Artesão de Barcelos faz cadeira para o Papa. “É simples como ele”

Vai ser usada na Jornada Mundial da Juventude
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO


Mesa de trabalho ao centro, ferramentas ali à mão e um sem fim de peças em madeira talhadas meticulosamente à mão dispostas da forma mais conveniente para o trabalho do dia-a-dia. No meio de brasões, galos de dois metros de altura e masseiras, há uma peça especial. Toda envolta em plástico para proteção, está a cadeira onde se vai sentar o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, em Lisboa.

Carlos Moreira, artesão de Barcelos, guarda-a enquanto não chega a hora de servir o Santo Padre. E não há fotografias. Ficará no segredo dos deuses até ao subir ao altar-palco da JMJ.

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

É um cadeira pesada, toda em castanho velho. Com a força e durabilidade da madeira de Carvalho, prima pela simplicidade. Talhada exclusivamente à mão, sem máquinas (como tudo o que Carlos Moreira faz), sobressaem as costas da cadeira. O artesão esculpiu a imagem do Papa com a destreza de quem já trabalha a madeira há 55 anos. “Foi feito à mão, feito por mim, tenho ainda ali a fotografia”, conta a O MINHO.

O assento é acolchoado e revestido em pele genuína de cor branca. Há outros pormenores para marcar o momento histórico, como as insígnias da JMJ esculpida na madeira.

“Tirei isto da cabeça, fiz o projeto por mim e deu certo”, revela. Usou as medidas padrão que costumam servir a todos, mas já se assegurou que assenta bem em Francisco. “Já estive a ver e o Papa cabe ali, outros padres vieram aqui, disseram-me que ele cabe e que é confortável para ele”, revela.

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

É a obra mais célebre de Carlos Moreira, que se habituou ao longo das cinco décadas de trabalho a fornecer peças para toda a região, nomeadamente para adornar edifícios públicos. Esta oportunidade veio depois de um grupo de padres do Porto lhe ter encomendado uma figura religiosa para uma igreja na cidade Invicta. Quando lhe vieram buscar o trabalho, em conversa, Carlos não se fez rogado. Já tinha a ideia na cabeça e lançou a proposta de fazer uma cadeira para a vinda do Papa a Portugal: “Eles disseram logo: ‘Ó senhor Carlos, se você tem essa ideia, arranque’”.

Foi no ano passado e não sossegou enquanto não terminou a peça. Demorou quase três meses, ia “fazendo lentamente”, porque isto não são peças “que se façam seguido”. Há que dar descanso aos músculos e à cabeça.

Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO
Foto: Paulo Jorge Magalhães / O MINHO

Ainda não tem um valor, até talvez possa ir oferecida, Carlos Moreira não está muito preocupado com isso. Ver a sua obra num dos altar-palco da JMJ “vai ser um grande orgulho” para o artesão da freguesia de Encourados.

Admite que este até seja o trabalho mais importante que já fez, mas, de trás da sua banca de trabalho, não desarma. “Mas, para mim, qualquer trabalho me dá satisfação”, confessa o homem de 66 anos.

A cadeira vai continuar bem guardada na oficina até que a venham buscar para o altar-palco do evento que decorre entre 01 e 06 de agosto. Depois de fazer história, Carlos Moreira não acredita que regresse a Barcelos. “Acho que quando o Papa vir esta cadeira que a vai levar para o Vaticano. Acho que vai gostar, porque é uma cadeira simples e como ele é um Papa também simples, vai gostar”, conclui.

 
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