O secretário-geral do PCP criticou hoje as “fabricadas discordâncias” nas negociações sobre o Orçamento do Estado e desafiou o PS a “assumir as responsabilidades” perante um rumo que “não serve aos trabalhadores, populações, juventude e país”.
Numa conferência de imprensa na sede nacional do PCP, de apresentação da reunião do Comité Central do partido que decorreu este fim de semana, Paulo Raimundo salientou que se está a assistir ao “agravamento do contraste entre as dificuldades da maioria da população e os lucros colossais dos principais grupos económicos”.
“É esta a realidade do país, por maior que seja a propaganda de um Governo PSD/CDS que, para lá de fabricadas discordâncias, conta, nas suas opções de fundo, com o apoio e convergência do Chega e Iniciativa Liberal (IL), e com um PS que teima e alimenta expectativas em torno do Orçamento do Estado”, criticou.
O líder do PCP reiterou que já se sabe que o próximo Orçamento do Estado, “tal e qual como aquele que está em vigor, vai obedecer ao programa e a opções do Governo”, estará “subordinado aos interesses da União Europeia (UE)” e vai ser “um instrumento ao serviço dos interesses dos grupos económicos”.
“É este o caminho que está em curso nesta fase pelas mãos do PSD/CDS, com o apoio de Chega e IL e é sobre ele que, desde logo, o PS tem de assumir as responsabilidades, com a certeza de que este rumo não serve aos trabalhadores, às populações, à juventude e ao país”, disse.
Questionado se as acusações sobre as negociações orçamentais entre o Governo e o PS este domingo fazem parte dessas “fabricadas discordâncias” a que aludia, Paulo Raimundo considerou que a troca de comunicados “é para rir”.
“Neste momento tão doloroso para o país, haja alguma coisa para nós rirmos. Estão aí as cartas e a troca de cartas para nos rirmos”, disse, sugerindo que, quando fala em “fabricadas discordâncias”, está por exemplo a aludir às exigências do PS para retirar a proposta do PSD sobre o IRS Jovem do Orçamento do Estado.
Paulo Raimundo comparou a proposta do IRS Jovem com a polémica à volta do aumento do IUC no ano passado, salientando que já se sabia que não iria ser implementada e que o seu anúncio serviu como “verdadeira lebre” para não se falar dos “cerca de oito mil milhões de euros do Serviço Nacional de Saúde (SNS) transferidos para o negócio privado da doença”.
“Aquilo foi uma casca de banana porque, enquanto nós andávamos a discutir o IUC, na prática o que ia passando era a transferência de recursos públicos para os grupos económicos. Agora podemos estar perante a mesma coisa”, referiu, acrescentando que não foi o PCP que definiu as linhas vermelhas do PS, que considerou serem “serviços mínimos”.
“Cá estaremos para ver se o chamado IRS Jovem do PSD/CDS não vai cair como caiu o aumento do IUC, proposto pelo PS”, disse.
O secretário-geral do PCP lamentou ainda que, nos últimos tempos, se tenha estado “a falar da forma, como se o Orçamento fosse uma cadeira, que tem de ser mais curta ou menos curta”.
“Não é. O que temos de falar é dos conteúdos, e cá estaremos para falar dos conteúdos do Orçamento e para ver que conteúdos – não é só propostas – é que vão ser subscritos ou apoiados por outros, de forma direta ou indireta”, afirmou.