais emblemáticos da romaria, conhecida pelas rusgas populares, o vira e os cantares ao desafio”.
“Reformulamos a página oficial da romaria na Internet e demos-lhe um novo nome: Memórias Vivas de uma Romaria”. É neste sítio que vai ser disponibilizada a exposição que dará início ao segundo passo do projeto que queremos concretizar, que é o museu digital. O terceiro passo muito mais ambicioso, a abertura de um espaço físico, esperamos ser uma realidade dentro de três anos”, frisou Pedro Bragança.
Em 2020, a romaria decorre entre 19 e 24 de agosto, e o programa, a apresentar na quarta-feira, inclui a “transmissão ‘online’ da missa, de concertos e cantares ao desafio”.
Haverá ainda “uma exposição de rua, composta por estruturas de grandes dimensões, espalhadas pela vila, constituído um percurso para ser visitado de dia ou de noite, que pretende manter viva a memória de cada um dos pontos mais especiais da festa”. A inauguração está marcada para o primeiro dia da romaria, às 17:00.
A programação prevê ainda um debate, no Largo do Urca, no dia 18, intitulado “Romaria de São Bartolomeu: memória e tradição em busca do futuro”.
Segundo números avançados anteriormente à Lusa pelo presidente da Câmara, Augusto Marinho, na edição 2019, “passaram pela vila mais de 300 mil pessoas”, atraídas pelas rusgas populares, grupos que de forma espontânea ou organizada perpetuam as danças e cantares tradicionais, e pelas rodas de Vira, dança em que os bailarinos se dispõem aos pares, em roda, de braços erguidos e vão girando vagarosamente no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
De acordo com o autarca social-democrata, este ano “a perda de receitas rondará os 4,5 milhões de euros”.
Em 2016, o anterior executivo municipal, liderado pelo socialista Vassalo Abreu, numa homenagem às rusgas populares, inaugurou no centro da vila, uma estátua, composta por três figuras em bronze, com cerca de dois metros de altura, da autoria do escultor Rogério Timóteo.
Aquela tradição, com mais de cem anos, cumpre-se sempre a 23 de agosto. As rusgas populares são o número emblemático das festas de São Bartolomeu, numa noite dedicada às danças e cantares populares.
“Aqui dizemos que, nessa noite, o diabo anda à solta em Ponte da Barca”, disse Pedro Bragança.
Através das concertinas, dos bombos, dos cavaquinhos e outros instrumentos tradicionais, as rusgas, que contam com a participação de mais de 80 grupos vindos de todo o país, desfilam e formam rodas de tocadores.
Dança-se o vira, canta-se à desgarrada em plena rua, com uma passagem por um palco instalado na Praça da República.
Em 2017, Ponte da Barca colocou o Vira do Minho no Livro Guiness de Recordes, ao juntar 667 pessoas a dançar aquela coreografia, batendo a ilha açoriana do Pico, anterior detentora do recorde na categoria de folclore português.
O Vira é um género músico coreográfico do folclore português, dançado em várias regiões do país, mas mais conhecido como característico do Minho.
De acordo com o Portal do Folclore Português, naquela dança, os pares de bailarinos, “dispostos em roda, de braços erguidos, vão girando vagarosamente no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio”.
“Os homens vão avançando e as mulheres recuando. A situação arrasta-se até que a voz de um dançador se impõe, gritando fora ou virou. Dão meia-volta pelo lado de dentro e colocam-se frente a frente com a moça que os precedia. Este movimento vai-se sucedendo até todos trocarem de par, ao mesmo tempo que a roda vai girando, no mesmo sentido”.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 694 mil mortos e infetou mais de 18,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.739 pessoas das 51.681 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.