O Estádio Municipal de Braga foi construído na encosta do monumento nacional “Castro Máximo”: um povoado brácaro, que mais tarde foi ocupado por romanos.
No decorrer da escavação do estádio, na zona Norte, foram encontradas 15 casas, dos séculos primeiros. Os arqueólogos do Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Braga (GACMB), que deveriam acompanhar a obra desde o início, só foram ao local porque o encarregado geral da escavação soou o alerta. As casas castrejas acabaram por ser destruídas, por opção política.
“A Câmara Municipal de Braga devia ter feito uma prospeção inicial no sítio do Castro Máximo, mas ninguém dos serviços da Câmara apareceu na obra. Eu, durante a escavação, enquanto caminhava, para trás e para a frente, fartei-me de encontrar fragmentos de cerâmica castrejos e romanos”, conta o encarregado geral da obra de escavação do estádio, Armando Maciel.
Segundo o empreiteiro, o acompanhamento arqueológico da construção do estádio estava definido no processo de licenciamento da obra e seria responsabilidade do GACMB.
“Até eu dar o alerta nunca apareceu nenhum arqueólogo da câmara”, explica o encarregado geral da obra.
“Enquanto fazíamos a escavação do estádio, apareceu um muro, que assemelhava ser de uma casa castreja. E sem obrigação, pois possuo alguns conhecimentos em história e património, mandei parar as máquinas e as escavadoras e, de imediato, telefonei para um amigo arqueólogo”, descreve Armando Maciel.
Tarcísio Maciel, arqueólogo conhecido de Armando Maciel, surgiu na obra e identificou de imediato o valor patrimonial do muro posto a descoberto pelas máquinas retroescavadoras. Ligou para os serviços da câmara, denunciando, num tom “impositivo e categórico”, a “negligência” que estava a ocorrer.
Os serviços de arqueologia, mediante a denúncia, aparecerem na obra e iniciaram uma escavação de emergência, que durou cerca de seis meses.
“Decorreram aproximadamente cinco meses de obra sem a presença de um único arqueólogo”, reforça o encarregado.
Outra fonte relacionada com a obra, que preferiu não ser identificada, revelou ainda a O MINHO que na semana seguinte, aquando da reunião entre empreiteiros e engenheiros da câmara, a preocupação dos técnicos camarários era “descobrir o bufo”, que havia alertado para a existência de vestígios arqueológicos na obra do estádio.
O GACMB escavou, durante seis meses, a área identificada e colocou a descoberto, segundo o empreiteiro e um ex-funcionário do GACMB, cerca de 15 casas castrejas, com influência romana. As casas foram fotografas, desenhadas e, após o GACMB documentar os vestígios, destruídas. O GACMB afirma, no entanto, que eram apenas quatro casas.
O arqueólogo Francisco Sande Lemos afirma que durante uma visita aos achados do estádio os responsáveis pela obra asseguravam ser “impossível adaptar o projeto de construção do estádio ao povoado encontrado no decorrer da obra, pois ficava localizado entre a bancada e o relvado”.
Atualmente, restam duas lareiras no Museu D. Diogo de Sousa, com o respetivo pavimento.
Esta versão dos acontecimentos foi confirmada, por um ex-funcionário dos serviços de arqueologia da Câmara de Braga, que acrescentou “quando lá chegamos [GACMB], já a obra ia avançada, com camiões por todos os lados, no sopé e na encosta do Castro Máximo”.
O gabinete de arqueologia da Câmara de Braga e o povoado castrejo do Estádio Municipal
“Entendendo os responsáveis políticos e técnicos gestores deste processo que a área de implementação do mesmo, não coincidia, total, ou parcialmente, com qualquer das manchas de proteção arqueológica e arquitetónica do Castro Máximo, ou sequer, com as inscritas nas cartas especificas do PDM então em vigor , o mesmo não colheu parecer prévio, quer nestes serviços de arqueologia municipal, quer nos órgãos competentes da administração central, pelo que, e consequentemente, não imperava sobre ele qualquer tipo de condicionante arqueológica e/ou arquitetónica”, afirmam os serviços de arqueologia da CMB, para justificar a ausência de técnicos de arqueologia, num local de Castro Máximo.
GACMB salienta, que os vestígios identificados, alguns já alvo de cortes, eram da Idade do Ferro e, que a obra de construção do estádio, na zona do povoado foi suspensa, de forma a poder realizar uma escavação arqueológica de emergência.
“Técnicos da Câmara Municipal, bem como, elementos ligados ao então IPAAR/ IPA, do Museu D. Diogo de Sousa e da Unidade de Arqueologia da Universidade, face às contingências impostas, quer pela localização das estruturas arqueológicas escavadas, no contexto do projeto de arquitetura em desenvolvimento, quer pelo estado avançado das obras em execução, foi decidido a remoção das mesmas, assim como, o levantamento, por técnicos do Museu D. Diogo de Sousa, de restos arqueológicos achados importantes para futuro estudo, conservação e exposição ao público”, acrescenta ainda o GACMB, sobre a finalidade dos achados arqueológicos.
O Castro Máximo e a DGPC
A informação prestada pelo site da Direção-Geral de Património e Cultura, sobre o monumento é a seguinte: “Glomerado proto-urbano. Povoado proto-histórico com ocupação romana. Povoado fortificado / castro correspondendo ao primeiro núcleo da cidade romana de Bracara Augusta. Apesar do grande número de achados e sondagens realizadas é difícil precisar a cronologia da ocupação deste sítio, a sua organização defensiva, ou mesmo considerar com rigor a época do seu abandono. No entanto, o facto deste povoado se localizar a menos de 1 km de Bracara Augusta confere-lhe grande importância para o conhecimento do povoado anterior à fundação da cidade romana”.
Na década de 1930, Carlos Teixeira descreve-o afirmando a existência de fossos, no lado virado à cidade, admitindo ainda que ele teria duas linhas de muralhas, embora nessa altura fosse já difícil seguir-lhes o traçado. Refere também, o aparecimento de vestígios de habitações circulares, em pedra. Actualmente, nenhuma destas estruturas pode ser identificada. As sondagens realizadas em 1976-78 pela Universidade do Minho permitiram apenas reconhecer um muro com a face externa aparelhada e um pavimento de barro batido.