A travessia do Rio Homem, na freguesia de Fiscal, em Amares, ficou, este ano, emocionalmente marcada.
Foi a primeira vez que o padre Joaquim Costa, um dos principais impulsionadores e dinamizadores desta tradição não esteve presente por ter falecido recentemente e porque três dos cinco barcos fizeram a travessia pela última vez.
A homenagem simbólica a Joaquim Costa aconteceu, em pleno rio Homem, com o descerramento de um pequeno busto em sua homenagem. “Era o principal impulsionador desta tradição”, reconhece o presidente da Câmara de Amares.
Manuel Moreira revelou a O MINHO que, mais tarde, “iremos fazer uma homenagem formal” mas “não queríamos deixar passar o fato de ser a primeira Páscoa em que ele não está presente”. O busto foi uma oferta da freguesia corporizada pelos mordomos deste ano.
Barcos
Segundo o presidente da Junta de Fiscal, Augusto Macedo, disse a O MINHO, “no próximo ano, teremos três barcos totalmente novos” que começarão a ser construídos “no decorrer dos próximos meses”.
Esta era uma reivindicação antiga: as habituais embarcações e protagonistas da travessia já apresentavam “deficientes condições” o que poderia “trazer problemas de segurança”. Com o apoio da câmara, “no próximo ano, teremos três novas barcaças e no ano seguinte, as outras duas”.
A mordoma, este ano, é Maria do Sameiro Abreu, “filha de barqueiro”, que assume a tradição pela quarta vez: “como havia dificuldades em encontrar alguém, voltei a ficar eu” mas, como reconhece “isto dá muito trabalho”.
Desde Julho do ano passado que está a organizar a tradição que contou como “o apoio de familiares e amigos”.
Joaquim Costa
O padre Joaquim Costa era a ‘alma’ desta tradição. Era ele que todos os anos, batia, de porta em porta, à procura de mordomos quando “as coisas ficavam mais complicadas e não aparecia ninguém”.
A sua recente morte não “irá mudar em nada a tradição até porque ele não o iria querer”, refere Augusto Macedo. Nesta altura, é o padre da freguesia vizinha de Carrazedo que está a pastorear Fiscal.
“Como a Páscoa lá, também, é hoje, aliás há o tradicional encontro das duas freguesias no Monte do Pilar e o padre já se tinha comprometido com Carrazedo, ficou decidido que um ano acompanharia a Páscoa lá e no outro aqui em Fiscal”, revela ainda o presidente da Junta.
Por isso, a travessia de barco no Rio Homem, foi ‘comandada’ por um seminarista, vindo da Tanzânia, Joseph Malimbali Rodrick.
Tradição
Ao som dos foguetes e das campainhas, o compasso pascal atravessa o rio Homem. Milhares de pessoas juntam-se de novo nas margens para registarem uma tradição cujas origens ninguém conseguiu ainda precisar.
Embora uma ponte já ligue as duas partes da freguesia amarense há cerca de três décadas, o cortejo pascal continua a vencer o rio com o recurso a barcaças, unindo os lugares de S. Bento e da Pedreira.
Cinco pequenas embarcações foram, mais uma vez, resgatadas ao leito do rio, onde permanecem submersas durante todo o resto do tempo, para, decoradas com flores naturais, transportarem elementos do compasso pascal, fogueteiro, fotógrafos e a sempre requisitada Banda Musical de Cabreiros entre as margens direita e esquerda do Homem.
Um cerimonial que tem o mérito de arrancar palmas aos residentes e naturais de Fiscal, bem como aos muitos forasteiros que, na segunda-feira de Páscoa, se deslocam à Freguesia amarense também reconhecida como terra natal do músico António Variações.
O cortejo pascal encerra com o habitual com o ‘Encontro das Cruzes’, no final da tarde, junto ao marco miliário na Freguesia vizinha de Carrazedo, seguido de desfile até à capela de Santo António do Pilar.
Um momento musical protagonizado pelas bandas filarmónicas e uma sessão de fogo-de-artifício presentearam os presentes, terminada mais uma ‘visita’ do Cristo ressuscitado às casas de Fiscal.