Papa envia carta a artesão de Barcelos a agradecer cadeira em madeira

Foto: CM Barcelos

O Papa Francisco agradeceu ao artesão barcelense Carlos Moreira a cadeira em madeira que este lhe ofereceu no âmbito da Jornada Mundial da Juventude. O sumo pontífice concedeu-lhe também a Bênção Apostólica.

“Por incumbência recebida de Sua Santidade, venho agradecer a prenda, os sentimentos nela manifestados e a retaguarda espiritual feita pelos bons frutos da JMJ, ou seja, daquele encontro com o rosto jovem da Igreja, que surge do meio das chamas do Espírito Santo, transformada a partir de dentro e programada para amar como ama Jesus e com o amor de Jesus”, pode ler-se na carta enviada pelo Vaticano, no passado dia 18 de outubro, e assinada pelo monsenhor Roberto Campisi, assessor do Papa.

“Na força do seu Espírito, Jesus está sempre presente nos nossos corações, esperando serenamente que nos acomodemos em silêncio junto d’Ele para ouvir a sua voz, permanecer no seu amor e receber a força que vem do Alto e nos habilita a ser sal e luz na sociedade que nos rodeia”, acrescenta a missiva recebida pelo artesão da freguesia de Encourados.

“Como penhor de todo este bem de Deus que implora para o senhor Carlos Alberto, o Santo Padre concede-lhe, extensiva aos familiares, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por ele”, conclui a carta de agradecimento.

“Isto não é para toda a gente”

Apesar de não ter sido surpresa, porque já lhe tinham antecipado que o sumo pontífice lhe ia agradecer, Carlos Moreira não deixou de ficar satisfeito com o reconhecimento. “Quem é que não fica contente? Uma carta destas é importante, isto não é para toda a gente”, sublinha Carlos Moreira a O MINHO.

A artesão acrescenta que o Papa Francisco “gostou” da cadeira, até porque a “levou com ele” para o Vaticano.

Carlos Moreira também tem no Vaticano uma imagem do Papa que este já benzeu e que tem de ser levantada pelo próprio: “Tenho que a ir lá buscar”.

Trabalha na madeira desde criança

Como O MINHO noticiou, Carlos Moreira construiu a “cadeira papal” no âmbito da Jornada Mundial da Juventude.

Era seu objetivo que a cadeira pudesse estar no palco da Jornada, que se realizou em Lisboa, em agosto passado, mas não havendo essa possibilidade, a peça seguiria diretamente para o Vaticano, em Roma, o que aconteceu.

Foto: CM Barcelos
Foto: CM Barcelos
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Foto: CM Barcelos
Foto: CM Barcelos

Carlos Moreira, natural da freguesia de Encourados, trabalha a madeira desde menino de “dez, doze anos”. A cadeira papal que tanto o orgulha ter feito, demorou cerca de três meses a ficar pronta. “Ia fazendo um bocadinho todos os dias”, diz, enquanto explica que a ideia surgiu da conversa que teve “com uns padres” que foram à sua oficina encomendar uma peça. Quando a cadeira ficou pronta, os padres voltaram e ficaram “maravilhados”.

A cadeira foi feita em madeira de castanho e Carlos Moreira assegura que o castanheiro que lhe deu vida também cresceu na freguesia de Encourados.

“Tenho muito orgulho no que fiz. Quando estava a trabalhar nela parece que Deus estava dentro de mim e dava-me muita força de vontade”, confessa o artesão que manifesta o desejo de que a cadeira estivesse no palco da Jornada “para ser vista pelos portugueses”.

“É simples como ele”

É um cadeira pesada, toda em castanho velho. Com a força e durabilidade desta madeira, prima pela simplicidade. Talhada exclusivamente à mão, sem máquinas (como tudo o que Carlos Moreira faz), sobressaem as costas da cadeira. O artesão esculpiu a imagem do Papa com a destreza de quem já trabalha a madeira há 55 anos. “Foi feito à mão, feito por mim, tenho ainda ali a fotografia”, contou a O MINHO.

O assento é acolchoado e revestido em pele genuína de cor branca. Há outros pormenores para marcar o momento histórico, como as insígnias da Jornada esculpida na madeira.

“Tirei isto da cabeça, fiz o projeto por mim e deu certo”, revela. Usou as medidas padrão que costumam servir a todos, mas já se assegurou que assenta bem em Francisco.

É a obra mais célebre de Carlos Moreira, que se habituou ao longo das cinco décadas de trabalho a fornecer peças para toda a região, nomeadamente para adornar edifícios públicos. Esta oportunidade veio depois de um grupo de padres do Porto lhe ter encomendado uma figura religiosa para uma igreja na cidade Invicta. Quando lhe vieram buscar o trabalho, em conversa, Carlos não se fez rogado. Já tinha a ideia na cabeça e lançou a proposta de fazer uma cadeira para a vinda do Papa a Portugal: “Eles disseram logo: ‘Ó senhor Carlos, se você tem essa ideia, arranque’”.

Foi no ano passado e não sossegou enquanto não terminou a peça. Demorou quase três meses, ia “fazendo lentamente”, porque isto não são peças “que se façam seguido”. Há que dar descanso aos músculos e à cabeça.
Admite que este até seja o trabalho mais importante que já fez, mas, de trás da sua banca de trabalho, não desarma. “Mas, para mim, qualquer trabalho me dá satisfação”, confessa.

“Acho que quando o Papa vir esta cadeira que a vai levar para o Vaticano. Acho que vai gostar, porque é uma cadeira simples e como ele é um Papa também simples, vai gostar”, previa. E confirmou-se.

*Com Pedro Gonçalo Costa

 
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