Materiais de construção dão o mote para peça de teatro em Famalicão

Foto: Ivo Rainha

O Teatro da Didascália apresenta, de hoje a sábado, na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, a peça “O Vigilante Noturno”, que parte da exploração dramatúrgica de materiais de construção civil.

Com estreia marcada para hoje, pelas 21:30, “O Vigilante Noturno” é uma criação coletiva, com encenação de John Mowat e Bruno Martins no papel da personagem titular, em palco com Igor Gonçalves e Rui Souza, músicos que tomam conta do lado musical e sonoro da peça.

“Improvisámos, brincámos e explorámos uma grande variedade de materiais, e a peça passa-se num local de construção, seguindo um vigilante noturno que toma conta dos materiais, mas que tem sido muito cruel e abusivo com eles”, disse à Lusa o encenador, John Mowat.

A exploração do que poderia ser o novo espetáculo partiu “da escuta do que os materiais teriam a dizer, de madeiras a tijolos, e que provocações dariam”, acrescenta Bruno Martins, que refere o trabalho musical e sonoro que partiu, ele próprio, do contacto com o que se encontra numa obra, transformando essas coisas em interlocutores do próprio discurso.

“Há sons que partem dessa exploração, foram os objetos que nos foram guiando e dando estímulos para a criação da dramaturgia deste espetáculo”, acrescentou.

Depois da obra, chega o vigilante noturno, Bruno Martins, que “vigia a construção e cuja personalidade acaba por se moldar em função da rudeza dos próprios materiais, como os canos de esgoto, cascalho e baldes”, criando “um universo muito solitário, vigiando coisas inanimadas à noite”.

“Neste ofício muito solitário, cria um imaginário e constrói amigos e inimigos entre estes materiais, até mais inimigos do que amigos e há aqui também um jogo de uma certa dificuldade em lidar com eles”, explicou o criador, que considera que tanto o lado metafórico como o lado físico, da dificuldade com objetos muito grandes ou de difícil manejamento, estão presentes.

O espaço físico em que decorre a peça é alvo de mutações e revela a mistura entre teatro físico, manipulação de objetos e reflexão sobre o movimento que tem caracterizado a postura artística do Teatro da Didascália.

Quanto aos músicos, responsáveis tanto pelo lado musical como pelos próprios efeitos sonoros, estes são “uma parte largamente valiosa do processo e do espetáculo”, apontou John Mowat, e acabaram por se adaptar tanto à dramaturgia e ao trabalho de palco como estes processos o fizeram no sentido contrário.

“O Vigilante Noturno” é o segundo espetáculo de uma trilogia que arrancou com “One Man Alone”, apresentado em várias salas desde 2014 e também coproduzido pelo Teatro da Didascália e a Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, e que se dedica aos “materiais essenciais”.

“Há uma linha que segue a questão dos materiais essenciais. Na primeira peça, trabalhámos o pão, para a sobrevivência, desta vez os materiais de construção, para uma habitação, e depois seguir-se-á um outro, sobre o barro, que trabalhará algo que também achamos essencial, a arte”, descreveu Bruno Martins.

Depois de Famalicão, a peça estará em cena em abril no Cineteatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo, e na Moagem, no Fundão, passando ainda por Évora, em maio, Vila Real, em junho, e pelo Festival Internacional de Artes de Rua, em Palmela.

Em outubro arranca a digressão internacional do espetáculo, que estará em circulação no Brasil, em vários teatros da rede SESC, no Rio de Janeiro, antes de integrar, em dezembro, a programação do Festival Circumnavegando, em Génova, Itália.

 
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