Foda-se, a mota é linda não é a definição oficial do acrónimo FAMEL, mas foi essa a versão adotada pelos utilizadores da motorizada que dominou as vendas em Portugal durante os anos 70 e 80 do século passado.
Superada pelos protótipos estrangeiros, sobretudo japoneses da Honda e Yamaha, a mota ‘made in’ Águeda caiu nas vendas e na popularidade, deixando de ser vendida durante a década de 1990, levando a que a empresa encerrasse portas.

Mas, atualmente, a célebre mota do povo parece querer voltar aos stands de vendas, reinventada, com motor elétrico e uma disfunção no aspecto com que sempre a conhecemos.
Um dos responsáveis pela nova versão da Famel Zundapp, que deve começar a ser industrializada durante o ano de 2021, é Hélder Cação, um jovem designer natural e residente na freguesia de Valões, no extremo mais a Norte do concelho de Vila Verde.
Ali, a par do puro rio Vade, num enclave entre as montanhas de Ponte da Barca, o jovem de 25 anos recorda como ajudou a ressuscitar uma das marcas mais icónicas do universo luso, esperando que o seu design seja o utilizado no produto final, algo que ainda não está assegurado.


Licenciado em design de produto pela Universidade do Minho com mestrado em design pela Universidade de Aveiro, Hélder queria que o seu mestrado fosse concluído com um projeto relacionado com o mundo dos motores, ou não fosse um adepto de ralis.
Ao saber que o engenheiro Joel Sousa, também um jovem radicado em Aveiro, tinha adquirido a FAMEL, cuja sigla significa Fábrica de Produtos Metálicos, Lda, propôs investigar e desenvolver o desenho do novo modelo, 100% elétrico, da mota favorita dos nossos pais (e avós).

“Conversámos, disse-me que a marca devia ser eletrizada, algo que também concordei, e percebemos que estávamos alinhados para trabalhar juntos neste processo”, explica a O MINHO o jovem empreendedor, também fundador do Estúdio 812, sediado em Guimarães.
Cação pôs mãos à obra, com aconselhamento do também designer vila-verdense Francisco Providência, procurando um modelo que fosse disruptivo com o design conhecido das famosas XF-17, modelo mais vendido da marca.

Hélder conta que procurou desenvolver um produto que “rompesse com a tradição”, algo que considera “crítico”, porque a imagem que temos da FAMEL em Portugal é “quase intocável”. “Mas rompemos com o desenho e o projeto acabou por ser uma reflexão morfológica que ensaia a reabilitação da marca de outra forma, com vertente eletrizada”, explica.
Uma das principais características está no depósito do combustível, que se tornou obsoleto. “Como é uma motorizada elétrica, deixamos de ter o depósito obrigatório. Então, decidimos colocar no seu lugar uma mala (ou mochila) que pode ser retirada, deixando aquele espaço vazio, ficando mais próximo de uma scooter”, conta.

Atualmente, Hélder dedica-se a outros projetos através do estúdio que possui em Guimarães, mas continua atento às novidades da FAMEL, contando que, o mais tardar durante 2021 ou inícios de 2022, o protótipo possa tornar-se numa primeira versão da motorizada.
O designer reclama “orgulho” por ter participado neste projeto, afiançando que o objetivo a que se propôs “foi cumprido com sucesso”. “Acho importante associar o design à indústria nacional, porque existem outros ícones que deviam ser explorados, como a Casal ou a UMM”.

Porque não criar uma associação de empresas que reabilitam as marcas mais icónicas do século passado, sugere Cação, em jeito de remate da conversa.

Sem barulho no escape
Joel Sousa é o principal mentor por detrás da ressureição da marca FAMEL. O engenheiro comprou a marca de Águeda, mas explica que nos dias de hoje o fumo e ruído característicos das antigas motorizadas não são permitidos por imposições legais.
“Numa visão alargada a longo-prazo, a nova Famel com motorização elétrica é o produto com maior potencial de desenvolvimento utilizando novas tecnologias emergentes oferecendo um novo conceito de mobilidade ao utilizador, e facilitando o trânsito nas cidades”, explica.

“Após apresentação do protótipo o projeto passa a uma fase intermédia de desenvolvimento de negócio e captação de investimento para preparar a industrialização e comercialização”, assegura o proprietário da marca.
Projeto Famel ZX 01
O projeto FAMEL ZX 01 foi desenvolvido em parceria com a marca, enquanto proposta da sua própria reabilitação, usufruindo do atual paradigma de motorização elétrica.
O produto é definido por uma linguagem sintática, de desenho disruptivo e centrado no seu significado mais funcional.
Das várias características que definem o veículo destaca-se a sua modularidade, proporcionada pela mochila/mala que substitui o anterior depósito – obsoleto neste tipo de motorização.
Esta caraterística surge da intenção de desenhar um veículo capaz de corresponder aos requisitos do maior número de públicos.
Equipa principal
Helder Cação (design)
Joel Sousa – FAMEL (engenharia)
Francisco Providência (orientação – design)
Samuel Ribeiro – IDEGUI (apoio à prototipagem)