Não há visita pascal de rio na terra de Variações. Mas as barcas emergem na mesma

Páscoa em Fiscal

A tradição é antiga, com mais de um século. Barcas especialmente construídas para levar os elementos e as cruzes da visita pascal na freguesia de Fiscal, em Amares, ficam submersas durante todo o ano, emergindo nesta altura durante alguns dias.

Este ano, face à chegada de uma pandemia nunca vista nesta geração, não haverá visita pascal, mas as barcas emergem na mesma, para serem contempladas e para secarem um pouco, até porque são de construção recente e convém não deteriorar.

O local de aparcamento submarino é o rio Homem, entre as margens de Fiscal, na fronteira com o concelho de Vila Verde. A tradição dita que os mordomos levem a cruz dentro de um barco, unindo as margens do leito.

Homenagem a pároco recentemente falecido marcou tradição pascal de Fiscal em Amares

“Esta era a única forma de unir a população da freguesia, por não existir ponte”, recorda o presidente da junta, Augusto Macedo, que lidera os 718 habitantes da freguesia, segundo apontam os últimos censos realizados em 2011.

Habitualmente, estes barcos são retirados da água uma semana antes da segunda-feira de Páscoa, altura em que se realizam as visitas nesta freguesia. “O padre tinha outras visitas e só podia fazer a nossa à segunda-feira”, conta Augusto, explicando o motivo da data atípica que virou tradição.

Foto: Paulo Jorge Magalhães/O MINHO (Arquivo 2019)

O truque para que estes estejam na água passa por impedir que a madeira de pinho manso, matéria-prima obrigatória para estas embarcações à moda antiga, venha a secar.

O autarca explica que se as barcas ficarem todo o ano fora de água, podem romper, sendo esta a única forma de as manter seguras.

Coladas com madeira e alcatrão, nas juntas, para além da madeira, apenas os pregos fazem parte da composição dos veículos, que têm uma duração de 15 anos.

E estas barcas, mandadas construir pela Junta, são recentes, feitas propositadamente para o compasso deste ano, boicotado pelo covid-19.

A inspiração das barcas vem do tempo em que se atravessava o rio Homem desta forma, com um barqueiro a coletar alguns escudos (ou reis) para poder passar carga e pessoas para a outra margem.

O barqueiro era, ao mesmo tempo, um moleiro, que cuidava das azenhas e dos moínhos da freguesia, para que não faltasse o pão. Entretanto, foi construída uma ponte, mas o povo continuou a utilizar as barcas “para chegar ao lado de lá”.

 
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