Mais um vídeo, mais um ‘hit’. A recente publicação no Tiktok do padre Guilherme, natural de Guimarães e pároco na Póvoa de Varzim, atingiu o marco das 1,2 milhões de visualizações, tornando-se um dos vídeos virais da semana em Portugal.
No vídeo é possível ver uma dança com o pároco e cerca de uma dezena de acólitos ao som do dj Roger Sanchez, figura bastante conhecida da música eletrónica e do atual ‘tech house’ – considerado um dos melhores 20 DJ’s do mundo pela revista DJ Magazine -, estilo tão apreciado pelo sacerdote. Tanto o padre como os jovens estão com óculos de sol, enquanto apresentam uma coreografia ao estilo ‘tiktokiano’.
Em janeiro deste ano, o padre Guilherme tinha atingido a mesma marca com outro vídeo de uma dança na sacristia, desta vez na companhia de dois outros sacerdotes. Este sábado, esse vídeo conta com mais de 23 milhões de visualizações, quase o dobro da população portuguesa.
Nesse vídeo, ao som da viral Commando, do artista tanzaniano Mavokali, os três padres, vestidos com a túnica e de estola ao pescoço, seguiam a tendência das redes sociais com uma dança com movimentos simples, não deixando de lado o sinal da cruz, símbolo milenar do cristianismo. Tudo sempre dentro do ritmo.
Numa daquelas que já terá sido uma das arquidioceses mais conservadoras do país, notavelmente em mudança muito graças à recente entrada à cabeça do arcebispo José Cordeiro, também ele adepto da comunicação e evangelização através das redes sociais, o padre vimaranense parece ter ‘acertado’ novamente, dado que as reações são às centenas e só se vislumbram elogios.
A ‘performance’ na Jornada Mundial da Juventude, que se realizou no último verão em Lisboa, foi outro marco para o currículo artístico do padre Guilherme, que animou as hostes com um ‘sunrise’ de techno, em pleno altar onde depois foi celebrada a missa pelo Papa Francisco.
Inovação é conhecida há muitos anos
Mas a inovação de Guilherme já vem sendo conhecida desde há muito tempo, sem que se lhe conhecessem grandes entraves, muito pelo contrário. Em entrevista à Agência Ecclesia, datada de fevereiro de 2022, o pároco de Amorim e Laúndos é descrito como uma “presença habitual nas redes sociais, em programas de televisão e até em spots publicitários, onde se apresenta sempre com humor”.
Nessa publicação, o popularmente conhecido como “padre DJ” admite que as redes sociais apenas vieram difundir em maior escala aquilo que sempre fez “desde os tempos do seminário”, encarando o sacerdócio com “alegria e bom humor”.
Apesar disso, reconhece que tem tido bastante trabalho na utilização das redes, “porque é preciso produzir conteúdo”.
“Estar por estar, mais vale não fazer nada. Tem de se olhar para as redes sociais precisamente como mais um trabalho, que eu acho que é fantástico, faz-nos chegar a tanta gente que de outra forma não conseguiríamos, mas é um trabalho, e dá trabalho”, considerou.
Meo Sudoeste
Recorde-se que Guilherme Peixoto conseguiu a proeza de, no ano passado, ter sido o artista mais mencionado nas redes sociais durante o primeiro dia do Festival Meo Sudoeste, um dos maiores do país, onde atuou, uma marca que ficará para sempre na sua vida, nos registos insólitos da história da igreja católica contemporânea e, diga-se, ter um padre a ‘tocar’ techno num festival de verão (com tanto sucesso) é um marco na música portuguesa.
Mas não é só diversão. Atento ao papel do sacerdote na evangelização, também costuma transmitir em direto diversas cerimónias religiosas nas suas redes sociais e integra sempre elementos católicos em tudo o que faz, nunca esquecendo a palavra de amor da Igreja.
Na última passagem de ano, e com os símbolos da Jornada Mundial da Juventude ao lado, emprestou os seus serviços de DJ à diocese vizinha de Viana do Castelo, proporcionando uma festa de passagem inesquecível a centenas de jovens. E o cardápio foi light techno.
Vários padres usam as redes sociais com música e danças para evangelizar
Esta nova incursão de Guilherme nas danças virais não é algo novo para a religião católica romana, uma das mais conservadoras e das poucas no mundo onde os seus principais mensageiros não podem sequer casar. Um desses casos chega-nos de Indiana, nos Estados Unidos, onde o padre José Acevedo ‘explodiu’ de popularidade durante a pandemia graças aos vídeos engraçados com danças e músicas educacionais direcionadas aos seus alunos que se encontravam em modo “ensino em casa”.
Os párocos da Igreja de St. John, no Reino Unido, também um trio, utilizam as redes para pequenas danças, mas também para transmitirem “homilias em 60 segundos”, experimentando assim o conteúdo rápido, cada vez mais popular por entre os cibernautas.
A nível global, um dos vídeos de sacerdotes no TikTok com mais visualizações vem dos Estados Unidos e surge a propósito do popular desafio das redes sociais “o que vestir hoje”. Em vez das roupas tradicionais utilizadas neste tipo de desafio, o pároco faz uma ‘viagem’ de poucos segundos pelas diferentes túnicas e batinas, dando até a conhecer um pouco mais sobre a diversidade de vestimenta daquela que é a sua profissão vocacional.
A utilização das redes por parte de sacerdotes da Igreja Católica foi tema de debate nos Estados Unidos, com algumas críticas por se temer uma diminuição da credibilidade da instituição, mas na esmagadora maioria recolheu elogios, sendo uma forma de atrair católicos para praticarem ativamente a religião ou até para novas conversões.