O homem que em janeiro deste ano disparou com uma espingarda caçadeira contra um grupo de jovens por defenderem a sua ex-namorada que fugia de si, em Martim, Barcelos, assumiu a autoria dos factos, só que negando intenção de matar.
Hélder S., de 42 anos, solteiro, natural de Braga e residente em Barcelos, começou esta quarta-feira a ser julgado na Instância Central Criminal de Braga, sob acusação de tentativa de homicídio, assalto à mão armada e dano.
Tal como O MINHO então reportou, Hélder S. não se conformava com o fim unilateral da sua relação com a ex-namorada, que terá perseguido quando a ex-companheira seguia de táxi, abordando-a numa estação de serviço em Martim, Barcelos.
Os factos foram cometidos na noite de 10 de janeiro de 2022, quando segundo a acusação do Ministério Público, Hélder terá procurado impedir a antiga namorada de fechar a porta do táxi, quando entrava, após levantar dinheiro do multibanco.
Hélder S. não gostou que o taxista tivesse defendido a cliente e andaram ambos pelo chão, até que um grupo de jovens, presenciando o caso, foi em socorro do condutor do táxi e abrigou o agressor a ir embora, o que este também não gostou.
Seguidamente, Hélder S., natural de Priscos, em Braga, agora em prisão preventiva, foi a casa buscar uma caçadeira para se desforrar do grupo, disparando na direção dos jovens, pelo que o funcionário da estação de serviço encerrou as grades.
No entanto, Ricardo A. foi gravemente atingido com um disparo na zona do tórax, tendo sido operado de urgência do Hospital de Braga, mas segundo declarou na primeira sessão do julgamento, ainda hoje tem sequelas dos ferimentos.
Um dos seus alvos, Ricardo A., revelou aos magistrados “que ainda hoje tenho chumbos dentro do corpo, eu sofro dores, especialmente com as mudanças súbitas de temperatura, nunca mais podendo esquecer tudo aquilo que se passou”.
Hélder S. manifestou arrependimento pelos factos que confessou, traduzindo-se nas indemnizações já pagas a todos os lesados, pelos danos físicos e psíquicos na vítima, mais os prejuízos materiais causados nas instalações.
O arguido fez uma confissão parcial dos factos pelos quais é acusado, pois além de negar que tivesse intenção de matar alguém, afirmou que nem sequer pretendia disparar, apesar de reconhecer que antes de chegar ao local municiou a arma.
“Não tinha intenção de disparar a caçadeira, não estou habituado a usar armas, tinha-a herdado do meu avô, o disparo foi acidental, foi um único tiro, mas a arma deu um ‘soco’ para cima, ao ter apontado, quando me chamaram filho da puta”, referiu Hélder S., alegando que “o meu objetivo era só mostrar a esse grupo que estavam errados quando me sovaram”.
Hélder S. disse que “nunca tive problemas com a justiça”, argumentando que os incidentes em Martim tiveram a ver por eu não compreender porque razão a minha ex-companheira não queria ir comigo, dentro do carro, preferindo ir de táxi”.
Ambos tinham estado num café em Areias de Vilar, perto de Martim, também em Barcelos, mas a dada ocasião a mulher, com cerca de 40 anos, resolveu seguir o seu caminho sozinha, tendo apanhado um táxi, o que desagradou ao ex-namorado.
“Eu tentei falar com ela na bomba de gasolina em Martim”, segundo afirmou Hélder S. na audiência, desmentindo que “a abordagem tenha sido brusca”, ao contrário do que afirmam quer a vítima da perseguição, quer todas as testemunhas.
Depois de ter disparado, Hélder S. fugiu no seu automóvel, refugiando-se num hotel da Póvoa de Lanhoso, mas durante o caminho assaltou à mão armada a estação de serviço da Repsol, em Ferreiros, Braga, roubando 400 euros e raspadinhas.
Sobre esta segunda parte da acusação, o arguido disse que a motivação do roubo “foi arranjar dinheiro para me hospedar no hotel, onde me pretendia esconder e barricar”, tendo sido detido, pouco tempo depois, pela Polícia Judiciária de Braga.