O Tribunal Criminal de Braga tem marcado para a manhã desta segunda-feira o início do julgamento de três membros do Grupo do Fujacal acusados de tentativa de homicídio, por terem disparado contra rivais do Grupo das Enguardas, ao fim da tarde de 18 de março de 2021, depois de pintarem na parede “Fujacal” e rasurarem a inscrição “Enguardas Bronx”, durante uma sua atribulada deslocação a este bairro camarário da freguesia de São Victor.
Tal como O MINHO então noticiou, elementos do Grupo das Enguardas terão ripostado, com uma ida, poucos minutos depois, até à porta de casa de um dos rivais que os visitaram para fazer as pichagens, sendo que o tiroteio contra esta residência, em Nogueira, vai ser tratada noutro julgamento, dado que os processos foram separados, tendo em conta os prazos das prisões preventivas dos arguidos estarem a expirar e haver diversas situações.
Os três arguidos são suspeitos por se terem deslocado até ao Bairro das Enguardas só para causarem desacatos, tendo sido acusados de tentativas de homicídio contra os três irmãos, Andreia, Tiago e André, que moram no mesmo bloco onde foram realizadas as pichagens, levando a este primeiro dos julgamentos relacionados com os tiroteios, de parte a parte, que traduzem rivalidades antigas e exacerbadas a partir do momento em que uma jovem ligada ao Grupo das Enguardas passou a relacionar-se com um rival do Grupo do Fujacal.
Estão os três arguidos acusados de homicídio qualificado na forma tentada, enquanto um dos três membros do Grupo do Fujacal, Henrique Lima Marquês, é também acusado de ter atropelado propositadamente Andreia Araújo, na deslocação ao Bairro das Enguardas.
Um dos outros arguidos do Grupo do Fujacal, Rilker Richard Almeida, responde também por ameaças de morte, contra um agente da PSP, que participara na sua detenção, em outubro de 2020, quando o surpreendeu na posse de uma pistola, em Braga.
MP acusa por tentativa de homicídio
Na acusação do DIAP do Ministério Público de Braga, que é assinada pelo procurador da República, Ricardo Tomás, são imputados a todos eles a prática de um crime de homicídio qualificado na forma tentada e de um crime de detenção de arma proibida, sendo um outro acusado ainda de ofensa à integridade física qualificada (Henrique Lima Marquês) e um outro tem a acusação de ameaça agravada e de injúria agravada (Rilker Richard Almeida).
“O Ministério Público considerou indiciado, entre o mais, que na cidade de Braga existem dois grupos que mantêm entre si forte rivalidade, um ligado ao Bairro do Fujacal, do qual fazem parte os arguidos acusados, e outro ao Bairro das Enguardas (‘Enguardas Bronx’) e que esta rivalidade tocada pela tentativa de controlo territorial e afirmação de hegemonia de um grupo sobre o outro grupo, se vem traduzindo em episódios de violência, incluindo disparos de arma de fogo na via pública”, refere igualmente o procurador, Ricardo Tomás.
“Neste contexto, no dia 18 de março de 2021, pelas 19:30, os três arguidos e um outro quarto indivíduo não identificado, dirigiram-se de automóvel até ao Bairro da Enguardas, com intuito de causar desacatos”, como afirma o MP, referindo, ainda, que “ali chegados, dirigiram-se à parede de um prédio e nela inscreveram, com um spray de tinta, a palavra ‘Fujacal’, passando depois a rasurar a palavra ‘Enguardas’ que já lá se encontrava aposta”.
“Tendo-se gerado alvoroço entre os moradores do Bairro das Enguardas, que deram conta desta ação, os arguidos e o quarto indivíduo que os acompanhava, correram na direcção do automóvel em que se tinham transportado para fugir do local, virando-se no percurso e disparando na direcção das pessoas que os perseguiam, nomeadamente três irmãos; e quando estes irmãos se encontravam já junto do gradeamento que fica no limite do bairro, um dos arguidos efetuou na sua direcção quatro disparos de arma de fogo”, afirma o MP.
“Nenhum dos disparos atingiu quem quer que fosse, uma circunstância que o Ministério Público diz não se ter ficado a dever à vontade dos arguidos mas sim a um mero acaso, considerando ainda indiciado que uma das pessoas que haviam corrido atrás dos arguidos, uma mulher, se colocou na frente do veículo em que estes procuravam fugir, depois de os mesmos terem arrancado com velocidade, procurando impedir esta fuga; mas que o arguido que seguia ao volante, vendo-a na sua frente, não imobilizou a marcha, nem se desviou, continuou a conduzir com velocidade, embateu com a parte da frente do veículo no corpo desta pessoa e derrubou-a, prosseguindo o caminho”, acrescenta o DIAP do MP.
Arguidos dizem ter disparado para o ar
A versão da Defesa, a cargo do advogado bracarense Tiago Ferreira Freitas, nega qualquer tentativa de homicídio e que os três arguidos dispararam para o ar, caso contrário teriam sido atacados.
Na sua contestação, o mesmo advogado, em nome dos três arguidos, refere ter havido sim dois disparos, mas todos efetuados para o ar, para assustar um grupo de pessoas que ia na direção dos agora acusados, acrescentando que dada a pouca distância entre ambos os grupos contendores, se quisessem atingir qualquer dos residentes, teriam conseguido.
O defensor do “Grupo do Fujacal” nega ainda que Andreia Araújo tenha sido atropelada, afirmando que a jovem se tenha “atirado” contra o carro, só para tentar impedir a sua fuga, negando assim a intenção de atropelar, pelo condutor do carro, Henrique Lima Marquês.
Tiago Ferreira Freitas também nega as alegadas ameaças de Rilker Richard Almeida, que terá ameaçado “dar um tiro no meio da cabeça” a um agente da PSP, na madrugada de 17 de dezembro de 2020, polícia que já o tinha detido anteriormente, na posse de uma pistola.